Arqueólogos da USP vão buscar os vestígios dos últimos neandertais

As primeiras evidências da presença da nossa espécie irmã na Romênia foram encontradas no século passado e as buscas foram retomadas no final de abril deste ano

 10/05/2024 - Publicado há 2 meses     Atualizado: 13/05/2024 as 13:38

Texto: Ivan Conterno*

Arte: Beatriz Haddad**

Missão científica brasileira em busca de sítios arqueológicos de neandertais. Sentados, da esquerda para a direita, os cientistas da USP André Strauss (MAE), Walter Neves (IEA) e Clóvis Monteiro (IEA); em pé, Giancarlo Scardia, da Unesp – Foto: André Strauss

Uma equipe de pesquisadores brasileiros e romenos se reuniu para descobrir sítios arqueológicos na Garganta do Varghis, que fica na extremidade leste da Transilvânia, na Romênia. O Brasil é representado por Walter Neves e Clovis Monteiro, ambos do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP; André Strauss, do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP; Giancarlo Scardia, da Unesp. Os romenos participantes são Marian Kosac e George Murtoreano, da Universidade de Valahya; e Stefan Vasile, da Universidade de Bucareste.
As primeiras evidências da presença neandertal nessa caverna romena foram encontradas em meados do século 20 e as buscas foram retomadas em abril deste ano - Foto: André Strauss
As primeiras evidências da presença neandertal nessa caverna romena foram encontradas em meados do século 20 e as buscas foram retomadas em abril deste ano - Foto: André Strauss

Desde 21 de abril, a equipe formada por arqueólogos da USP, da Unesp e da Universidade de Valahya retomaram as escavações na caverna romena onde as primeiras evidências da presença neandertal foram encontradas em meados do século 20.

Ilustração cedida pelo pesquisador

Ferramentas dos neandertais

Os pesquisadores encontraram uma ponta Levallois no último dia 29 de abril, uma comprovação da presença neandertais no sítio Abri 122, na extremidade leste da Transilvânia.

A ponta Levallois é uma tecnologia de pedra lascada triangular bastante simétrica com uma ponta na extremidade.

O mistério do Mar Negro​​

De acordo com as hipóteses mais aceitas, tanto os Homo sapiens quanto os Homo neanderthalensis descendem do Homo heidelbergensis. Os sapiens surgiram na África , enquanto os neanderthalensis têm origem na Europa.

O desaparecimento da nossa espécie irmã coincidiu com a chegada dos indivíduos da nossa espécie na Europa. Não se sabe ao certo se os neandertais foram eliminados na disputa por recursos ou se não suportaram as doenças trazidas pelos Homo sapiens que vieram da África e passaram pelo Oriente Médio. 

Ponta obtida por técnica usada por neandertais. Foto: André Strauss
Cerâmica da idade do bronze encontrada pelos pesqusiadores – Foto: André Strauss

Essa convivência deixou evidências nos humanos modernos, que possuem entre 2% a 4% de DNA neandertal.  Existem três crânios antigos de homo sapiens conhecidos na Romênia, com cerca de 35 mil anos. Neles é possível encontrar 6% da genética neandertal, um dos maiores índices do planeta, o que indica uma interação mais intensa na região. No entanto, ainda não foram encontrados esqueletos neandertais na região.

A missão científica romeno-brasileira tem apoio da Fapesp. A equipe utiliza metodologias modernas para encontrar sítios arqueológicos e paleontológicos com foco na descoberta de vestígios neandertais.  Em uma missão anterior na Jordânia, a equipe liderada por Neves descobriu artefatos de pedra feitos por humanos que datam de 2,5 milhões de anos, o que pode alterar a cronologia da expansão dos nossos ancestrais para fora da África.
“Até urso tem aqui”, avisa o arqueólogo – Foto: André Strauss
“Até urso tem aqui”, avisa o arqueólogo – Foto: André Strauss
"Tem bastante morcego”, comentou o pesquisador da USP André Strauss – Foto: Stefan Vasile
"Tem bastante morcego”, comentou o pesquisador da USP André Strauss – Foto: Stefan Vasile

Repletas de morcegos e ursos, as cavernas exploradas na Romênia são o reduto provável dos últimos neandertais. Essa primeira viagem busca sítios antigos para serem escavados entre agosto e setembro de 2024, na primeira missão paleoantropológica brasileira na Europa.

*Estagiário sob orientação de Luiza Caires
**Estagiária supervisionada por Moisés Dourado e Simone Gomes


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