Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 720 mil pessoas morrem por suicídio todo ano no mundo, sendo essa a terceira maior causa de mortes entre jovens de 15 a 29 anos. Ainda, segundo a OMS, 73% dos casos de morte ocorrem em países de baixa e média renda, como o Brasil, por exemplo.
Natália Gallo Mendes Ferracioli, doutoranda e mestre em psicologia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP diz que o suicídio é uma questão extremamente complexa que engloba fatores internos e externos, que se interagem e se potencializam. “Os fatores sociais e culturais influenciam o comportamento suicida. A concentração de suicídios nos países de baixa e média renda está ligada à vulnerabilidade dessas populações, tanto em aspectos econômicos, mas especialmente em relação à falta de acesso adequado a direitos básicos, como sistema de saúde, educação, moradia e alimentação.”
No Brasil, 12,6 por cada 100 mil homens, em comparação com 5,4 por cada 100 mil mulheres, morrem devido ao suicídio, de acordo com os dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, divulgado pelo Ministério da Saúde. A professora Kelly Graziani Giacchero Vedana, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, estudiosa do assunto, aponta que, apesar dos índices de suicídio serem maiores entre os homens, o índice de tentativas de suicídio é maior entre mulheres.
“As mulheres sofrem com algumas iniquidades, sobrecarga, questões ligadas a piores condições de trabalho, remuneração. Mas também existem fatores que são mais positivos para as mulheres, principalmente pensando no envelhecimento; essas discrepâncias aumentam porque as mulheres tendem a ter mais suporte, cuidado com a própria saúde, buscar atendimentos para a saúde, incluindo saúde mental, e tendem a falar mais sobre as suas emoções e buscar mais apoio”, afirma a professora.
Já Natália diz que as hipóteses para esse paradoxo de gênero estão pautadas nas ideias sobre masculinidade que são disseminadas culturalmente. “Seria um demérito ou uma fraqueza falar sobre o sofrimento, pedir ajuda, se desvencilhar das pressões de ser forte e imbatível. Isso acaba dificultando os cuidados dos homens com a saúde, tanto física quanto mental, e sendo alimentado por tabus, estigmas, como se quem precisasse de ajuda fosse fraco, o que não é verdade.”
Setembro Amarelo
Para este ano, o lema da campanha Setembro Amarelo é “Se precisar, peça ajuda!”. A campanha realiza ações de prevenção em nível universal, buscando conscientizar a população sobre o tema. “A ideia é trazer informações para desestigmatizar algo que, por ser um tabu durante muito tempo, era visto como um tema sobre o qual não se deveria ou não se poderia falar. A campanha veio mostrar que é preciso falar, mas de forma adequada e com os devidos cuidados e conhecimentos”, aponta Natália.
Nem sempre os sinais de que um indivíduo está em sofrimento mental são facilmente identificados. Por isso, é necessário ficar atento a expressões de sofrimento, desespero, desesperança, sintomas depressivos e de raiva, afirma Kelly.
“Outras questões que merecem atenção são alguns comportamentos de desinteresse pelo próprio bem-estar e pelo próprio cuidado, como se expor a situações de risco que possam ser letais ou situações ligadas à violência, uso de substâncias e alterações de comportamento de modo geral”, diz a enfermeira.
Natália aponta que existem recursos e formas de apoio para pessoas que estão em risco de suicídio, e também para as suas famílias. “É muito importante o auxílio de um profissional de saúde mental, como psicólogos, para realizar psicoterapia e outras intervenções que sejam pertinentes.”
Existem também canais de ajuda, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), gratuito e disponível 24 horas pelo telefone 188. Além disso, o site mapasaudemental.com.br disponibiliza informações sobre locais que oferecem ajuda de forma gratuita e voluntária.
Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
Kelly diz que a EERP atua na promoção e proteção da saúde mental por meio de grupos de pesquisa. A professora lidera dois grupos desde 2013, o Laboratório de Estudos e Pesquisa em Prevenção e Posvenção do suicídio (Leps) e o Centro de Educação em Prevenção e Posvenção do Suicídio (Ceps).
“Nós atuamos na pesquisa e extensão, educando pessoas com a ampliação do conhecimento e das habilidades para a prevenção do suicídio, ensinamos as pessoas a lidar melhor com algumas situações que possam ser estratégicas para prevenção. Além disso, temos oficinas, cartilhas, cursos, disciplinas, ensino baseado em simulação e jogos relacionados a diferentes assuntos, como comunicação segura, fortalecimento de fatores de proteção e apoio”, diz a professora.
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone
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