“Esse livro saiu dois anos antes da pandemia, e já estava em curso de muitas formas o uso do medo, da insegurança, da precariedade, para a instalação de estados de exceção, que depois se tornam permanentes”, diz Joana. “A experiência pandêmica — que terá sido muito diferente em Portugal e no Brasil, mas em muitos aspectos foi global — veio oferecer novas leituras dos excertos que falam justamente disso: da suspensão das liberdades individuais em nome da saúde ou da segurança. A pandemia alterou completamente os horizontes do possível. Todos nós dissemos em algum momento que parecia que estávamos a viver um filme, até mesmo uma distopia, dado o caráter inverossímil do que aconteceu. E o meu romance, que tinha a sua proposta inverossímil, tornou-se por consequência muito mais possível.”
“Em relação à liberdade de expressão, há fenômenos em curso que não se prendem com a pandemia, mas com as redes sociais. Temos assistido à polarização dos grupos sociais, à agudização dos conflitos, em grande parte promovidos pela forma como as pessoas se expressam on-line — e pela forma como os algoritmos funcionam, censurando ou exagerando vozes. Também há um intenso policiamento da linguagem, o politicamente correto. Tudo isso tem estado em jogo com bastante intensidade desde 2018. Agora, também acredito que a linguagem é essa arena. Sim, faz falta estar atento, claro, mas adianta pouco higienizar a fala, querer que tudo seja harmonioso e equilibrado num mundo que está longe de o ser”, completa a autora.
A conversa com Joana Bértholo acontecerá nesta quinta-feira, dia 7, às 14 horas, na sala 261 do Prédio de Letras da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP (Avenida Professor Luciano Gualberto, 403, Cidade Universitária, em São Paulo). Grátis. Haverá emissão de certificado aos participantes. Mais informações estão disponíveis no site do evento (clique aqui).