PIB "per capita" aparece como fator decisivo nos índices de felicidade globais

Trabalho de alunos da USP aplica aprendizado de máquina para análise de dados sobre os aspectos que impactam a felicidade ao redor do mundo

 Publicado: 12/02/2025 às 12:18

Texto: Redação*

Arte: Simone Gomes

Sete jovens de várias etnias sorrindo
Pesquisa avaliou os índices de felicidade globais e identificou o PIB per capita e políticas públicas de igualdade social como decisivos para a qualidade de vida - Foto: katemangostar

Uma análise dos índices de felicidade globais, realizada por estudantes da USP em São Carlos, revelou quais fatores mais impactaram a percepção da população sobre a felicidade ao redor do mundo. A pesquisa levou em conta dados como Produto Interno Bruto (PIB) per capita, percepção de corrupção e repercussões locais da pandemia de covid-19, presentes no World Happiness Report, no período de 2007 a 2023. Esse relatório global é emitido anualmente e analisa os níveis de felicidade em diferentes países com base em diversos indicadores, oferecendo um panorama global sobre bem-estar e qualidade de vida.

Os estudantes de graduação Amanda Joioso, Mariana Ekuni e Paulo Henrique Turquetti, do curso de Bacharelado em Sistemas de Informação, efetuaram o levantamento como trabalho final da disciplina Introdução à Ciência de Dados, ministrada pela professora Roseli Romero, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP.  “A disciplina Introdução à Ciência de Dados é uma das matérias que compõem o Certificado em Estudos Especiais em Ciência de Dados. Por meio do trabalho final foi possível colocar em prática técnicas de Knowledge Discovery in Databases (KDD) e aprendizado de máquina estudadas no curso, resultando em um aprofundamento de nosso aprendizado ao mesmo tempo que novos conhecimentos do mundo real foram adquiridos”, destaca Paulo Henrique. Segundo o estudante, a prática proporcionada pela disciplina tornou o aprendizado mais dinâmico e intrigante, resultando no interesse em buscar uma carreira profissional na área de dados por parte dos integrantes do grupo. Entre os destaques do estudo está a constatação de que o apoio social (ter um amigo, apoio psicológico ou familiar com quem contar) foi determinante para a manutenção ou aumento dos índices durante a pandemia.

Segundo os autores, isso é reflexo da importância das redes de apoio emocional para a sensação de bem-estar dos indivíduos. As regiões mais impactadas foram América Latina, Caribe, Oriente Médio e o norte da África. Comparando-se os períodos pré e pós-pandemia, foi identificado que a vivência de experiências negativas durante a covid-19 teve um impacto menor do que o esperado. Como continuidade do estudo, futuras pesquisas poderiam investigar se medidas como suporte financeiro, proteção ao emprego, investimento em saúde mental e criação de redes de apoio contribuíram significativamente para reduzir os impactos negativos nos índices de felicidade durante a pandemia.

um mapa múndi indicando as nações que tiveram crescimento nos índices de felicidade (em azul), e as nações que tiveram queda nos índices de felicidade (em vermelho)
No mapa, os tons em azul representam nações que tiveram tendência no crescimento dos índices de felicidade; os tons em vermelho destacam países em que houve queda nos índices - Imagem: reprodução do trabalho

Aprendizado de máquina para análise de dados

O estudo agrupou os indicadores do relatório internacional e aplicou técnicas matemáticas e computacionais que combinam e conectam dados para tornar as análises mais precisas e confiáveis, sendo útil para classificar ou prever diferentes cenários. Essas ferramentas ajudam a resolver problemas como prever preços, identificar categorias ou tomar decisões com base nas informações disponíveis. Segundo Roseli, o modelo de aprendizado de máquina Random Forest indicou que a variável com maior correlação com os índices de felicidade foi o PIB per capita.

“O contexto econômico de um país evidenciou esse fator-chave para a percepção de felicidade. De certa forma, isso era esperado”, pontua a professora. Outro fator de destaque é a proximidade geográfica dos países, que também apresentaram pontuação nacional de felicidade similares. Isso indica que, por serem vizinhos, os países compartilham condições culturais, políticas, econômicas ou sociais que levam à percepção de padrões semelhantes de felicidade.

Foto de uma mulher branca, cabelos e olhos escuros, usando um blazer azul claro
 Roseli Romero - Foto: ICMC/USP

“A partir desse estudo, ficou evidente que a felicidade de um país é resultado da combinação de diversos fatores sociais, econômicos e culturais, e que ela não é distribuída de forma uniforme ao redor do globo”, aponta Amanda Joioso, uma das autoras do levantamento. Muitas vezes, países ou regiões menos felizes enfrentam desafios como falta de recursos básicos, baixa qualidade de vida, conflitos armados ou problemas de gestão e governança. A aplicação de algoritmos de aprendizado de máquina permitiu o levantamento dos dados de modo macro e possibilitou uma visão geral das tendências que ajudaram a compreender os fatores mais impactantes na alegria e no bem-estar humano. “Estudos específicos de um único país ou povoado podem direcionar governos e instituições a desenvolver políticas públicas mais precisas e adaptadas às necessidades específicas de seus povos, com previsões antecipadas dos resultados a partir da aplicação de modelos de inteligência artificial”, apontam os autores no levantamento.

Bases sólidas para uma presença estratégica no mercado

O curso de Bacharelado em Sistemas de Informação tem como objetivo preparar profissionais para desenvolver e gerir sistemas, em especial aqueles que coletam, processam e distribuem informações que apoiam as operações, gestão e tomada de decisões dentro de uma empresa. A formação proporcionada pelo curso do ICMC oferece disciplinas do contexto empresarial, como contabilidade, economia, gerenciamento de projetos e empreendedorismo, fornecendo aos alunos uma formação multidisciplinar e possibilidade de atuação em diversas áreas do mercado de trabalho.

“O profissional de sistemas de informação atua numa intersecção entre a tecnologia da informação, comunicação e processos empresariais, resultando na possibilidade de atuação em diversas áreas do mercado de trabalho. Além da carreira acadêmica é possível trabalhar no desenvolvimento de software, análise de dados, gestão de tecnologia da informação, consultoria empresarial e outras áreas que os mundos da computação e negócios oferecem”, finaliza o aluno Paulo. O estudo completo pode ser acessado neste link

*Da Assessoria de Comunicação do ICMC

Leia +

Pesquisa mede impacto da pandemia no bem-estar dos brasileiros

Jornal da USP
Jornal da USP
Pesquisa mede impacto da pandemia no bem-estar dos brasileiros
/

Trabalho de alunos da USP aplica aprendizado de máquina para análise de dados sobre os aspectos que impactam a felicidade ao redor do mundo

Por que os finlandeses são o povo mais feliz do mundo?

Jornal da USP
Jornal da USP
Por que os finlandeses são o povo mais feliz do mundo?
/

Marília Fiorillo enumera alguns motivos em sua coluna, mas observa que a sensação de felicidade é maior entre os mais velhos e menor entre os jovens

Cientista discute influência da genética na felicidade e no bem-estar

Jornal da USP
Jornal da USP
Cientista discute influência da genética na felicidade e no bem-estar
/

Palestra apresentará estudos com gêmeos no campo da genética comportamental e molecular aplicada ao bem-estar


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.