
Pesquisa realizada na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP mostra como os estudos da sociologia brasileira produzidos entre as décadas de 1940 e 1960 tiveram o importante papel de ressignificar os termos étnico-raciais, mudando, assim, a ideia de raça vigente na época. É o que mostra a investigação do sociólogo Gustavo Taniguti a partir da análise de estudos sobre imigração produzidos no País no período, situando esses trabalhos na trajetória disciplinar da sociologia.
A pesquisa A imigração segundo os cientistas sociais brasileiros: os estudos da Unesco entre as décadas de 1940 e 1960 examina em detalhes a dinâmica das produções sociológicas e antropológicas a respeito da imigração para o Brasil. Taniguti analisou não só as obras, mas seus autores, as instituições por trás da pesquisa e seus incentivos.
“Com base nos bastidores da produção, podemos fazer uma melhor reflexão das obras e entender seus modelos de análises”, explica. Segundo o pesquisador, é comum no mundo acadêmico a prática de revisar produções do passado para classificá-las de um modo mais atual. Pode-se descobrir novos sentidos e entendê-las melhor, comparando-as com os estudos atuais.
.

Mudança de perspectiva
O pesquisador encontrou uma mudança de perspectiva dos estudos feitos nesses 20 anos. Ao comparar as produções científicas, pôde perceber que o modelo de análise mudou de uma década para outra. Na primeira década estudada, as pesquisas brasileiras apresentavam o modelo de análise cultural assimilacionista, ou seja, acreditava-se que os imigrantes abandonariam seus costumes gradativamente enquanto assimilariam a cultura local.
Com a mudança de contexto político brasileiro e a intensificação do intercâmbio de produções sociológicas e antropológicas entre o Brasil e o mundo a partir dos anos 1950, essa visão foi sendo progressivamente questionada, dando espaço a uma nova forma de enxergar o processo de integração do imigrante. Passou-se a entender que a presença do imigrante provocava uma troca entre estes e os nativos. Tal troca vai além dos aspectos culturais, abrangendo hábitos, ideias e ideais, como a noção de cidadania e qualidade no local de trabalho.
.

Essa nova perspectiva da antropologia foi, segundo o autor dessa pesquisa, uma importante reação das ciências humanas ao biologismo da época, o qual defendia que as diferenças sociais, econômicas e culturais se davam por questões raciais entre os seres humanos.
Outra constatação de Gustavo Taniguti foi o fato de que os estudos da época sobre imigrantes foram realizados, em sua grande maioria, por estudiosos imigrantes. Mais um dado revelado é a presença da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) em contato com pesquisadores do Brasil antes de 1950, década em que se acreditava ter acontecido os primeiros contatos entre a organização e o País.
A pesquisa tem orientação de Sedi Hirano, professor da FFLCH, e se encerra em novembro desde ano.
Mais informações: e-mail gustavotaniguti@gmail.com, com Gustavo Taniguti