Hipertensos casados têm mais chances de controlar pressão do que solteiros, sugere estudo

Pesquisa com 253 pacientes atendidos no Hospital das Clínicas mostra que solteiros, viúvos e divorciados apresentaram 2,3 vezes menos chances de controlar a pressão arterial alta do que os casados ou em união estável

01/02/2021
Por Ivanir Ferreira

O estado civil pode interferir no índice de controle da pressão arterial das pessoas, sugere pesquisa da Escola de Enfermagem (EE) da USP. Segundo o estudo, realizado com dados de 253 pacientes atendidos em um ambulatório de alta complexidade do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), mulheres e homens casados ou aqueles que vivem em união estável têm 2,3 vezes mais chances de controlar a hipertensão do que os solteiros, viúvos e divorciados. A pesquisa recebeu prêmio no 27º Congresso da Sociedade Brasileira de Hipertensão como melhor trabalho da área multidisciplinar.

Mayra Cristina da Luz Pádua Guimarães, autora da pesquisa apresentada na Escola de Enfermagem da USP – Foto: Acervo pessoal da pesquisadora

O grupo estudado era composto de homens (39,3%) e mulheres (61,7%) acima de 18 anos (média de 60 anos). A maioria era casada (52,8%) e com ensino médio completo (44,3%). Foram coletadas informações biossociais (características sociais, como renda, raça, idade, etc.), etilismo (consumo de álcool), tabagismo, atividade física, morbidades, medicamentos em uso e avaliação de adesão ao tratamento pela escala terapêutica de Morisky (perguntas feitas aos pacientes, cujas respostas permitem saber se são aderentes ou não a um tratamento).

Além de mostrar que homens e mulheres casados ou que viviam em união estável tinham mais chances de controlar a pressão arterial, o estudo também observou que 69,2% dos hipertensos estavam com a pressão arterial controlada e 90% informaram fazer tratamento medicamentoso. Esses achados chamaram a atenção dos pesquisadores, principalmente a taxa de controle dos hipertensos, semelhante à de países desenvolvidos. Mas Mayra ressalta que essa não é a realidade do restante do País, pois o controle da pressão tem sido um grande desafio.

Polifarmácia

O estudo mostrou também que o uso de muitos medicamentos interferia no índice de controle da pressão arterial. Quanto maior o número de medicamentos em uso (polifarmácia), menor era a chance de controle. A cada fármaco prescrito ao tratamento, a chance de controle diminuía em 21,3%.

Segundo a pesquisadora, na literatura médica, o uso de cinco ou mais medicamentos já é considerado polifarmácia. O fenômeno está associado ao aumento do risco e da gravidade das reações adversas ligadas a interações medicamentosas e à redução de adesão ao tratamento. Os hipertensos da pesquisa apresentavam outras doenças como diabete e dislipidemia (níveis aumentados de gordura no sangue), que também requerem tratamento medicamentoso, o que justificaria o elevado número de fármacos.

O uso de um grupo de medicamentos utilizado para tratamento de hipertensão (bloqueadores de canal de cálcio) influenciou no controle. Os hipertensos que faziam uso desses fármacos apresentaram 55,9% menos chances de controlar a pressão arterial. 

Segundo a pesquisadora, “essa associação negativa do bloqueador do canal de cálcio com o controle da pressão é difícil de ser analisada pois são anti-hipertensivos eficazes: reduzem a morbimortalidade cardiovascular, possuem boa tolerabilidade e proporcionam segurança no tratamento da hipertensão arterial. Diversos fatores podem ter influenciado nesse resultado, tais como a complexidade da condição dos hipertensos e, consequentemente, dificuldade de controle da pressão”, diz a pesquisadora ao Jornal da USP. Morbimortalidade cardiovascular é um conceito que se refere ao índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica dentro de determinado grupo populacional.

Hipertensão

No Brasil, a hipertensão arterial atinge cerca de 31% dos adultos e 60% dos idosos. É a principal causa de morbimortalidade cardiovascular e o controle da pressão arterial é a forma mais eficaz de evitar complicações.

Segundo a pesquisadora, a meta de controle não é uma tarefa fácil de ser atingida por falta de implementação de estratégias populacionais. Ter uma fonte usual de cuidados, otimizar a adesão ao tratamento e minimizar a inércia terapêutica (garantir que a dose e os números de medicamentos estejam corretos para cada indivíduo) estão associados a maiores taxas de controle. 

Uma parceria entre paciente, profissionais de saúde e sistema de saúde incorpora uma abordagem multinível para o controle da hipertensão e pode trazer resultados mais satisfatórios, diz Mayra.

A dissertação de mestrado Controle da hipertensão arterial em um ambulatório especializado de alta complexidade foi apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem na Saúde do Adulto da Escola de Enfermagem (EE) da USP. Um artigo será enviado para publicação na revista International Journal of Clinical Practice.

Mais informações: e-mail mayraguimaraes@usp.br, com Mayra Cristina da Luz Pádua Guimarães, ou e-mail pierin@usp.br, com Ângela Maria Geraldo Pierint