Da pixação à realidade aumentada, alunos de Artes Visuais da USP mostram sua arte

Exposição gratuita Laboratório do Semestre fica em cartaz até 2 de agosto no Espaço das Artes, na Cidade Universitária

 Publicado: 17/07/2024     Atualizado: 19/07/2024 as 14:20

Texto: Alícia Matsuda*

Arte: Joyce Tenório**

Nas enquetes propostas pelo QR Code feito por alunos da USP, o próprio panfleto é questionado como arte – Fotos: Cecília Bastos/USP Imagens

“Isto é arte?” Na fila do Bandejão Central da USP, nos pontos de ônibus ou nos bancos, depara-se com essa pergunta, que foi espalhada pela Cidade Universitária em cartazes com um QR Code. Ao acessar o site direcionado pelo código, enquetes questionam o valor artístico de uma série de manifestações encontradas no campus, de banheiros grafitados a esculturas laureadas. Feita por estudantes do curso de Artes Visuais da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, a pesquisa é fruto da disciplina Multimídia e Intermídia I e está exposta no Espaço das Artes, na Cidade Universitária, ao lado das obras de outros alunos do Departamento de Artes Plásticas da ECA. A interação virtual é apenas uma das inovações abrigadas na mostra anual Laboratório do Semestre, que recebe visitantes gratuitamente até 2 de agosto.

Desde a primeira edição, em 2017, a mostra reúne peças desenvolvidas pelos alunos no decorrer das disciplinas práticas da ECA. Na montagem deste semestre, porém, é a intervenção do coletivo USPixo, formado por alunos de diferentes cursos e unidades da USP, que se destaca no salão principal. Reivindicando a presença da expressão urbana, a maior parede branca do museu foi, pela primeira vez, coberta por bombs coloridos. “Infelizmente, por falta de divulgação, o Espaço das Artes acabou ficando muito restrito aos cursos de artes, mas nós, do USPixo, estamos na função para democratizar esse espaço”, destaca o coletivo em texto publicado nas redes sociais.

Feito por uma aluna, o mapa no folheto da exposição destaca detalhes das obras – Arte gráfica: Marina Taddei

Transfigurar a arte das ruas para dentro do museu foi uma ação dos estudantes Carlos Bossolan (Boss), Angela Chiquetto (Negrita), Júlio Cesar, Beatriz Antunes (Bibica), Maria Antonieta Falcão e Oliver Muniz (Cyber). Ocupar o ambiente acadêmico não é o objetivo dos pixadores, mas não deixa de ser uma grata conquista. “Apesar de toda a discussão sobre o quão proveitosa pode ser a inserção do pixo no contexto da arte contemporânea, eu acho que é minimamente notável e necessário esse refresco no Departamento de Artes Plásticas e no Laboratório do Semestre”, reconhece o estudante Pedro Becker, da ECA, que participou da estruturação da mostra. “Nessa magnitude, é um espaço que só o pixo consegue ocupar.”

Para esses artistas, terminar uma pintura não significa ter cumprido a tarefa: os alunos tornam a exposição possível ao montar, também, a iluminação do espaço, a instalação das obras, a disposição nas salas e mais. Parte do projeto é fazer o artista pensar na forma em que sua obra será exibida e quais diálogos serão criados a partir dela. “É uma oportunidade de expandir o que é o trabalho artístico para além da produção”, diz Becker. “E assim a gente começa a pensar em quebrar as normas de montagem que já estão aí há uns 200 anos, [como posicionar quadros] a um metro e meio à altura do olho — eu acho que o maior potencial é dessa experimentação.”

Com apoio dos professores Dora Longo Bahia, Mario Ramiro e Lucia Koch, a exposição sintetiza a trajetória artística dos alunos até o momento atual da graduação. “O Laboratório do Semestre contempla várias propostas dos alunos da graduação, incluindo poéticas próprias e também propostas de disciplina”, explica o estudante Vinícius Okamura, um dos artistas participantes da mostra. Em suas peças, Okamura usou as novas técnicas aprendidas na ECA, sempre mantendo acenos à sua origem. Fotografias reveladas em acetato e cianotipia, por exemplo, revelam o caminho até sua casa, no ABC Paulista, enquanto as figuras anatômicas pintadas em kraft com sumiê remontam poses de seus amigos e familiares.

"Tem a pessoa que anda olhando para cima -- o artista viajador -- eu ando olhando para baixo", explica Cacau, que usa materiais encontrados na rua em suas obras - Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

No início deste mês, convidados dos artistas ocuparam o Espaço das Artes para prestigiar as performances realizadas na noite de abertura da exposição. Além do bar organizado pelos alunos, peças como cerâmicas e xilogravuras feitas por eles estavam à venda. “A gente vive na era das exposições. Essa é uma das coisas mais importantes para uma pessoa que entra no curso de artes”, afirma a estudante Marina Taddei, membro da organização da exposição.  No evento, os visitantes puderam presenciar e até participar da mostra, em especial devido às performances; uma luta livre aberta, por exemplo, foi idealizada pela aluna Clara Moreno, que abriu um ringue com materiais de construção no meio do museu: “Por 40 minutos, ela ficou no ringue sem parar, batendo em gente adoidado, e ganhou de todo mundo, saindo com um cinturão de ouro”, conta a artista e educadora Cacau.

Após compor outras edições da mostra, Cacau relembra a importância do Laboratório do Semestre em sua graduação: “Foi a primeira vez que eu me senti artista. A minha primeira obra de arte, eu considero ter sido aqui”. Antes mesmo da mostra estar aberta ao público, o Espaço das Artes recebeu visitantes da Escola de Aplicação da USP. De acordo com a faixa etária, crianças e adolescentes participaram de atividades e conversas intermediadas pelo coletivo Matizes, formado por discentes da licenciatura. Assim, os jovens exploraram as possibilidades oferecidas pelo curso de Artes Visuais, desde o conteúdo aprendido em sala de aula até a prova de habilidades específicas requerida na Fuvest.

A exposição Laboratório do Semestre fica em cartaz até 2 de agosto, de segunda a sexta-feira, das 9h às 20h, no Espaço das Artes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP (Rua da Praça do Relógio, 160, Cidade Universitária, São Paulo). Entrada grátis.

*Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro 
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado


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