Restrição calórica e treino intenso podem trazer riscos à saúde de mulheres praticantes de fisiculturismo

Estratégia levou à diminuição da produção de hormônios ligados à construção muscular e traz alerta para a forma como essas fisiculturistas se preparam para competições

 06/05/2022 - Publicado há 3 anos
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Foto: Reprodução/Wikimedia Commons

 

Pesquisa da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP relaciona dieta reduzida em calorias, somada a intenso treinamento físico, com diminuição de níveis hormonais ligados à construção muscular e acende sinal amarelo para a forma como atletas femininas de fisiculturismo se preparam para competições.

Diana Monteiro – Foto: Reprodução/Twitter

Responsável pela pesquisa, a educadora física Diana Monteiro afirma que, apesar do crescimento da participação feminina no mundo do fisiculturismo, são poucas as investigações sobre o impacto dos treinamentos desta modalidade no organismo feminino. Assim, ao invés de evidências científicas, muitas estratégias usadas na preparação física das atletas são baseadas no senso comum e “podem impor consideráveis riscos à saúde”, diz a pesquisadora. O estudo Serum IGF-I concentrations are low in female bodybuilders in the pre-contest phase foi publicado na Growth Hormone & IGF Research.

Como o fisiculturismo é uma prática de esculpir corpos, os pesquisadores decidiram investigar o comportamento do hormônio IGF-I (fator de crescimento similar à insulina), que participa diretamente do processo de desenvolvimento da musculatura e da redução dos níveis de gordura corporal. Os pesquisadores acompanharam um grupo de atletas amadoras de musculação durante as 12 semanas de preparação que antecedem a principal competição da categoria, fase chamada de pré-contest. 

É no pré-contest, conta a pesquisadora, que as atletas diminuem consideravelmente a ingestão calórica, aumentam a quantidade de repetições nos treinos com pesos e dobram ou triplicam o treinamento cardiovascular. O objetivo é diminuir a gordura corporal “para que a musculatura apresente maior definição” na competição.

Ao avaliar os resultados dos exames de sangue, coletados das atletas no início e no final da preparação no pré-contest, os pesquisadores encontraram queda da produção dos níveis do IGF-I, o que, avalia Diana, indica o uso de estratégias inadequadas no treinamento da musculação.

Risco à saúde e ao próprio resultado da preparação

Atual presidente da Confederação Brasileira de Musculação, Fisiculturismo e Fitness (CBMFF), Diana se diz preocupada com a crescente busca pela modalidade sem a devida orientação profissional exigida para a prática do esporte. Segundo a educadora física, existem atletas fazendo uso exagerado de alguns hormônios e “até substituindo a alimentação pela suplementação”, afirma, citando, como exemplo, uso de manipulados e vitaminas que aceleram o processo de perda de gordura.

Ela alerta que essas práticas podem repercutir de forma negativa na preparação física. E agora, com os resultados dos estudos, diz que podem também inferir na produção hormonal com prejuízos que “as atletas nem imaginam”. São dietas e treinos baseados no senso comum ou até mesmo copiados de perfis em redes sociais e perigosos “porque cada atleta tem uma resposta diferente; nós temos nossa individualidade biológica, não é porque a minha estratégia é boa na minha preparação que ela vai ser boa na preparação de outra atleta”, enfatiza.

Treinamento e alimentação adequados

Hugo Tourinho Filho – Foto: Reprodução/EEFERP-USP

Para o professor Hugo Tourinho Filho, orientador do estudo, o ideal é um bom treinamento, de preferência a longo prazo, já que a busca por objetivos a curto prazo, através de dietas restritas e o uso de substâncias, traz muitos riscos. “Distribuir cargas de treinamento e adequar a alimentação é fundamental para que esse esporte continue cumprindo seu objetivo”, afirma.

E a recomendação vale também para fisiculturistas experientes. Tourinho Filho conta que as pesquisas verificaram alguns impactos do comportamento e cinética dos hormônios estudados mesmo em atletas experimentados, o que “acende um sinal amarelo” em relação a treinos e dietas no fisiculturismo.

Pelos riscos, Diana aconselha as atletas a não iniciarem a prática sozinhas e buscarem profissionais para a preparação física e nutricional. “A atleta precisará tomar certas precauções para conseguir chegar no físico ideal e ela só vai conseguir esse resultado se estiver acompanhada por profissionais adequados”, afirma.

Diana Monteiro trabalhou sob orientação do professor Hugo Tourinho Filho no estudo As concentrações de hormônios são baixas em fisiculturistas femininas na fase de preparação. A dissertação de mestrado foi apresentada à EEFERP em fevereiro de 2021.

Mais informações: e-mail tourinho@usp.br, com o professor Hugo Tourinho Filho

Ouça no player abaixo entrevista dos pesquisadores ao Jornal da USP no Ar – Edição Regional.

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