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Pesquisadores preparam amostras para exame de covid-19 em laboratório NB3 — Foto: Herton Escobar/USP Imagens
“A prioridade é salvar vidas”
Laboratórios da USP se unem para acelerar diagnóstico do coronavírus
07/04/2020
Por Herton Escobar

Paola Minoprio, coordenadora da Plataforma Científica Pasteur- USP. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Laboratório NB3, onde são processadas as amostras para diagnóstico molecular — Foto: Reprodução
Biossegurança

Pedro Teixeira – Foto: Reprodução/Lattes

Hall de acesso aos laboratórios NB3 da plataforma. Câmeras mostram o que acontece lá dentro — Foto: Herton Escobar/USP Imagens
Necessidade

Valéria Cassettari – Foto: Instituto Ghelman

A virologista Ana Paula Vilela checa as condições de temperatura e pressão dentro do laboratório NB3 — Foto: Herton Escobar/USP Imagens
Técnica molecular

Marielton Cunha – Foto: IEA USP

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Apesar de rápidos e práticos, esses testes são menos confiáveis (em termos de precisão do resultado) e identificam apenas a presença de anticorpos no sangue do paciente, em vez do próprio vírus. Ou seja, eles detectam uma resposta imunológica que já foi montada pelo organismo e que só é perceptível alguns dias após a infecção (num período que pode variar de 7 a 10 dias, dependendo do paciente e da sensibilidade do teste).

Angélica Campos, Marielton Cunha e Ana Paula Vilela discutem os resultados dos testes que conduziram no dia anterior — Foto: Herton Escobar/USP Imagens
Pesquisas relacionadas
Além de ajudar na conduta dos hospitais, os exames geram informações importantes para a pesquisa científica da pandemia. Mesmo com todos os estudos que já vêm sendo feitos sobre o novo coronavírus nos últimos meses, em vários países, ainda há muita coisa que não se sabe sobre o comportamento dele dentro e fora do corpo humano.
Como ele evita ser detectado pelo sistema imunológico? Quais células e órgãos ele infecta, preferencialmente? Por que algumas pessoas são infectadas mais facilmente; e por que algumas desenvolvem sintomas mais ou menos graves do que as outras? Qual é a quantidade de vírus que as pessoas eliminam por diferentes vias, como secreções respiratórias e fezes? Depois que um paciente é curado e os sintomas da doença desaparecem, ele ainda pode transmitir o vírus? Por quanto tempo?
São algumas questões fundamentais que os cientistas ainda precisam solucionar, especialmente para a população brasileira, que é extremamente heterogênea e diferente geneticamente das populações asiáticas e europeias.
O cruzamento dos dados clínicos dos pacientes com os resultados dos testes moleculares e de outros exames realizados nos hospitais — como tomografias do pulmão e exames de sangue ou fezes — é uma ferramenta poderosa nesse tipo de investigação. Um dos casos investigados pelo grupo, por exemplo, é o de um núcleo familiar cuja mãe contraiu o SARS-CoV-2 mas aparentemente não passou para o marido nem o filho, mesmo convivendo com eles normalmente.
“Estamos trabalhando em duas frentes: diagnóstico e pesquisa”, explica o virologista Luiz Gustavo Góes, especialista em coronavírus e responsável pelo desenho experimental das pesquisas na plataforma. “A estrutura e a genética do SARS-CoV-2 são muito parecidas com as de outros coronavírus, mas a patogênese dele ainda não é muito conhecida.” Outra questão que a equipe planeja acompanhar no médio e longo prazo, segundo ele, é se o genoma do vírus está evoluindo (mudando) de alguma forma à medida que a epidemia avança no tempo e no espaço por diferentes regiões do País.
As linhas de investigação são muitas. “Nossa preocupação é justamente poder selecionar questões científicas que a gente possa resolver a partir do diagnóstico que estamos fazendo”, afirma Paola. “Fisicamente estamos muito cansados, mas intelectualmente, muito estimulados.”