
Árvores, lagos e casas povoam a arte de Francisco Rebolo. O pintor liderou a associação de artistas Grupo Santa Helena e é classificado como integrante da segunda geração modernista. Parte do que produziu durante as décadas de 1960 e 1970 pode ser vista na exposição A Gravura de Francisco Rebolo, em cartaz na Galeria Gravura Brasileira, em São Paulo, até 17 de junho.

A última vez em que as gravuras de Rebolo foram exibidas para o público foi em 2004. Na ocasião, Lisbeth Rebollo, professora da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e filha de Francisco Rebolo, selecionou 60 obras então inéditas. Agora, Sergio Rebollo, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Integração da América Latina (Prolam) da USP e curador da mostra, escolheu 88 gravuras para celebrar os 120 anos do nascimento do pintor. “A exposição é uma forma de manter a história viva, solidificar pautas humanas e destacar as contribuições para o universo da arte”, afirma Sergio Rebollo, que é também neto de Rebolo.
O curador destaca que a gravura deve ser reconhecida como uma obra por si. “Muitas vezes as pessoas interpretam a gravura como uma ferramenta do artista para o desenvolvimento da pintura ou uma ‘escada’ para um trabalho final, mas Rebolo fazia gravuras por gosto”, pontua.
Dois dos temas predominantes na obra do artista orientaram a seleção. Primeiro, a preservação do ambiente e, segundo, o respeito pela figura humana. “Rebolo é um artista genuinamente ligado à comunhão com a natureza e à questão da equidade. Ele bate nessas teclas desde 1936 e elas continuam sendo atuais”, diz Sergio Rebollo.
Os temas retratados por Rebolo em sua arte têm profunda relação com sua vida. Ele foi aglutinador de iniciativas de acesso à arte, e o pensamento coletivo sempre esteve presente em sua trajetória, como jogador de futebol e participante da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo. Além disso, o curador ressalta: “Rebolo, como imigrante, convive com a diferença e percebe o valor dela para a humanidade”.
“Se ele estivesse vivo, estaria trabalhando para as boas causas da humanidade e, de fato, ele está vivo pela obra e pelas ideias que expressou”, diz o curador.
Na década de 1940, o artista foi viver no bairro do Morumbi, na zona oeste da capital paulista. “Ele começava a traçar o caminho para se tornar um dos maiores paisagistas da arte brasileira”, conta o curador. Arvoredo, de 1975, é uma das obras que mostram como as paisagens eram uma grande fonte de inspiração de Rebolo. “Ele viveu na paisagem, admirando-a e respeitando-a, e, mesmo tendo sido criada na década de 1970, a tela traz um dos temas mais importantes da atualidade da nossa sociedade.”

Segundo o curador, a obra Futebol, de 1936, pode ser vista na exposição e exemplifica a preocupação com temas sociais. Na tela, Rebolo se representa no papel de um jogador do Corinthians disputando a bola com um jogador negro. “É uma das obras mais importantes do pintor e uma crítica ao grande preconceito existente no futebol daquela época”, explica. Arvoredo e Futebol não são gravuras, mas integram a exposição. Unidades de ambas foram impressas com assinatura gráfica, em edições únicas e limitadas.
A exposição A Gravura de Francisco Rebolo está em cartaz na Galeria Gravura Brasileira (Rua Ásia, 219, Cerqueira César, São Paulo) até 17 de junho, de segunda-feira a sábado, das 14 às 16 horas. Entrada grátis.