Com 30 atores em cena, peça de Álvares de Azevedo estreia no Teatro da USP

Neste mês, Macário do Brazil terá apresentações gratuitas no Centro MariAntonia da USP

 01/08/2024 - Publicado há 7 meses

Texto: Alícia Matsuda*
Arte: Diego Facundini**

Foto: Lígia Jardim/Tusp

Álvares de Azevedo foi estudante da Faculdade de Direito de São Paulo, incorporada à USP em 1934 - Foto: M. J. Garnier/Wikimedia Commons/Domínio público

Tuberculoso em um Brasil ainda imperial, Álvares de Azevedo morreu aos 20 anos, em 1852, sem ter publicado nenhum de seus textos, peças e poemas. O drama Macário, por exemplo, não foi finalizado pelo jovem poeta, e veio a público postumamente, em 1855. Mais de 170 anos após a morte de Azevedo, sua peça ganha novos ares no Teatro da USP (Tusp), com as 17 sessões gratuitas de Macário do Brazil, dirigida por Carlos Canhameiro. Em cartaz na sala do Tusp no Centro MariAntonia da USP, a temporada começa nesta sexta-feira, dia 2, e se estende até 1º de setembro, às quintas-feiras, sextas e sábados, a partir das 20 horas, e aos domingos, às 18 horas. 

Autor de Macário, Álvares de Azevedo é um dos grandes nomes do Romantismo brasileiro. Suas obras, como o livro de poemas Lira dos 20 Anos, revelam a inspiração do poeta inglês Lord Byron e do alemão Johann Wolfgang von Goethe. A peça Macário do Brazil, apresentada pela primeira vez nos dias 9 e 10 de março passado, na Oficina Cultural Oswald de Andrade, acompanha o melancólico Macário, um jovem estudante que enfrenta o desencanto do mundo, clássico do Romantismo, e está a fim de virar a noite em uma taverna, onde conversa sobre sua poesia com a figura do próprio Satã. Na companhia do colega inusitado, viaja à Itália, e no novo cenário revela as velhas ideações suicidas enquanto prolonga diálogos sobre o amor, a filosofia e a literatura, em contraste com Pensarosa, uma amiga apaixonada. Quando a trama se fecha com Satã induzindo Macário a uma orgia em uma taverna, a obra aponta para Noite na Taverna, outro livro escrito na época por Álvares de Azevedo.

Contemplado com o Prêmio Zé Renato, projeto da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, o dramaturgo Carlos Canhameiro orquestra um elenco de 30 pessoas, um contingente quase inédito na cena atual do teatro. No roteiro adaptado, os atores Alitta, Danielli Mendes, José Roberto Jardim e Nilcéia Vicente dividem o palco com 20 atores e atrizes com idade de 20 anos – estudantes de teatro de diferentes escolas ao redor de São Paulo -, uma escolha feita pensando na montagem do Coro dos Vinte Anos, uma parte musical da peça. Eles são acompanhados pelo quarteto de música instrumental À Deriva.

Entre os ensaios de Macário do Brazil, o diretor Carlos Canhameiro contou ao Jornal da USP ter se inspirado na obra da professora, poeta e ensaísta Leda Maria Martins, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo ele, a produção faz refletir sobre “o que a estética contemporânea pode reverberar em um jovem do século 19”, que originalmente já não seguia os moldes tradicionais, mesclando linguagens e gêneros textuais. “Como dramaturgo, eu gosto desse jogo”, diz Canhameiro, ao adicionar ainda mais nuances às sobreposições de Azevedo. 

Citando Leda Martins, Canhameiro afirma que pretende “propor a abertura de novas camadas de compreensão da obra”, com a presença de especialistas em teatro e literatura. Por isso, a partir da segunda semana da temporada, as sessões de sexta-feira receberão palestras durante o intervalo da peça. A primeira delas, no dia 9, será feita pela professora Andréa Sirihal Werkema, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), autora do livro Macário, ou do Drama Romântico em Álvares de Azevedo. Com base nesse livro, Werkema colocará o autor no centro da discussão.

O diretor Carlos Canhameiro - Foto: @canhameiro/Instagram

No dia 16, a palestra será Teatro e Transformação, com a dramaturga Ave Terrena, que vai abordar experiências relacionadas com a realidade virtual e com a cena ballroom. Já no dia 23, a pós-doutoranda pela Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP Janaína Leite apresenta Teatro e Abjeção, palestra relacionada com sua pesquisa sobre linguagens híbridas que aproximam teatro e performance, arte e vida. A última sexta-feira da temporada, dia 30, contará com a palestra Dramaturgia Brasileira e Formas Contemporâneas, com Welington Andrade, doutor em Literatura Brasileira pela USP e editor da revista Cult

A peça Macário do Brazil fica em cartaz de 2 de agosto a 1º de setembro, de quinta-feira a sábado, às 20 horas, e domingos, às 18 horas, no Centro MariAntonia da USP (Rua Maria Antonia, 294, Vila Buarque, região central de São Paulo, próximo às estações Santa Cecília e Higienópolis-Mackenzie do Metrô). Entrada grátis. Mais informações estão disponíveis no site do Tusp.

Foto: Divulgação/Tusp

*Estagiária sob supervisão de Roberto C. G. Castro
**Estagiário sob supervisão de Moisés Dorado


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