
Segundo pesquisa realizada pelo Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) e o Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP), 75% dos médicos e enfermeiros do Estado sofreram alguma violência no ambiente de trabalho. A situação tem aumentado em todo o País e é atribuída, principalmente, ao serviço público. É o que afirma a conselheira federal, Helena Maria Carneiro Leão, do Conselho Federal de Medicina (CFM).

“Falta estrutura e segurança para o exercício da medicina, os profissionais e pacientes estão expostos a situações de violência e desconforto. Nós sabemos que é de responsabilidade municipal, estadual e federal garantir dignidade a esse atendimento. Tudo isso repercute diretamente na assistência e os estabelecimentos de saúde ficam vulneráveis”, diz.
Para a professora Marta Rodrigues Maffeis, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP e especialista em Direito Médico, essas agressões se baseiam na demora e na qualidade do atendimento. “Além da demora para ser atendido, a consulta acaba sendo muito superficial, o médico dá pouca atenção para o paciente e não ouve o paciente com cuidado, o que acaba gerando muitas queixas.”
O Brasil possui 562 mil processos voltados para a área da saúde, sendo a média de processos per capita de 1,02 por mil habitantes, segundo um levantamento feito pelo CFM junto com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ). As especialidades mais demandadas nos processos são Ginecologia e Obstetrícia (23,8%), Clínica Médica (11,9%), Cirurgia Plástica (9,5%), Pediatria (9,5%) e Neurocirurgia (4,8%).
“Esperamos que o médico seja um perito que conheça e saiba sobre a técnica para atender da melhor forma o paciente, e caso exista mais de uma possibilidade de procedimentos que ele apresente ao paciente. É necessário dizer quais são as vantagens e desvantagens de cada procedimento. Quando o paciente não entende e não é bem informado, ele pode demandar um processo contra o profissional”, diz a professora.

Além disso, Marta aponta que a alta taxa de processos contra os médicos no Brasil mostra que o sistema de saúde está em crise. “Além da falta de profissionais, faltam aparelhos, materiais adequados, corpo administrativo para ajudar na triagem e no atendimento ao público. O médico acaba tendo um ambiente de trabalho que não é adequado.”
A conselheira federal diz que por conta dessas violências a relação entre médico e paciente pode ser quebrada e causar muitos transtornos. “Quando acontece a quebra dessa relação, seja por uma violência, agressão, pela falta de condição de trabalho, estrutura e segurança, tudo vai ficar comprometido. O impacto é incalculável entre as pessoas que estão nessa relação interpessoal e para a sociedade como um todo.”
Marta diz que para melhorar esse cenário de conflitos entre médicos e pacientes “é necessário uma atenção maior dos nossos governadores em relação ao Sistema Único de Saúde (SUS), e também, na saúde privada. Olhar para a estrutura, material colocados para procedimentos, aparelhos para fazer exames, mais pessoas atendendo e dando encaminhamentos, para que os pacientes não tenham um atendimento tão demorado, pois esse é um fator desencadeante da violência”.
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior e Rose Talamone
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