Segundo Palante, é preciso distinguir individualismo – que é um dos traços que se aplicaria a Pessoa – do egoísmo vulgar. Nos egoístas, encontra-se uma sensibilidade grosseira, arrivista e adaptada para atingir seus objetivos. Já a tendência do individualista é dobrar-se sobre si mesmo ao constatar que suas necessidades íntimas são anuladas pela energia coletiva. Se o egoísta é um homem de ação, diz Gagliardi, o individualista é um estático.
“Refugiado, portanto, em seu ceticismo e diletantismo sociais, o individualista cultiva a exceção e se define por oposição à mentalidade corporativa e solidarista, que ele toma por insincera, ou, como dirá Palante, solidarité de façade (solidariedade de fachada)”, explica o professor. “Em contrapartida, a ironia é uma atitude aristocrática, individualista e, decerto, uma forma de escapar às armadilhas do sentimentalismo. O sorriso irônico é a superação do riso como manifestação meramente social. A ironia é filha da dor e da inteligência. O olhar de Pessoa, dirigido do alto sobre todas as coisas, o qual Bernardo Soares designou como ‘aristocracia da individualidade’, é uma atitude essencialmente estética e intelectual”, finaliza Gagliardi.
Fernando Pessoa Ironista, de Caio Gagliardi, Editora da USP (Edusp), 176 páginas, R$ 48,00.
*Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado