Adriana empreendeu uma ampla pesquisa de campo, na qual teve a oportunidade de visitar, em mais de uma ocasião, o Museu Penitenciário Paulista, também localizado na área do Parque da Juventude. A pesquisadora declara que percebeu a existência de uma diretriz operando ali, com a finalidade de ocultar a real natureza do ocorrido no Carandiru. Ela chega a afirmar que os funcionários não concordavam com a visão expressa pelo órgão, mas tinham que reproduzi-la, já que se tratava de uma orientação institucional.
Uma das Etecs possui uma biblioteca, mas que também não tem a prerrogativa de preservar a memória do massacre. Essa preocupação, aliás, não se encontra em nenhum dos espaços que substituíram o Carandiru. “Quando você não resolve estruturalmente essas questões, a memória continua a vir à tona. Ali é um espaço mal resolvido, não adianta só dizer ‘eu vou fazer um belo parque para a juventude, escola, biblioteca’, se não tem um trabalho de memória”, afirma a pesquisadora.
Outro exemplo do apagamento perpetrado pelas instâncias oficiais, segundo ela, são as tentativas de mudar o nome da estação da linha Azul do Metrô, de Carandiru para Parque da Juventude. Adriana encontrou quatro projetos de lei nesse sentido, todos com justificativas que defendiam o esquecimento. Esse esforço em ocultar a memória é muito perigoso, não apenas por esquecer do sofrimento das vítimas. Ao fazer isso, corre-se o risco de que os erros cometidos no passado se repitam no presente.
No entanto, ela fala de algumas ações que propõem um resgate, como o portal Memória Massacre Carandiru, que reúne documentos e materiais para refletir sobre o acontecimento, além de mapear a situação atual do nosso sistema carcerário. Adriana também aponta a arte como meio de não deixar a memória se perder. Um dos exemplos mais famosos é a música Diário de um Detento, do grupo Racionais MC’s, que retrata a invasão através do rap. O filme Carandiru, de Hector Babenco, é um outro exemplo citado pela pesquisadora em sua dissertação.
Ela ressalta que é indispensável haver esse contraponto de narrativas, a fim de que a realidade do passado não acabe sendo, aos poucos, substituída por um simulacro que só beneficia os responsáveis pelo massacre. “Existe muita resistência, ainda bem! Da arte, de instituições, de familiares, de sobreviventes. Para que essa memória não suma, o importante é continuar resistindo”, ela afirma.