Admiração e reconhecimento não vêm apenas de Ribeirão Preto e nem de agora. Para o poeta Décio Pignatari (1927-2012), Gilberto Mendes foi “o milagre da música contemporânea brasileira”. Olivier Toni (1926-2017), professor tornado colega de departamento, disse a seu respeito que Mendes foi capaz de unir “de uma forma magistral o vulgar ao erudito tornando os dois reunidos uma forma nova de erudição”. O compositor Rodolfo Coelho de Souza o considera “o grande introdutor do minimalismo no Brasil”.
Apesar dos elogios – que ouviu bastante em vida – Mendes manteve sempre aquele tipo de humildade que apenas engrandece o talento. Registrou na autobiografia Uma odisseia musical, sua tese de doutorado transformada em livro, que fazia música para merecer ouvir os clássicos e ser reconhecido, lá do céu, pelos mestres.
Fez isso através de trabalhos provocativos, questionadores e inovadores. Investigou a teatralidade da performance musical colocando um maestro para cabecear uma bola de futebol e aplicar um cartão vermelho em Santos Football Music e outro para dançar com uma violinista e duelar com um músico em O Último Tango em Vila Parisi. Ousou um solo de arroto em Beba Coca-Cola e estruturou obras aleatórias nas quais os artistas escolhiam os rumos da peça a partir de instruções meticulosas. Com suas referências e citações, aproximou-se da pop art.
Mas também antecipou a bossa nova com seus trabalhos dos anos 1950, iluminados por sua admiração pelo compositor francês Gabriel Fauré (1845-1924). E, nos últimos anos de vida, reafirmou o valor dos clássicos quando assinou, junto de Rubens Russomanno Ricciardi e Lucas Eduardo da Silva Galon, o manifesto do 48º Festival Música Nova, em 2012: “O Festival Música Nova permanece experimental, porque entende que nossos tempos são dos sistemas abertos, bem como dos diálogos entre os sistemas.”
Dos títulos que reuniu, destacam-se o de membro honorário da Academia Brasileira de Música e o de Comendador da Ordem do Mérito Cultural, recebido em 2004.
“Do ponto de vista da invenção, Gilberto Mendes foi o maior compositor da USP no século 20”, pontua Rubens Russomanno Ricciardi.