Artigo discute a situação de alunos alto-habilidosos na realidade educacional do País

Publicado na revista “Cadernos CERU”, artigo descreve pesquisa que mostra a invisibilidade de alunos da Baixada Santista com características de altas habilidades/superdotação (AH/SD)

 05/05/2021 - Publicado há 4 anos

Margareth Artur / Portal de Revistas da USP

Foto: Katie Phillips via Pixabay

 

Estudantes alto-habilidosos são aqueles que apresentam características de altas habilidades/superdotação (AH/SD), terminologia utilizada pelo Conselho Brasileiro para Superdotação (ConBrasd). Mas diante da defasada realidade educacional brasileira, como as escolas e os professores lidam com esses alunos? E como se comportam os que fazem parte desse grupo diante dessa situação? Esse tema é discutido em um artigo de autoria do pesquisador Leandro Pinheiro, publicado na revista Cadernos CERU, do Centro de Estudos Rurais e Urbanos. Por meio de pesquisa e entrevistas com alunos moradores da Baixada Santista, o artigo mostra a invisibilidade de estudantes alto-habilidosos.

O autor não encontrou trabalhos que abordassem o tema da superdotação, tanto pela falta de interesse das ciências sociais em levar o tema para uma discussão abrangente com a população, como pela negligência governamental brasileira em uma sociedade capitalista que não prioriza a educação. Pinheiro se propõe a verificar o porquê dessa invisibilidade que, certamente, impacta a realidade de como é vista a educação brasileira.

As entrevistas com os alunos evidenciaram a invisibilidade desses estudantes na escola e durante as aulas e mostraram que eles “têm seu direito ao atendimento educacional especializado negado”. 

E os alunos, como percebem suas habilidades? Como se sentem perante uma classe que aprende as matérias mais devagar do que eles? Como é o relacionamento com os colegas e professores? No relato das conversas do autor com os estudantes, percebe-se a proposta de uma reflexão dos alunos a respeito “de como se sentem na escola”. E a escola generaliza os sujeitos, consequência da política educacional que visa a preparar professores para ensinar matemática, português, ciências ou outras matérias, mas não para atender aos estudantes, escutá-los em suas diferenças, valorizando todos no atendimento particularizado.

O artigo é o resultado da iniciativa de “dar voz a estes sujeitos que, normalmente, não têm oportunidade de refletir sobre seus processos de escolarização”As entrevistas revelaram informações importantes sobre o discernimento de “possíveis alto-habilidosos, sobre suas experiências escolares e o fenômeno da invisibilidade”.

Foto: Public DomainPictures via Pixabay

 

Para as seguintes perguntas do autor aos estudantes: Você já ouviu falar em superdotação/altas habilidades? e “Você acha que aprende mais rápido que os outros alunos?, a resposta foi sim. As perguntas a respeito da invisibilidade, como: “Os professores sabem de sua inteligência? O que fazem com isso?” e “Você se considera alguém com superdotação/altas habilidades?”, as respostas mostraram bom conhecimento dos entrevistados sobre o conceito geral de AH/SD. Ao contrário do que se imaginava, alguns professores estavam cientes do assunto, sabendo não só identificar as altas habilidades, como auxiliar meninas e meninos, realizando atendimentos fora dos horários das aulas para esclarecer dúvidas, discutir assuntos, indicar livros para ampliar o conhecimento dos estudantes ou mesmo permitir que eles ajudem os demais alunos da classe em suas dificuldades.

Com as entrevistas, pudemos verificar a diferença entre escolas que desenvolvem trabalhos com o tema das altas habilidades/superdotação e as demais”, afirma Leandro Pinheiro. É importante observar que os estudantes considerados com altas habilidades não as atribuem apenas “a fatores inatos ou genéticos” pois, segundo eles mesmos, o ótimo desempenho nas aulas é produto da atenção total ao que está sendo ensinado e da prática de hábitos constantes e funcionais de estudo diário. O significado do estudo e o desejo de melhores condições de vida, principalmente nas classes trabalhadoras, podem ser alguns dos motivos que levam os estudantes a esforçarem-se muito mais do que outros e, assim, se destacarem. 

Um aluno confessa que, mesmo que os professores o reconheçam como portador de talentos especiais, a escola não oferece o que ele busca para sua ânsia de conhecimento, notadamente pela “dificuldade em se efetuar o enriquecimento curricular, de modo eficaz, na atual situação de trabalho dos docentes”, pela falta de programas e políticas incentivadoras desses alunos que podem, futuramente, contribuir ativamente com pesquisas, descobertas criativas e estudos imprescindíveis em todas as áreas do conhecimento. Porém, seria injusto atribuir aos professores a invisibilidade dos alunos talentosos, pois muitos docentes procuram incentivar e atender, na medida do possível, esses estudantes.

Artigo

PINHEIRO, L. da N. A invisibilidade dos estudantes com características de Superdotação. Cadernos CERU, v. 31, n. 2, 92-109, 2021. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ceru/article/view/182056. Acesso em: 10 mar. 2021.

Contato

Leandro da Nobrega Pinheiro – Doutor em Educação e gestor educacional na Prefeitura Municipal de Cubatão. leandronobregapinheiro@gmail.com 


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