Escritora portuguesa Joana Bértholo participa de bate-papo na USP

Encontro será nesta quinta-feira, dia 7, às 14 horas, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas

 05/07/2022 - Publicado há 2 anos

Texto: Mariana Carneiro

Arte: Guilherme Castro

Nesta quinta-feira, dia 7, às 14 horas, o grupo de pesquisa Colonialismo e Pós-Colonialismo em Português, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, receberá a escritora portuguesa Joana Bértholo para uma conversa presencial na FFLCH. Esse será o terceiro e último evento de uma série de palestras organizadas com a editora Dublinense, que convidou alguns autores internacionais de seu catálogo para bate-papos sobre suas produções literárias, processos criativos e aprendizados ao longo de suas carreiras. Além de Joana, o português Luís Peixoto e a moçambicana Paulina Chiziane participaram dos eventos. 

“Esse ciclo de conversas foi possível graças à vinda dos escritores à 26° Bienal do Livro”, diz Penélope Salles, participante do grupo de pesquisa e organizadora das palestras. Como forma de celebrar a efeméride de 200 anos da Independência do Brasil, a atual edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo conta com uma homenagem à literatura em língua portuguesa. Mais de 30 autores internacionais participam do evento, que recebeu também o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, no dia 3, domingo. 

“Depois de tanto tempo sem eventos presenciais, o público estava ávido por conhecer e ouvir os autores de perto”, conta a organizadora. “Isso ficou nítido nos últimos encontros que tivemos, ao ver a interação do público com o Luís Peixoto e com a Paulina Chiziane. Boa parte da plateia se emocionou com a presença deles. Alguns participantes, inclusive, fizeram relatos comoventes sobre a influência dos autores em suas vidas. E, claro, aproveitaram a oportunidade para conversar, pegar autógrafos e tirar fotos.”

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Imagem de divulgação do evento - Foto: Divulgação/FFLCH

Penélope pontua que, apesar de não ser tão conhecida pelo público brasileiro, Joana é uma das escritoras mais inventivas da nova geração, e o grupo de pesquisa tem grandes expectativas para o bate-papo com a autora.

Em entrevista ao Jornal da USP, de Lisboa, Joana revela que essa será sua primeira visita ao Brasil e diz estar entusiasmada: “Toda a vida quis visitar o Brasil, tão presente na minha infância e juventude através das telenovelas, do cinema, dos seus escritores e escritoras e da sua música”. 

“A literatura brasileira tem muitos nomes de destaque na estante onde armazeno as memórias literárias — Clarice Lispector, Manoel de Barros, Machado de Assis, Paulo Leminski e Haroldo de Campos, só para dizer uns quantos, porque são tantos. É difícil reconhecer todas as influências, até porque tanto se passa a nível subconsciente no processo criativo”, conta a escritora, que diz também buscar inspiração nas obras do francês Georges Perec e do italiano Italo Calvino. Joana nasceu em Lisboa, onde atualmente reside, mas passou cerca de uma década fora de sua cidade natal, período no qual viveu em diferentes países europeus e também sul-americanos — entre eles, a Alemanha, a Holanda e a Argentina. 

Penélope Salles - Foto: Reprodução/Instagram

Há poucos meses, a editora Dublinense trouxe com exclusividade ao público brasileiro o livro Ecologia, romance de Joana publicado originalmente há quatro anos, em Portugal. Nele, a autora se debruça sobre a possibilidade distópica de a linguagem ser privatizada. A obra descreve um futuro tomado por megacorporações, que se sobrepõem ao poder dos governos e, motivadas pelo lucro, passam a cobrar pelo uso das palavras. Ecologia foi finalista de importantes prêmios literários em Portugal e semifinalista do Prêmio Oceanos de Literatura em Língua Portuguesa, um dos mais importantes avaliadores da literatura lusófona. 

 

“Esse livro saiu dois anos antes da pandemia, e já estava em curso de muitas formas o uso do medo, da insegurança, da precariedade, para a instalação de estados de exceção, que depois se tornam permanentes”, diz Joana. “A experiência pandêmica — que terá sido muito diferente em Portugal e no Brasil, mas em muitos aspectos foi global — veio oferecer novas leituras dos excertos que falam justamente disso: da suspensão das liberdades individuais em nome da saúde ou da segurança. A pandemia alterou completamente os horizontes do possível. Todos nós dissemos em algum momento que parecia que estávamos a viver um filme, até mesmo uma distopia, dado o caráter inverossímil do que aconteceu. E o meu romance, que tinha a sua proposta inverossímil, tornou-se por consequência muito mais possível.”

“Em relação à liberdade de expressão, há fenômenos em curso que não se prendem com a pandemia, mas com as redes sociais. Temos assistido à polarização dos grupos sociais, à agudização dos conflitos, em grande parte promovidos pela forma como as pessoas se expressam on-line — e pela forma como os algoritmos funcionam, censurando ou exagerando vozes. Também há um intenso policiamento da linguagem, o politicamente correto. Tudo isso tem estado em jogo com bastante intensidade desde 2018. Agora, também acredito que a linguagem é essa arena. Sim, faz falta estar atento, claro, mas adianta pouco higienizar a fala, querer que tudo seja harmonioso e equilibrado num mundo que está longe de o ser”, completa a autora.

A conversa com Joana Bértholo acontecerá nesta quinta-feira, dia 7, às 14 horas, na sala 261 do Prédio de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP (Avenida Professor Luciano Gualberto, 403, Cidade Universitária, em São Paulo). Grátis. Haverá emissão de certificado aos participantes. Mais informações estão disponíveis no site do evento (clique aqui).


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