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USP cria projeto para atendimento odontológico exclusivo para população transgênero
A iniciativa é da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto, que, além do atendimento, quer formar recursos humanos qualificados para atender essa população
AFaculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP coloca em prática, a partir deste mês, o projeto DTM Trans para preencher as lacunas para um atendimento odontológico eficaz voltado exclusivamente para a população transgênero. Segundo o professor Jardel Francisco Mazzi Chaves, que coordena a iniciativa, as pessoas trans enfrentam diversos desafios no acesso a cuidados odontológicos, incluindo a discriminação e a falta de treinamento dos profissionais de saúde para lidar com as necessidades específicas dessa população, além de barreiras socioeconômicas. “O preconceito e o estigma dentro dos consultórios odontológicos podem levar ao adiamento ou a evitação completa de tratamentos, resultando em piores condições de saúde bucal.”
São poucas as informações acerca da saúde bucal da população trans e os poucos estudos que existem apontam que ela é pior que a média geral da população, segundo o Boletim Epidemiológico Paulista Atenção integral à população trans: panorama da atuação do cirurgião-dentista na atenção primária à saúde, que reuniu profissionais da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
No Boletim, os profissionais também citam que o desenvolvimento de transtornos mentais são mais comuns nessa população, afetando os cuidados de higiene bucal e condições como a disfunção temporomandibular (DTM) e dor orofacial.
Mazzi-Chaves aponta que o medo de serem maltratados ou julgados nos consultórios odontológicos faz com que a população trans evite o cuidado preventivo. “O estresse, que também está associado à discriminação, pode contribuir para hábitos prejudiciais como o bruxismo e a má higiene bucal, agravando ainda mais essas condições.”
“O projeto oferece um ambiente acolhedor e livre de discriminação, com profissionais extremamente capacitados, desde o momento da entrada do paciente pela recepção até a cadeira odontológica. Além disso, o projeto educa os cirurgiões-dentistas em formação sobre como lidar com as implicações da terapia hormonal de afirmação de gênero na saúde bucal e desenvolver protocolos de tratamento adaptados, promovendo um cuidado mais integral e humanizado para essa população”, afirma o professor.
Ambiente inclusivo
Mazzi-Chaves acredita que a formação atual dos cirurgiões-dentistas não contempla de forma adequada às necessidades da população trans. “A maioria dos currículos de odontologia no Brasil não aborda a saúde LGBTQIA +, o que resulta em uma lacuna de conhecimento e despreparo dos profissionais para atender a essa população de maneira efetiva e sensível.”
Por isso, o professor diz que é necessário proporcionar um atendimento mais inclusivo. “Os cirurgiões-dentistas devem adotar práticas de acolhimento e respeito à identidade de gênero dos pacientes, como o uso correto de pronomes e nomes sociais, o ambiente clínico deve ser livre de discriminação e toda a equipe treinada para lidar com as necessidades específicas das pessoas transgênero.”
O professor afirma que o projeto DTM Trans já tem atuado de forma ativa e direta na formação de recursos humanos, contribuindo para a construção de profissionais com elevado nível de habilidade técnica e psicomotora, mas também com capacidade e sensibilidade para atender a toda essa população com acolhimento, respeito e responsabilidade.
A iniciativa é do projeto de extensão da Forp, em colaboração com as Faculdades de Medicina (FMRP), Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) e Escola de Enfermagem, todas da USP em Ribeirão Preto, com apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP, em parceria com o ambulatório de Incongruência de Gênero do Hospital das Clínicas (HC) e do Centro de Saúde Escola (CSE- Cuiabá), ambos da FMRP.
Os atendimentos do projeto DTM Trans serão gratuitos e tiveram início no último dia 13 de setembro, na Clínica 1, da Forp. O serviço será realizado toda sexta-feira, das 9 às 12 horas, e é voltado apenas para a população trans de Ribeirão Preto e região. Não há necessidade de inscrição antecipada, apenas chegar no horário de atendimento.
*Estagiária sob supervisão de Rose Talamone
**Estagiária sob supervisão de Moisés Dorado
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