Congresso vai mostrar as origens do antissemitismo contemporâneo

Com presença de Celso Lafer e Maria Luiza Tucci Carneiro, evento acontece entre 24 e 27 de setembro, na Cidade Universitária

 19/09/2024 - Publicado há 3 meses
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A estrela de Davi.
Fotomontagem Jornal da USP com imagens de: Divulgação/Centro de Estudos Judaicos (CEJ USP); Zscout370/Wikimedia Commons/Domínio público; kues1/Freepik

Em 2024, houve 886 denúncias de ofensas antissemitas feitas no Brasil à comunidade judaica, de acordo com o Relatório de Antissemitismo no Brasil, elaborado pela Confederação Israelita do Brasil (Conib) e pela Federação Israelita do Estado de São Paulo (Fisesp). Esse é um dos dados que serão discutidos no Congresso Internacional Antissemitismo: a Construção do Ódio no Tempo Presente, que acontece de 24 a 27 de setembro, na Casa de Cultura Japonesa, na Cidade Universitária, em São Paulo. O evento é promovido pelo Centro de Estudos Judaicos da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. A entrada é grátis.

A conferência de abertura do congresso, no dia 24, às 14h30, será proferida pelo professor Celso Lafer, da Faculdade de Direito, que falará sobre Antissemitismo, um Tema Recorrente: Variações e Reflexões. A professora Maria Luiza Tucci Carneiro, do Departamento de História da FFLCH, que tem a temática judaica como uma de suas especialidades, fará a coordenação da mesa intitulada Pureza de Sangue: a Construção da Teoria Racial e do Antissemitismo. O encontro terá conferência do professor Meir Litvak, da Universidade de Tel Aviv, em Israel, e participação do professor Emmanuel Kahan, da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina. Especialistas ligados a diferentes universidades do Brasil também estarão no evento.

“Nosso intuito, do ponto de vista acadêmico, é criar uma base de conhecimento de forma holística através de diferentes eixos temáticos e, a partir disso, propor uma reflexão sobre o problema e maneiras de solucioná-lo”, explica a professora Suzana Chwarts, do Departamento de Letras Orientais da FFLCH, uma das organizadoras do congresso. “Estimular o conhecimento e o espírito de senso crítico já é um ganho enorme para esse congresso”, completa.

Mulher loira.
A professora Suzana Chwarts – Foto: Reprodução/Ibab/Facebook

Suzana Chwarts destaca a importância pedagógica de esse tema ganhar relevância entre os acadêmicos da Universidade, mas também entre alunos interessados e o público externo. “Os judeus foram expostos a séculos de preconceito, construção de estereótipos e fabricação de mitos. E não é só na esfera das ideias, mas também na prática: conversões forçadas, massacres, pogroms, Holocausto… Na história da diáspora judaica, são séculos de tentativa de extermínio do povo judeu e da sua identidade”, reitera a professora.

Para a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, a importância do colóquio internacional está na atualidade do tema e, ao mesmo tempo, na necessidade de conscientizar a sociedade brasileira, e mais especificamente a comunidade acadêmica, de que o antissemitismo é crime de racismo. “O fato de termos uma legislação que reconhece o antissemitismo como uma forma de racismo e que, ao mesmo tempo, equipara o crime de injúria racial ao de racismo, tornando-o inafiançável e imprescritível, não quer dizer que a sociedade brasileira está imune às pregações dos discursos de ódio e atos de fanatismo contra as minorias mais vulneráveis”, destaca a professora. “Ainda hoje, em pleno século 21, a sociedade em geral e o Estado brasileiro não aprenderam a lidar com as suas diferenças, considerando que o ódio contra os judeus, pretos, pardos, ciganos e indígenas deve ser analisado sob o viés da história das mentalidades, por estar enraizado na mentalidade e na organização da sociedade brasileira, interferindo nas relações institucionais, econômicas, culturais e políticas. Se recuarmos no tempo e no espaço em busca das raízes desse ódio aos judeus, constataremos que ocorreram alterações na linguagem que compõe o atual discurso antissemita em circulação.”

Mulher com xale.
A professora Maria Luiza Tucci Carneiro – Foto: Divulgação/FFLCH

Tucci Carneiro chama a atenção para o crescimento de manifestações antissemitas no Brasil e para a politização desse discurso. “Consideramos como um sinal de alerta o fato de as manifestações antissemitas terem crescido 800% no Brasil, após os ataques do grupo terrorista Hamas contra Israel, em outubro de 2023. Fica evidente que a mudança nas relações de forças sociais e políticas entre Israel e Hamas politizam o discurso antissemita, gerando ambiguidades e tensões.

Para Tucci, o enfrentamento dos discursos de ódio necessita, cada vez mais, de políticas públicas de educação em direitos humanos. “A educação que enfrente o antissemitismo deve ser de natureza permanente, continuada e global, voltada para a mudança de mentalidade”, considera a professora. “É importante atingir mentes e corações, e não apenas instrução, meramente transmissora de conhecimentos.”

O Congresso Internacional Antissemitismo: a Construção do Ódio no Tempo Presente, promovido pelo Centro de Estudos Judaicos da USP, acontece entre 24 e 27 de setembro, na Casa de Cultura Japonesa (Avenida Professor Lineu Prestes, 159, Cidade Universitária, em São Paulo). Entrada grátis. Mais informações e a programação completa estão disponíveis no site do evento.

*Colaboração de Marcos Santos

Vários quadros com inscrições dentro.
Foto: Divulgação/Centro de Estudos Judaicos (CEJ USP)

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