Estudo preliminar indica que CoronaVac neutraliza novas variantes do Sars-CoV-2

A variante brasileira, potencialmente mais transmissível, tem sido apontada por epidemiologistas como uma das causas da alta recente de casos de covid-19

 12/03/2021 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 22/07/2024 às 16:48

Maria Fernanda Ziegler / Agência Fapesp

 

O governador do Estado de São Paulo, Márcio França, participa da abertura da Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe, com presença do ministro da Saúde, Gilberto Occhi. Foto: Governo do EStado de São Paulo/Flickr/Wikimedia Commons/CC POR 2.0

dropcap]U[/dropcap]m estudo preliminar realizado pelo Instituto Butantan sugere que a vacina CoronaVac pode neutralizar as variantes P.1. e P.2. do Sars-CoV-2. Além do relaxamento das medidas de distanciamento social nas festas de fim de ano e carnaval e o ritmo lento da vacinação, a variante brasileira (P.1.), potencialmente mais transmissível, tem sido apontada por epidemiologistas como uma das causas da alta recente de casos e mortes por covid-19.

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“A questão das variantes preocupa a todos nós. Precisamos de muita atenção e avaliar se as vacinas produzem anticorpos contra elas. Já sabíamos que a CoronaVac tinha eficácia comprovada contra as variantes do Reino Unido (B.1.1.7) e da África do Sul (B.1.351) e agora sabemos que a vacina é eficiente também contra as variantes P.1. e P.2.”, diz Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan em coletiva de imprensa no dia 10 de março.

A vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, é produzida no Brasil pelo Instituto Butantan. Os estudos clínicos com o imunizante têm apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

“O estudo foi feito em parceria com a USP em laboratório de biossegurança 3 (NB3), onde foi possível manipular o vírus. Na análise, adicionamos as variantes P.1. e P.2. a uma cultura celular que continha o soro de pessoas imunizadas. O resultado, embora ainda em um número pequeno de amostras, foi muito satisfatório. Os anticorpos presentes no soro neutralizaram a ação da variante P.1.”, afirma Ricardo Palacios, diretor médico de Pesquisa Clínica do Butantan.

A variante P.1., descoberta pela primeira vez em viajantes japoneses que retornavam de Manaus, já está circulando pelo Brasil e causa preocupação por ser potencialmente mais transmissível. Já a variante P.2., reportada inicialmente no Rio de Janeiro e que também está em circulação pelo País, não está entre as novas variantes de preocupação.

Na coletiva de imprensa, Covas ressaltou que as variantes são novas formas do vírus e algumas delas apresentam características extremamente preocupantes. “Este é o caso da B.1.17  (conhecida como variante do Reino Unido), cuja transmissão é aumentada de 30% a 50% e a gravidade dos casos é 30% superior. Já a variante B.1.351 (sul-africana) está relacionada a aumento da carga viral nos infectados e transmissão aumentada, sendo resistente à neutralização de anticorpos gerados por algumas vacinas ou por infecção natural prévia. A variante P.1. concentra as mutações principais das variantes do Reino Unido e da África do Sul”, afirmou.

“Por isso, trata-se de resultados animadores, mas acredito que o mais importante seja a junção desses resultados em laboratório com a resposta que estamos vendo na redução de infecção entre os idosos vacinados em fevereiro. Esse dado real, que também é preliminar, indica que a vacinação funciona e também funciona para as variantes em circulação”, diz Palacios à Agência Fapesp.

De acordo com dados da Prefeitura de São Paulo, em plena alta de casos da doença, a morte de idosos com mais de 90 anos despencou 70% – de 127 em janeiro, para 38 em fevereiro. Houve ainda redução drástica no número de hospitalizações. Esta é a faixa etária que foi imunizada.

Em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde reportou também a diminuição no número de pedidos de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em idosos com mais de 85 anos.

Resposta imune

O estudo em cultura celular com o soro sanguíneo de imunizados consegue avaliar apenas a resposta imune conferida pelos anticorpos. “Nesse tipo de estudo só é possível avaliar a resposta imune humoral, mediada por anticorpos. Sabemos que a resposta imune induzida pela vacina é muito mais ampla. Então é possível que a resposta na vida real seja ainda melhor que no laboratório. É algo que precisa ser verificado com mais testes, como o que estamos realizando na cidade paulista de Serrana”, afirma Palacios.

Em 17 de fevereiro, o Instituto Butantan iniciou no município paulista de Serrana um estudo que vai avaliar o impacto da vacinação no combate à pandemia de covid-19. Toda a população maior de 18 anos está sendo vacinada. Com isso, os pesquisadores vão medir o impacto da vacinação na transmissão do vírus e na redução da sobrecarga no sistema de saúde, bem como outros efeitos indiretos da imunização na economia, na circulação de pessoas e também sobre as novas variantes do Sars-CoV-2.

De acordo com os dados de acompanhamento genômico obtidos no estudo realizado em Serrana, as variantes P.1. e P.2. já são as mais prevalentes desde janeiro e fevereiro. “Estamos realizando o projeto Serrana e acompanhamos a evolução do vírus desde junho de 2020. Em dezembro, apareceram mudanças no vírus e, em janeiro, a P.2. já era a predominante no município. De janeiro a fevereiro já predomina a P.1. – a mais agressiva. O que aconteceu em Serrana pode ter acontecido em outros municípios brasileiros também”, explicou Covas (leia mais em: agencia.fapesp.br/35325).

“Outro fator que estamos acompanhando com interesse é a vacinação na Colômbia. Lá foram comprados imunizantes da Sinovac, diretamente da China, e o plano nacional de vacinação colombiano priorizou a região amazônica que faz fronteira com o Brasil, onde surgiu a variante P.1. É preciso acompanhar, pois pode ser mais um indicador de que a CoronaVac neutraliza a nova variante de preocupação”, diz.

Um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) mostrou que a imunidade natural é cerca de seis vezes menos eficiente para neutralizar a variante brasileira P.1. do que a chamada linhagem B, que circulou no País nos primeiros meses da pandemia. O estudo também mostrou que soro de vacinados com a CoronaVac neutralizou fracamente tanto a linhagem B quanto a P.1. Os dados são preliminares e se baseiam na análise de apenas oito amostras (leia mais sobre o assunto no link).

Este texto foi originalmente publicado por Agência Fapesp de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.


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