Área de Mata Atlântica: melhor compreensão sobre o que impulsiona o armazenamento de carbono florestal, especialmente em florestas tropicais altamente alteradas, pode antecipar os resultados de mudanças globais em florestas mais intactas, como na Amazônia, além de otimizar a eficiência dos projetos de conservação e restauração de carbono, apoiando soluções baseadas na natureza para diminuir o impacto das mudanças climáticas – Foto: Vinicius Deppizol/ Flickr

Atividade humana na Mata Atlântica tem potencial de aumentar perda de carbono florestal em 15,24%, calcula estudo

Queda de carbono acumulado na mata pode fazer crescer as emissões na atmosfera, levando a mudanças no clima, com elevação de temperatura

 25/07/2022 - Publicado há 2 anos

Autor: Júlio Bernardes

Arte: Ana Júlia Maciel

A atividade humana em áreas de Mata Atlântica pode aumentar em 15,24% a perda de carbono florestal na região, o que, além de fazer crescer as emissões na atmosfera, levaria a mudanças no clima, com elevação de temperatura. A estimativa faz parte de uma pesquisa com participação do Instituto de Biociências (IB) da USP, que analisou 892 inventários florestais nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil e calculou a quantidade de carbono acumulada pela cobertura vegetal da região. De acordo com o estudo, medidas de proteção ambiental que levem em conta a biodiversidade da região têm potencial para aumentar o estoque de carbono florestal em 17,44%, reduzindo emissões e os efeitos das mudanças climáticas.

As conclusões do trabalho são detalhadas no artigo Human impacts as the main driver of tropical forest carbon, publicado na revista científica Science Advances em 17 de junho. A pesquisa analisou dados de 892 inventários florestais distribuídos ao longo de toda a Mata Atlântica. “Esses dados fazem parte do Neotropical Tree Communities database, esforço contínuo de compilação e organização de dados da comunidade de plantas no leste da América do Sul”, explica a pesquisadora Marcela Venelli Pyles, da Universidade Federal de Lavras (UFLA), primeira autora do artigo.

Pelo Instituto de Biociências da USP, participaram do estudo os pesquisadores Gregory Pitta e Renato Lima. “A melhor compreensão sobre o que impulsiona o armazenamento de carbono florestal, especialmente em florestas tropicais altamente alteradas, pode antecipar os resultados das mudanças globais em florestas mais intactas, como por exemplo, na Amazônia”, aponta Marcela. “Ao mesmo tempo, seria possível otimizar a eficiência dos projetos de conservação e restauração de carbono, e apoiar soluções baseadas na natureza para a mitigação das mudanças climáticas.”

Marcela Venelli Pyles – Foto: Arquivo Pessoal

Conservação

O estudo mostra que a conservação dos estoques de carbono da Mata Atlântica é bastante afetada pela degradação florestal, a qual pode gerar perdas maiores do que qualquer futura mudança climática. “Por exemplo, a intensificação de distúrbios dentro de um fragmento de mata nativa pode levar a perdas de 15,24%, enquanto a proteção e aumento do carbono florestal poderiam alcançar ganhos de até 17,44%”, descreve Marcela.

“Os estoques de carbono também estão altamente ameaçados pelas mudanças climáticas, mais especificamente pelo aumento de temperatura e de estresse hídrico”, ressalta a pesquisadora. “Se o aquecimento global for restringido a 1,5°C [graus Celsius] acima dos níveis pré-industriais, a perda de carbono na Mata Atlântica seria de apenas 5,12%, no entanto, se o aquecimento global continuar em sua taxa atual, a perda pode atingir 13,11%.”

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Segundo Marcela, as iniciativas com o objetivo de mitigar as mudanças climáticas por meio da restauração de florestas poderiam se beneficiar da inclusão de espécies com maior densidade de madeira, sementes mais pesadas e folhas maiores. “A relação entre a biodiversidade e os estoques de carbono é fraca na Mata Atlântica”, destaca. “Assim, políticas de conservação focadas apenas no carbono podem falhar na proteção da biodiversidade, o que reforça a importância de criar mecanismos complementares e separados para alcançar também essa conservação ”, enfatiza.

A pesquisadora afirma que as políticas de conservação devem levar em conta os aspectos metodológicos usados para a quantificação dos estoques de carbono. “Diferenças entre as metodologias usadas em campo podem levar a erros na estimativa e, consequentemente, à má interpretação e ineficiência de ações de mitigação dos efeitos do clima”, salienta.

Também fizeram parte do estudo os pesquisadores Rubens Manoel dos Santos, Eduardo Van Den Berg e Vinícius Andrade Maia, da UFLA, Luiz Fernando Silva Magnago, da Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), Bruno Pinho, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), André L. de Gasper e Alexander C. Vibrans, da Universidade Regional de Blumenau (FURB), em Santa Catarina.

Mais informações: e-mails raflima@usp.br, com o professor Renato Augusto Ferreira de Lima, e marcelav.pyles@gmail.com, com Marcela Pyles


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