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A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin faz parte do Complexo Brasiliana, que abriga ainda o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), o Auditório István Jancsó (com capacidade para 300 pessoas), salas de aula e salas de exposição - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Biblioteca Brasiliana da USP comemora dez anos
Data será celebrada a partir desta quinta-feira, dia 23, com o lançamento de dois livros sobre o Modernismo no Brasil
Nesta quinta-feira, dia 23, a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP completa dez anos. Ela foi inaugurada em 23 de março de 2013, após doação da coleção particular do casal Guita Mindlin (1916-2006) e José Mindlin (1914-2010), que inclui o acervo do bibliófilo Rubens Borba de Moraes (1899-1986). Amigo do casal, Borba deixou em testamento parte de seus títulos a José Mindlin, para dar continuidade à ideia de formar uma biblioteca brasiliana – como são chamadas as coleções que preservam a história e a cultura do Brasil – cada vez mais completa. Hoje a instituição conserva 32 mil títulos e 60 mil volumes.
Para comemorar a data, a BBM Publicações – o braço editorial da biblioteca – vai lançar, nesta quinta-feira, dia 23, às 18 horas, dois livros sobre o Modernismo no Brasil, escola que completou seu centenário em 2022. Um dos livros é Semana de Vinte e Dois: Olhares Críticos, lançado em coedição com as Edições Sesc e organizado por Marcos Antonio de Moraes, que reavalia criticamente o legado da Semana de Arte Moderna por meio de especialistas da literatura, sociologia, história, cinema e cultura. O outro livro, com organização de Ivan Marques, é Releituras do Modernismo: o Legado de 1922 na Cultura Brasileira, que aborda os impactos do Modernismo na contemporaneidade.
Os livros são resultado do Projeto 3×22, realizado ano passado, que cruzou três momentos da história: a Independência (1822), o Modernismo (1922) e o tempo atual (2022). O lançamento acontece na Sala Villa-Lobos da BBM.
O lançamento das duas obras marca o início da programação BBM 10 Anos, que seguirá por todo o primeiro semestre, sempre com o objetivo de comemorar os dez anos da biblioteca.
O próximo evento dessa programação será o Seminário BBM 10 anos, marcado para os dias 16, 17 e 18 de maio. O evento trará uma série de debates temáticos e comemorativos. Serão oito mesas, abordando temas como a bibliofilia, acervos de brasilianas e a construção e a história da BBM. O conceito de brasiliana e o futuro desse tipo de biblioteca serão alguns dos assuntos tratados no seminário.
Ainda no dia 16 de maio, está prevista a abertura de duas exposições. A primeira é sobre a efeméride, Os 10 Anos da BBM. Rubem Borba de Moraes é o tema da segunda exposição por ter sido um dos principais bibliófilos do Brasil e dono anterior de parte do acervo doado à USP pelos Mindlins. “Ao longo de dez anos, a BBM efetivamente se firmou como biblioteca da USP, sendo apropriada e se apropriando da Universidade. Ela faz parte da pesquisa, do ensino e da extensão feitos pela USP de forma importante e significativa”, afirma o diretor da BBM, Alexandre Macchione Saes. “Por isso, temos que devolver esse conhecimento para a sociedade.”
De um sonho privado ao público
“Aos 13 anos, José Ephim Mindlin compra um livro de Bossuet (escritor francês, 1627-1704), interessado na literatura francesa. Depois ganha de presente um livro sobre a história do Brasil e se depara pela primeira vez com as condições de raridade de uma edição”, conta Saes. Ele ingressou no curso de Direito do Largo de São Francisco, onde conheceu Guita Kauffmann, outra estudante interessada em literatura. E os clichês mais clássicos dos livros de romance não diriam que esse casal se uniria para criar juntos um dos mais valiosos acervos literários do Brasil.
Casaram-se em dois anos. “Desde o início do namoro eu já guardava livros na casa dela”, lembrou Mindlin, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo em 2006. Guita se especializou em conservação dos livros, sendo cofundadora da Associação Brasileira de Encadernação e Restauro (Aber). José Mindlin fundou a empresa Metal Leve e em 2006 foi eleito para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.
Guita e José Mindlin construíram uma biblioteca que o próprio Mindlin chamava de “indisciplinada”, porque reúne raridades de diferentes assuntos e épocas. Mas grande parte é de Brasiliana, conceito que o bibliófilo Rubens Borba de Moraes classificou da seguinte forma: coleção de livros sobre o Brasil impressos desde o século 16 até fins do século 19 e livros de autores brasileiros impressos no estrangeiro até 1808. Contudo, essa definição está em constante debate, sendo inclusive tema de uma das mesas do seminário comemorativo de 10 anos da BBM, em maio.
No início dos anos 2000 começou o diálogo entre o casal Mindlin e a USP para realizar a doação do acervo. “Eles tinham como finalidade tornar a biblioteca pública. Sempre recebiam em casa a visita de pesquisadores e interessados, tinham inclusive funcionários contratados para acompanhar essas visitações e auxiliá-los”, explica Saes. “O principal é permitir a conservação da história e da cultura brasileira através das páginas, editoração e informação.”
A Biblioteca Brasiliana tem o objetivo de conservar a memória e a história brasileira - Fotos: BBM USP
Em 2006, as negociações foram finalizadas, chegando-se à carta da doação que especificava os títulos doados. O acervo doado, além de ter relação direta com o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, viria a servir como objeto de estudo dos alunos desse instituto e de outras unidades da Universidade. Mindlin teria pedido na carta que o acervo estivesse junto ao IEB.
O prédio inaugurado em 2013 é um projeto arquitetônico modernista, projetado por Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, com a consultoria da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, feito especialmente para ser o lar dos volumes adquiridos pelo casal Guita e José Mindlin e por Rubens Borba de Moraes. A arquitetura prioriza a luz natural e é possível observar as estantes do átrio do térreo.
Os diferentes espaços que compõem o Complexo Brasiliana da USP - Fotos: BBM/USP, Marcos Santos/USP Imagens e Cecília Bastos/USP Imagens
O Espaço Brasiliana também abriga o IEB, a Livraria João Alexandre Barbosa, da Editora da USP (Edusp), e o Auditório István Jancsó. Além disso, conta com dois laboratórios, um de conservação preventiva e outro de digitalização, duas salas de leituras – uma de acesso livre e outra destinada à consulta do acervo raríssimo – e duas salas de exposições, que recebem eventos como os concertos da Série Internacional de Música (SIM) da USP.
“O papel da Universidade é fazer a ‘curadoria do conhecimento acumulado’. Isso significa que queremos iluminar novos leitores, novos pesquisadores e interessados a acessar o acervo, disponibilizando irrestritamente o acesso, por isso estamos digitalizando os livros”, informa Alexandre Saes. “Outra ação que fazemos é produzir novos conteúdos com base no acervo, promovendo seminários e exposições. Também mapeamos relatos de viajantes, publicados em obras presentes no acervo, e os disponibilizamos no Atlas dos Viajantes. Agora qualquer pessoa, de qualquer lugar do mundo, pode ler os relatos dos viajantes que exploraram o Brasil na época da colonização.”
O acervo que o casal Mindlin e Rubens Borbas criaram é composto de uma brasiliana de raridades, seja por ser uma primeira edição, seja por ter anotações específicas de alguém (geralmente nomes famosos), seja por ser um documento ou livro histórico que mudou a sociedade da época.
José Mindlin tinha como filosofia o conceito de biblioteca viva. “Ela é viva porque nunca termina de ser construída, inclusive sendo constantemente renovada com mais material, pois é impossível ter todos os livros da época, principalmente quando existe apenas um exemplar de um título e que está sob posse de outra biblioteca, como a Nacional”, explica Saes. “Eu iria além nessa definição feita por Mindlin: ela é viva porque toda vez que lemos um livro temos uma nova interpretação, a obra comunica de forma diferente a cada leitura, sendo ela viva em nós.”
O especialista da BBM João Cardoso destaca alguns livros do acervo: as primeiras edições dos 25 livros que Machado de Assis publicou em vida, uma cópia manuscrita, datada de 1762, de poemas satíricos de Gregório de Matos, as primeiras edições brasileiras de Marília de Dirceu (1810), de Tomás Antônio Gonzaga, e de A Moreninha (1844), de Joaquim Manuel de Macedo, originais datilografados de obras de João Guimarães Rosa e de Clarice Lispector e o Tratado Sobre Emancipação Política da Mulher e Direito de Votar, de Anna Rosa Termacsics dos Santos, publicado em 1868. Além disso, documentos como uma cópia da primeira Constituição Brasileira, de 1824, podem ser encontrados no acervo.
Questionado sobre qual seu livro preferido, João Cardoso responde: a primeira edição, de 1557, do relato de viagem do mercenário alemão Hans Staden. A edição está encadernada com mais outros dois livros completamente distintos, em capa de couro amarelada. O livro contém várias xilogravuras e está em alemão.
Conheça a Biblioteca Brasiliana
Para acessar o acervo da BBM, é preciso preencher o Formulário de Requisição de Consulta às Obras do Acervo. São solicitados o nome completo, um documento pessoal e os títulos das obras desejadas para consulta. “Nós pedimos para que identifiquem com antecedência qual bibliografia os estudantes querem utilizar, porque algumas edições são muito antigas e precisam passar por uma restauração preventiva antes da consulta”, explica o diretor da BBM. Outras visitas técnicas podem ser agendadas com antecedência pelos telefones (11) 2648-0317, (11) 2648-0841 e pelo e-mail: biblioteca@bbm.usp.br. Caso o pesquisador não tenha bibliografia definida, pode solicitar obras por eixos temáticos.
A USP disponibiliza a lista de todos os títulos disponíveis no sistema Dedalus ou no Portal de Busca Integrada. Também pode ser utilizado o aplicativo Bibliotecas USP, disponível no Play Store e no App Store no celular.
A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP fica aberta de segunda a sexta-feira, das 8h30 às 20h30 (salas internas de pesquisas fecham às 17 horas), na Rua da Biblioteca, 21, Cidade Universitária, em São Paulo. Mais informações podem ser obtidas pelo telefone 2648-0840 e no site da BBM.
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