Ribeirão Preto chegou à marca de 55.550 casos confirmados de covid-19 e 1.303 óbitos nesta quinta-feira, dia 11 de março. O aumento da demanda por leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na cidade também está em alta. Essa trajetória de alta na ocupação dos leitos de UTI vem acontecendo desde novembro de 2020 e se intensificou no último mês. No dia 8 de fevereiro eram 155 pacientes em UTI, um mês depois esse número passou para 196, um aumento de 30%, e hoje (11/3) são 207.
A situação levou a Secretaria Municipal da Saúde a aumentar os leitos de UTI, inclusive no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP) da USP. Segundo o professor Benedito Carlos Maciel, superintendente do HCFMRP, o número de leitos de enfermaria tem sido suficiente, mas a preocupação maior é justamente com leitos de UTI de adultos. “Na semana anterior o Hospital das Clínicas tinha 56 leitos de UTI e passou para 63, mas esse número deve chegar a 70 nos próximos dias.” O superintendente ainda alerta para a dificuldade de profissionais especialistas em terapia intensiva para atender a essa demanda.
Faltam profissionais especializados
Essa falta de profissionais também é uma preocupação da chefe da UTI do HCFMRP, Maria Auxiliadora Martins, pois não existem esses profissionais disponíveis no mercado. “O Hospital das Clínicas fez todo um esforço para recrutar profissionais, mesmo não especialistas, para tocar esses leitos e dar o atendimento necessário.”
Maria Auxiliadora afirma que o paciente de covid hoje, internado em UTI com necessidade de intubação, tem um novo perfil: “São pacientes jovens com 25 a 30 anos, sem comorbidade”, o que, segundo a médica, pode ser explicado pela nova variante do coronavírus.
Cenário vem se construindo desde novembro
Domingos Alves, professor e coordenador do Laboratório de Inteligência em Saúde da FMRP, diz que em janeiro já era possível observar recordes de casos por dia, o que mostra que esse cenário, com aumento de casos de covid e de óbitos, vem sendo construído desde novembro.
Ele alerta que a falta de testagem leva a um número de casos não compatível com o número de mortes. “A despeito dos recordes de casos e de óbitos de janeiro e fevereiro, você observa que o número de internações não é compatível com os números de casos, e isso se deve à redução do número de testes.”
Para o professor, esse cenário se construiu em função da política de criação de leitos para tratar a covid e não da contenção da transmissão do vírus.
“Toda a política do Estado de São Paulo foi voltada para o setor econômico e não de controle de saúde pública, foi uma política baseada na abertura de leitos e não na contenção da transmissão do vírus.”
Ele lembra ainda que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda medidas severas quando a taxa de ocupação de leitos passa de 80%. Na opinião do professor, todo o Estado na fase vermelha não é suficiente para barrar o aumento de internações no Estado de São Paulo. “Essa situação em março e abril vai se deteriorar e esse cenário vai se manter até o final do ano se não acelerarmos o processo de vacinação, e poderemos ter aqui o que está acontecendo na região Sul do País e no Amazonas.”