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PESQUISA APONTA PARA A NECESSIDADE DA PARTICIPAÇÃO DAS COMUNIDADES LOCAIS NA GESTÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO
Estudo avaliou as relações entre a gestão de áreas de preservação do estado de São Paulo e as comunidades que vivem no entorno e mostra o desconhecimento da população sobre a possibilidade de participar dos conselhos
Foto: Reprodução/Freepik
A criação de áreas protegidas é uma estratégia para conservação ambiental utilizada no mundo todo. Mas, no Brasil, elas têm sido alvo constante de conflitos, entre outros, pelo distanciamento da administração desses parques e a população que vive nos entornos e desconhece que pode participar da gestão. A solução, segundo a bióloga Bruna Lima Ferreira, pode estar numa melhor comunicação desses atores. Este foi um dos principais achados da pesquisa que Bruna realizou para seu mestrado, apresentado à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, em junho deste ano.
A relação entre a gestão de áreas de preservação e as comunidades locais é importante porque os gestores fazem a intermediação da população com o governo e também porque afeta a forma como as pessoas vêem a natureza. E para que haja mobilização popular em prol da conservação ambiental e da sustentabilidade, afirma Bruna, é necessária comunicação efetiva entre essas partes.
Para conhecer esse relacionamento, a bióloga entrevistou 26 gestores de parques estaduais do estado de São Paulo – áreas protegidas pelo poder público e caracterizadas como Unidade de Conservação (UC) – e moradores de uma comunidade próxima ao Parque Estadual do Aguapeí, na região de Araçatuba. Bruna analisou legislações e portarias, a composição dos conselhos gestores dos parques e a própria percepção dos gestores quanto aos espaços de participação social.
Bruna Lima Ferreira - Foto: Reprodução/FAPESP
População desconhece que pode participar
Muitos aspectos influenciam as relações entre os parques e as comunidades, em escala nacional, estadual e municipal. E os desafios são muitos e estão “relacionados à comunicação, ocupação irregular, turismo, uso público desordenado, caça e extração vegetal”, avalia Bruna, além das irregularidades fundiárias. “Existem processos de regulamentação fundiária que, até hoje, não se concluíram em parques que existem há tempos”, informa. Mesmo assim, 84,62% dos gestores entrevistados responderam que, no geral, a relação é positiva.
Patrícia Monticelli - Foto: Reprodução/ResearchGate
Porém, a falta de comunicação é o destaque. A professora Patrícia Monticelli, orientadora do estudo, diz que a população desconhece que pode participar dos conselhos gestores dos parques. É através dos conselhos que as comunidades podem apontar situações não vistas pelos gestores e também se informar, “numa troca interessante entre essas duas partes”.
Bruna lembra que os princípios da boa governança pedem redução de barreiras na “relação entre as partes” e ressalta os benefícios de conviver com áreas preservadas. “São um espaço em que os diferentes atores locais podem ter voz, podem se expressar, podem participar da gestão; tem um potencial não só para auxiliar a gestão nas decisões, mas também envolver os atores nessa conservação ambiental local”, diz. E, para garantir a participação popular, a pesquisadora defende o esclarecimento da comunidade quanto às formas de participar e às atividades desenvolvidas pelo parque.
Diferentes visões em benefício do meio ambiente
Bruna fala sobre os benefícios das relações com os parques que vão além das que envolvem a população do entorno. A bióloga conta que serviços ecossistêmicos são ampliados com as parcerias com vários órgãos (polícia ambiental e universidades) e consolidadas no dia a dia da gestão dos parques. São parcerias que “trazem benefícios para ambos os lados” e podem ser mais exploradas, principalmente pelos laboratórios das universidades, já que “as Unidades de Conservação são ótimos locais para desenvolver pesquisas que vão ser úteis para as duas partes.”
Para realizar a pesquisa, a bióloga Bruna Lima Ferreira entrevistou 26 gestores de parques estaduais do estado de São Paulo – áreas protegidas pelo poder público e caracterizadas como Unidade de Conservação (UC) – e moradores de uma comunidade próxima ao Parque Estadual do Aguapeí, na região de Araçatuba. Parque Estadual do Aguapeí - Foto: Reprodução/Governo do Estado de São Paulo
Sobre a importância das parcerias, Bruna lembra que os parques estão inseridos em “um contexto regional, econômico e social” que não pode ser ignorado para que a conservação seja efetiva. Segundo a pesquisadora, a gestão dessas áreas deve ser “colaborativa e adaptativa”, incluindo os vários atores e seus diferentes olhares e orientando ações “de acordo com as imprevisibilidades”.
Estudo social e estratégia para derrubar barreiras
O estudo foi eleito pelas pesquisadoras como instrumento para entender melhor as relações da comunidade com justiça social e prioridades na conservação dessas áreas. Segundo elas, é necessário estabelecer estratégias efetivas no dia a dia dos parques para a redução das barreiras entre a gestão e as comunidades.
Bruna acredita que uma maior interação com a comunidade do entorno do parque seja uma estratégia para maior benefícios da própria população, já que as áreas protegidas representam a forma com que muitas pessoas “acabam tendo contato com a natureza”. Se esse contato for negativo, com restrição popular na gestão, alerta a pesquisadora, o significado de “natureza protegida” pode ser negativo ou indiferente às comunidades. Na ocorrência de desmatamento e garimpo ilegais ou ainda de obras de alto custo ambiental, a mobilização popular não estará à altura da luta “para que aquela área fique protegida, para que a conservação efetivamente aconteça”.
Os resultados da pesquisa estão na dissertação de mestrado A dimensão humana na conservação ambiental: uma análise multidimensional da relação entre Parques Estaduais e comunidades próximas
Ouça no player abaixo entrevista das pesquisadoras ao Jornal da USP no Ar, Edição Regional.
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