O Teatro da Universidade de São Paulo (Tusp) abre, no dia 10 de outubro, às 19h30, o 16º Programa de Leituras Públicas. Estudantes, professores, funcionários e a população em geral estão convidados a participar não só como público, mas como atores.
Para esta edição – que tem como tema Dramaturgas -, o Tusp selecionou textos criados por escritoras, poetas e roteiristas. “Neste ciclo, buscamos não somente textos que fossem criados por mulheres, mas que, em seu conjunto, pudessem de alguma forma articular um discurso de resistência do gênero feminino”, explica Otacílio Alacran, ator, agente cultural e um dos organizadores do programa. “O Ciclo de Leituras começou em 2009, com o tema Peças Radiofônicas, e se consolidou. A diferença é que os textos são lidos pelos espectadores, de diferentes idades, nacionalidades e profissões.”
Entre os textos que serão lidos ao longo do programa – que se estenderá até dezembro, sempre às segundas-feiras, às 19h30 – estão Sabedoria, de Rosvita de Gandersheim, do século 10, considerada a primeira dramaturga alemã, Hysterica Passio, escrito em 2003 por Angélica Liddel, que narra a dor do abuso sexual, e O Verdugo, de 1969, um dos textos mais premiados da brasileira Hida Hilst, entre outros (confira abaixo a programação completa do evento).
Nesta 16ª edição, o ciclo será aberto com Ana Roxo, dramaturga, poeta e diretora teatral formada pela Escola de Arte Dramática (EAD) e pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP. “Estamos convidando alguns representantes de organizações, movimentos, associações, instituições ou coletividades para que também desenvolvam ações onde a mulher seja a protagonista”, observa Alacran. “A programação será documentada pelo fotógrafo Sérgio Freitas e a meta é transformar esse trabalho em uma exposição itinerante pelos campi da Universidade.”
O 16º Programa Tusp de Leituras Públicas vai de 10 de outubro a 19 de dezembro, sempre às segundas-feiras, às 19h30, no Teatro da USP (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, São Paulo, próximo ao Metrô Santa Cecília). Entrada grátis. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone: (11) 3123-5223/5233
Programação do 16º Programa Tusp de Leituras Públicas
Dia 10 de outubro: Abertura, com Ana Roxo
Ana Roxo é dramaturga, roteirista, poeta e professora. Formada em direção teatral pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, também cursou a Escola de Arte Dramática (EAD) da USP. Fez parte do corpo docente da Escola Livre de Teatro de Santo André, na qual foi coordenadora do Núcleo de Dramaturgia. Foi indicada ao Prêmio Shell como melhor autora pela peça Cabeça de Papelão, da Cia. da Revista, em 2012. Atualmente também desenvolve roteiros na Miração Filmes, além do canal no youtube O mundo segundo Ana Roxo (www.youtube.com/c/omundosegundoanaroxo).
Dia 17 de outubro: Sabedoria, de Rosvita de Gandersheim (Alemanha, séc. 10)
Nascida em 935, Rosvita foi canonesa no convento de Gandersheim. É considerada a primeira poetisa alemã, além da primeira dramaturga da história do teatro. Na peça, situada durante o império de Adriano, no início da Era Cristã, as personagens Sabedoria e suas três filhas – Fé, Esperança e Caridade – são estrangeiras que, chegadas a Roma, veem-se denunciadas ao imperador pelo severo Antíoco, por ameaçarem a ordem do Estado e a “concórdia do povo” ao difundir “a divergência de culto” e induzir à disrupção social pela “prática da religião cristã”.
Dia 24 de outubro: Hysterica Passio, de Angélica Liddel (Espanha, 2003)
O trabalho de dramaturgia e encenação da autora é considerado por muitos como um dos mais inventivos e criativos do teatro contemporâneo. Sua Hysterica Passio apresenta um panorama de histórias de perversão, tortura, dor, sofrimento e culpa, integradas no seio da família e das relações parentais, tema recorrente em sua obra. A peça mostra a história de Hipólito, filho de Thora e Senderorovich, ao narrar momentos de sua vida em meio aos abusos de infância e desejos de vingança.
Dia 31 de outubro: O Verdugo, de Hilda Hilst (Brasil, 1969)
Um dos textos mais premiados e encenados no teatro de Hilda Hilst (1930-2004), a peça se inicia com uma família sentada à mesa, e as rubricas dão detalhes para a composição da cena: a casa “é modesta, mas decente”, o pai é um “verdugo personagem que sempre matara sem nenhum problema ou remorso”. Em dado momento, esse pai decide não matar o próximo homem, achando-o diferente dos demais. O verdugo tenta reverter a situação e se torna um grande revolucionário contra o processo censor ditado por regras.
Dia 7 de novembro: A Morte e a Donzela, ciclo IV (Jackie), de Elfriede Jelinek (Áustria, 2002)
A novelista e dramaturga foi a primeira austríaca a receber o Nobel de Literatura, em 2004. A Morte e a Donzela, escrita em 2002, é formada por diversos quadros sobre o feminino. Estereótipos, dramas de princesas, as princesas Branca de Neve, Bela Adormecida, Jackie Kennedy, Rosamunda e Diana de Gales são trazidas à tona. Ainda uma princesa precisa, no final, regressar ao submundo? O ciclo IV foca nas reflexões da “princesa real” Jackie Kennedy (1929-1994), esposa do 35º presidente dos Estados Unidos, John F. Kennedy.
Dia 21 de novembro: Prova de Fogo, de Consuelo de Castro (Brasil, 1968)
Texto de estreia da autora (1946-2006), a peça foi proibida pela censura durante anos e foi premiada em 1974 pelo Serviço Nacional de Teatro (SNT), sob o título A Invasão dos Bárbaros. A história se passa em 1968, durante a ocupação do prédio da então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP (instalada no prédio onde atualmente o Tusp está instalado), às vésperas do Ato Institucional Número 5 (AI-5), que radicalizou o regime militar e ampliou as restrições à liberdade no País. A trama conta os embates sofridos pelos estudantes contra a repressão e os confrontos ideológicos entre o líder estudantil Zé Freitas e seus opositores dentro do próprio movimento.
Dia 28 de novembro: Vontade de ter Vontade, de Cláudia Dias (Portugal, 2011)
O texto da escritora e performer portuguesa é uma reflexão política, poética, provocadora e comovente sobre os dias de hoje. Escrito em 2011, e apesar de falar da realidade de Portugal, de sua crise econômica e da ascendente emigração de jovens que o país vivencia, a autora trata de temas contemporâneos gerais, como a falta de perspectiva para o futuro, a busca de identidade e a sensação de se ser apátrida na própria terra – tudo isso em uma viagem através do espaço e do tempo, revisitando passados e futuros potenciais, traçando linhas em direção ao continente e ao mundo, apagando as relações entre norte e sul, entre colonizador e colonizado, entre o que é central e o que é periférico.
Dia 5 de dezembro: Aurika, de Alessandra Santiesteban (Cuba)
A artista, que vem desenvolvendo um ativo trabalho criativo vinculado às artes cênicas em Cuba, foi vencedora do Prêmio Calendario, no gênero Teatro, na Feira Internacional do Livro de Havana. O texto é uma reflexão radical e crítica sobre os meios de comunicação contemporâneos, e também sobre a relação de Cuba com esses meios. Aurika é uma rede social em que o leitor se converte numa espécie de usuário e é convidado a navegar por tudo que está publicado sobre a vida de um personagem chamado Yenisev.
Dia 12 de dezembro: Maruja Enamorada, de Vivi Tellas & Maruja Bustamente (Argentina, 2013) – Um “biodrama” – formato cênico que coloca não-atores no palco e transforma suas experiências reais em cenas dramáticas – sobre amor, uma obra de arte que surgiu da reunião entre as argentinas Vivi Tellas e Maruja Bustamante. Trata de uma série de hipóteses sobre o amor: o amor é uma ficção? Quem somos nós no amor? Será que o amor acaba quando começa? Será que sempre nos apaixonamos pela mesma pessoa? Qual é o corpo do amor? Maruja revive suas relações amorosas enquanto reconstrói sua história familiar, e esse material biográfico torna-se, assim, experiência cênica.
Dia 19 de dezembro: O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu, de Jo Clifford (Escócia, 2009) – O solo materializa numa mulher transgênero um Jesus Cristo contemporâneo. Redimensionando narrativas bíblicas, a personagem questiona preconceitos e intolerância arraigados e difundidos pelo cristianismo. A premiada dramaturga, tradutora, poeta e performer Jo Clifford estreou O Evangelho Segundo Jesus, Rainha do Céu em 2009, na Escócia, em meio a forte polêmica com manifestantes de grupos cristãos.