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Uma pesquisa conduzida pelo Centro de Pesquisa em Alimentos (Food Research Center – FoRC), em parceria com a École Nationale Vétérinaire, Agroalimentaire et de L’Alimentation Nantes-Atlantique – Oniris (França), busca aumentar a vida de prateleira do camarão processado – que costuma ser de apenas entre 10 e 12 dias – utilizando um pós-tratamento de pasteurização por micro-ondas. Como essa técnica de aquecimento é heterogênea, o grupo desenvolveu um modelo matemático, validado por testes experimentais, que simula a distribuição de temperatura no alimento durante a radiação de micro-ondas.
A partir do modelo, seria possível controlar o processo e desenvolver protótipos de equipamentos de micro-ondas que aqueçam o camarão de forma mais homogênea, garantindo a eliminação de microrganismos patogênicos e deterioradores. O alvo do estudo foi a Listeria monocytogenes, uma bactéria resistente ao calor e que causa listeriose – infecção alimentar nociva principalmente para mulheres grávidas e pessoas com o sistema imune comprometido.
Segundo o professor Jorge Andrey Wilhelms Gut, pesquisador do FoRC e do Laboratório de Engenharia de Alimentos da Escola Politécnica da USP, o camarão passa por processos de aquecimento e resfriamento antes de ser embalado. “No entanto, no ato de embalar, o alimento pode sofrer alguma contaminação por bactérias patogênicas e deteriorantes, o que pode apresentar risco para a saúde do consumidor e limitar a sua vida útil”, explica Gut, que orientou a parte da pesquisa feita no FoRC.
Distribuição de temperatura
Inicialmente, para identificar a distribuição da temperatura no camarão, os pesquisadores analisaram como camarões únicos, não embalados, se comportam diante de uma fonte de calor convencional e de micro-ondas. “Entender a distribuição da temperatura é importante para conseguir eliminar os microrganismos e obter um alimento mais seguro, e para evitar um superprocessamento, ou seja, que uma parte do alimento aqueça muito a ponto de sofrer alterações”, afirma Érica Siguemoto, pós-doutoranda que conduz o estudo.
Os cientistas determinaram em laboratório as propriedades físicas, térmicas e elétricas do alimento para inserir no modelo. “Também fizemos testes em diferentes tempos e potências de aquecimento para verificar se há alguma alteração visual ou de textura, que poderia ser um fator limitante. Não houve mudança em nenhum dos casos”, acrescenta.
A partir dos experimentos feitos na USP, Érica Siguemoto deu continuidade ao seu pós-doutorado na instituição Oniris, na França, com uma bolsa do programa Research Food Innovation: Food for Tomorrow, e desenvolveu o modelo matemático. O trabalho envolveu uma equipe multidisciplinar, com especialistas em microbiologia preditiva, engenharia de processos, ciência de alimentos e modelagem matemática. O próximo passo é fazer os chamados challenge tests (testes de desafio), para avaliar a eficácia do pós-tratamento com micro-ondas na eliminação das bactérias e na extensão da vida útil do camarão embalado.
“Um dos grandes diferenciais do estudo foi a preocupação com a geometria real do alimento na hora de fazer a modelagem. Sabemos que essa proximidade com a realidade impacta na acuracidade (precisão e exatidão) do modelo, na predição das respostas”, destaca a pesquisadora. A pesquisa também possui um forte apelo socioeconômico – o Brasil e a França são importantes produtores e consumidores de camarão. Em 2018, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil produziu 45,8 mil toneladas do alimento.
Por Angela Trabbold, Acadêmica Agência de Comunicação – e-mail angela@academica.jor.br///