Desde que surgiu, a fotografia adquiriu uma autoridade maior do que os relatos verbais, o que permitia estabelecer uma evolução visual dos fatos que confrontasse as lembranças imprecisas de um acontecimento. No final do século 19, as fotos também tiveram destaque em trabalhos psiquiátricos e em inquéritos sobre pessoas que hoje reconhecemos como transgêneros, atributo que na época era incluído entre os crimes sexuais. “Os corpos começaram a ser moldados a partir de uma lente”, sintetiza Regina.
Algumas técnicas de criminologia já eram vistas com ceticismo e preocupação no início do século 20. Esse assunto ainda gera debates que envolvem questões sobre privacidade, consentimento e uso indevido das imagens pelas autoridades. Hoje, um dos grandes dilemas éticos e sociais a esse respeito envolve as tecnologias de reconhecimento facial.
“No carnaval deste ano, muitas pessoas foram reconhecidas através da identificação facial, em plena folia”. Isso normalmente é visto apenas pelo lado positivo, entretanto “há outras questões mais profundas”, lembra a pesquisadora.
Ao longo da tese, a jornalista nos convida a refletir como a fotografia pode ser conformista quando causa um desconforto mal empregado e defende que ela deve nos levar a examinar os fatos. “Em nível mundial, a importância do Reiss na cena do crime é mais do que como um personagem que foi adiante nessa questão. É a técnica a serviço da criminalística em todas as suas frentes possíveis.”
Como a fotografia interferia na percepção de verdade, os inquéritos dos crimes mais emblemáticos encontram-se preservados com muitas imagens. “São os famosos Crime da Mala, que tem o inquérito policial completo e encadernado em acervos da Justiça e da Acadepol, e os crimes do Meneghetti, que era um ladrão.”
Por outro lado, as lacunas de arquivos incompletos e fragmentados evidenciaram questões sobre o próprio processo de preservação histórica. “É muito difícil encontrar material. As condições são precárias. Não fosse o trabalho do Arquivo do Estado, que eu coloco como uma exceção, seria muito difícil pesquisar”, lamenta Regina.
A pesquisadora diz ainda que o fechamento repentino de acervos e bibliotecas em resposta à pandemia global de covid-19 destacou a necessidade de estratégias alternativas de acesso e preservação dos documentos.
Mais informações: e-mail regi.desa@gmail.com, com Regina Celia de Sá