
Um equipamento desenvolvido no Grupo de Óptica do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP tem apresentado resultados promissores na detecção de complicações orais, como o câncer de boca. Trata-se de um aparelho portátil que emite luz violeta em determinada intensidade, como informa Sebastião Pratavieira, pesquisador do Grupo de Óptica. O equipamento, batizado Evince, já se encontra disponível no mercado, dedicado a profissionais, sendo comercializado pela empresa MMOptics (São Carlos – SP).
A pesquisa tem sido desenvolvida pelo cirurgião-dentista Sérgio Araújo Andrade, do Núcleo de Pesquisa em Química Biológica (NQBio) da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), em Divinópolis (MG), com a coordenação do professor Vanderlei Salvador Bagnato (IFSC) e dos pesquisadores Sebastião Pratavieira e Fernando de Pilla Varotti (NQBio-UFSJ).
Segundo Pratavieira, o interesse em usar a técnica na análise dessas lesões se deve ao fenômeno da fluorescência: quando a luz violeta entra em contato com a região bucal, as moléculas presentes nas células do tecido humano sadio a absorvem, ocorrendo a emissão de uma fluorescência na cor verde; nas regiões em que há complicações na pele, a fluorescência é emitida pelas moléculas em tom mais escuro. A visualização é feita através do visor (um filtro óptico) do aparelho.
Durante a pesquisa, vários tumores foram detectados na cavidade bucal de pacientes, sendo que, em um dos casos, a avaliação com o auxílio do Evince se deu desde a detecção e diagnóstico do câncer oral até a fase de acompanhamento após o tratamento. Pratavieira explica que, assim, notou-se alterações na intensidade da emissão de luz, de acordo com o agravamento e tratamento da lesão cancerígena. O caso foi publicado na revista científica Photodiagnosis and Photodynamic Therapy, por meio de uma parceria com Marisa Maria Ribeiro, cirurgiã-dentista da Prefeitura Municipal de Divinópolis (MG).
O especialista do IFSC explica que as lesões podem ser visualizadas a olho nu, com o auxílio de luz branca (luz convencional que se usa, por exemplo, em residências e consultórios), mas que a fluorescência óptica dá maior contraste às complicações, incluindo aquelas que podem surgir nos dentes.
No entanto, no que se refere ao câncer oral, Pratavieira enfatiza que o Evince é uma técnica de rastreio, ou seja, é uma ferramenta que auxilia um especialista em análises, não sendo capaz de substituir o tradicional diagnóstico de câncer, que por sua vez ainda é feito a partir de biópsia (procedimento invasivo em que se retira parte da lesão para examiná-la).
Mais recentemente, os pesquisadores têm acompanhado outros pacientes, visando à obtenção de novos resultados que reforcem a eficiência do uso da técnica na análise de eventuais lesões cancerígenas.
Auxiliando na detecção de bala de arma de fogo
Sérgio Araújo, do NQBio –UFSJ, comumente inspeciona seus pacientes com o auxílio do equipamento em questão. Certa vez, durante a rotina de uso do aparelho de fluorescência, Araújo observou uma mancha escura no céu da boca de uma paciente e a encaminhou para o exame de radiografia, a partir do qual soube que a lesão correspondia a chumbo liberado por uma bala de arma de fogo, alojada na paciente. Com a luz branca, segundo Pratavieira, a mancha não havia sido observada: “A fluorescência está sempre expandindo ou revelando coisas que, com a luz branca tradicional, a gente não vê”. Esse último caso foi relatado em um artigo científico publicado pela Photomedicine and Laser Surgery.
Rui Sintra e Thierry Santos / Assessoria de Comunicação do IFSC