Arabidopsis thaliana e micrografia eletrônica de varredura de tubos de pólen de lírio - Fotos: Marie-Lan Nguyen/Wikimedia Commons; Anja Geitmann, Institut de Recherche en Biologie Végétale, Université de Montréal/Wikimedia Commons

O ritmo elétrico dos vegetais – ou por que as plantas são mais dinâmicas do que imaginamos

Experimentos envolvendo bioeletricidade e análises estatísticas explicam oscilações que podem, por exemplo, determinar a direção do crescimento das plantas

 13/10/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 20/10/2022 às 13:39

Texto: Ana Fukui*

Arte: Adrielly Kilryann

Alguns dos ciclos das plantas mais conhecidos estão relacionados às estações do ano, tais como o surgimento das flores ou a queda de folhas. Estes ritmos naturais podem ser explicados pela variação da intensidade da luz solar a cada época. Entretanto, estudos recentes mostraram que as estruturas dos vegetais realizam oscilações independentes entre si, evidenciando um sistema bastante sofisticado de interações.

Este é o caso de uma estrutura reprodutiva estudada pela professora Maria Teresa Portes, do Instituto de Biociências (IB) da USP, chamada de tubo polínico de um exemplar da espécie Arabidopsis thaliana. Os experimentos realizados por ela envolveram a bioeletricidade: “medir as diferenças de potencial no interior de uma célula para avaliar o fluxo de íons que sinalizam o movimento do tubo de pólen. Os sinais elétricos captados são, então, amplificados. A vantagem desta técnica é que ela é não invasiva, preserva o sistema intacto.”

Em seguida, os dados foram analisados em um modelo matemático baseado na teoria da complexidade, proposto pelo pesquisador de pós-doutorado do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, Daniel Damineli, que também assina o artigo cientifico publicado na revista Current Opinion in Cell Biology. Segundo ele, um dos pontos relevantes deste artigo foi evidenciar que “as plantas são mais dinâmicas do que imaginamos e interagem com o seu redor de forma não linear. A matemática foi usada para entender como os canais iônicos geram oscilações rápidas”.

Maria Teresa Portes - Foto: Reprodução/FAPESP

Maria Teresa Portes - Foto: Reprodução/FAPESP

Em seguida, os dados foram analisados em um modelo matemático baseado na teoria da complexidade, proposto pelo pesquisador de pós-doutorado do Instituto de Matemática e Estatística (IME) da USP, Daniel Damineli, que também assina o artigo cientifico publicado na revista Current Opinion in Cell Biology. Segundo ele, um dos pontos relevantes deste artigo foi evidenciar que “as plantas são mais dinâmicas que imaginamos e interagem com o seu redor de forma não-linear. A matemática foi usada para entender como os canais iônicos geram oscilações rápidas”.

As plantas geram oscilações em praticamente todas as escalas espaço-temporais da organização biológica. Arquétipo de uma planta com flores e um musgo (desenhado à esquerda) associados com seus respectivos órgãos/células/vias/moléculas (zoom no centro) onde são geradas oscilações de praticamente todas as escalas de tempo - Foto: Joana Carvalho/Reprodução do artigo original

A maneira nova de representar como as partes da planta têm um ritmo próprio proposta por pesquisadores da USP se destacou no universo acadêmico e até nas redes sociais, como o Twitter. O infográfico representa as oscilações das diferentes estruturas dos vegetais e evidencia um sistema bastante sofisticado de interações.

As plantas geram oscilações em praticamente todas as escalas espaço-temporais da organização biológica. Arquétipo de uma planta com flores e um musgo (desenhado à esquerda) associados com seus respectivos órgãos/células/vias/moléculas (zoom no centro) onde são geradas oscilações de praticamente todas as escalas de tempo - Foto: Joana Carvalho/Reprodução do artigo original

Tubos polínicos

Tubos polínicos são estruturas que estouram num determinado momento para liberar os esporos e realizar a fecundação. Segundo os autores, as oscilações são importantes nesse processo para explicar o crescimento incomum do tubo polínico: “a nossa hipótese do papel da bioeletricidade nos tubos polínicos pode ser entendida fazendo um paralelo com os potenciais de ação [comunicação elétrica] dos neurônios. Os tubos polínicos têm uma onda do potencial de ação estabilizado na ponta da célula e, com isso, induzem à diferenciação de um polo celular. A localização dessa onda poderia determinar a direção do crescimento, sendo possível a orientação em direção a sinais vindos do óvulo. Os pulsos da onda geram oscilações na taxa de crescimento”, explica Daniel Damineli.

O artigo publicado também se destacou pela síntese dos estudos sobre oscilações das plantas, que mostram que flores, folhas, raízes têm ciclos próprios de atividade com períodos diferentes (ver infográfico). O estudo desses sistemas pode ser agrupado como biodinâmica sistêmica e procura compreender como os mecanismos regulam as funções biológicas das plantas.

*Ana Fukui é bolsista Mídia Ciência Fapesp/FMUSP

Mais informações: Daniel Damineli, e-mail danieldamineli@gmail.com; e Maria Teresa Portes, e-mail mtportes@usp.br


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.