Projeto da USP leva ações educativas sobre qualidade da água e saúde ambiental para moradores de assentamento

Equipes da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto realizaram oficinas com orientações e medidas paliativas para garantir o uso seguro da água

 19/12/2024 - Publicado há 3 meses
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As imagens mostram grupos de pessoas participando de atividades ao ar livre e em ambientes internos. Na parte superior, há uma reunião sob uma árvore, onde os participantes estão sentados em círculo, em cadeiras de plástico. Na parte inferior, há atividades em um espaço coberto, com pessoas sentadas e uma mulher de pé falando, e outra cena em uma sala com mapas na parede e participantes interagindo, muitos usando máscaras faciais.
Ações da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto no assentamento Fazenda da Barra para melhorar a qualidade da água no local – Foto: Arquivos das pesquisadoras


Para ampliar o envolvimento da comunidade do assentamento Fazenda da Barra em temas como segurança hídrica, saúde ambiental e gestão de resíduos domésticos, pesquisadoras da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) criaram o projeto de extensão
Segurança Hídrica em um Assentamento Rural no Estado de São Paulo: Análise de Risco à Saúde Humana.

Mulher branca de cabelos castanhos e médios de comprimento, com brincos compridos e uma mão próxima do pescoço
Carolina Sampaio Machado – Foto: Arquivo Pessoal

O projeto, que nasceu a partir do estudo Saúde e Meio Ambiente: Um estudo sobre a qualidade da água em um assentamento rural em Ribeirão Preto, realizada como parte do pós-doutorado de Carolina Sampaio Machado, sob supervisão da professora Susana Segura Muñoz, promoveu oficinas educativas para orientar os moradores sobre a higienização de reservatórios de água potável, cloração, métodos para prevenir contaminações e busca por atendimento na unidade básica de saúde ao identificarem sintomas de infecções gastrointestinais. Segundo Carolina, “as oficinas buscam sensibilizar a população com relação à higienização do reservatório de água, caixas d’água, cloração da água a ser usada para fins domésticos, higienização de mãos e dos alimentos, pensando na segurança hídrica com relação a doenças transmitidas pelos agentes infecciosos identificados durante o período da pesquisa”.

Além disso, o projeto atuou na gestão de resíduos domésticos, com rodas de conversa sobre separação de materiais, consumo sustentável, coleta seletiva e uso de caçambas para descarte de resíduos sólidos. As atividades são parte do programa Educação Ambiental e Lixo: Dando Passos na Implantação da Gestão de Resíduos Sólidos no Meu Pedaço, que incentiva práticas sustentáveis no cotidiano da comunidade.

A coordenadora do projeto, professora Susana Segura Muñoz, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, ressalta que as ações visaram promover a saúde e prevenir doenças, mas reforça a necessidade de uma atuação contínua da gestão pública para garantir acesso à água potável, considerada um direito humano essencial pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo Susana, as atividades educativas serão realizadas até agosto de 2025.

Mulher branca com cabelos escuros e presos, de óculos e camiseta preta, com uma faixa branca com desenhos coloridos pendurada no pescoço.
Susana Segura Muñoz – Foto: Arquivo Pessoal

Além disso, o trabalho desenvolve ações com o poder público, sociedade civil e empresas privadas para avançar no acesso à água potável de qualidade para os moradores do assentamento. A enfermeira aposentada Maria Lúcia Pontin Leipner, que trabalhou por 34 anos na Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto, conta que, apesar dos diversos desafios, foi implantada uma unidade básica de saúde no assentamento em 2011, onde a equipe de saúde começou a realizar atendimentos.

“A equipe de saúde da família da Secretaria Municipal da Saúde ficou durante cinco anos em um container, e depois fomos para outro local cedido pelo movimento Mário Lago, pelo MST”, relata Maria Lúcia. Ela também destaca a existência de equipes de infraestrutura no assentamento, compostas por líderes de movimentos sociais que fazem reivindicações à prefeitura, como reparo das estradas e construção de tubulações de água no assentamento.

Pesquisa científica como base do projeto

A pesquisa que deu origem ao projeto de extensão mostrou que a água utilizada pela comunidade do assentamento Fazenda da Barra estava contaminada e em desacordo com os padrões de potabilidade do Ministério da Saúde. Assim, foram coletadas 234 amostras de água em 77 residências, e os resultados indicaram que 59,7% das amostras continham coliformes totais, 13% coliformes fecais e 20,8% larvas de helmintos. Além disso, em 28% das residências o pH estava abaixo do recomendado. “Os resultados encontrados indicaram que a água consumida pela comunidade do assentamento, naquele momento, era considerada com restrições hídricas para consumo humano, comprovado pela presença de coliformes, larvas de helmintos e concentrações de alguns metais, principalmente o chumbo, fora dos padrões da legislação brasileira vigente”, explica Carolina.

Mulher branca, de cabelos curtos e brancos, vestido florido em verde, colar branco, óculos escuro, sentada numa mesa de tampo branco, folhando pasta com recortes coloridos, na parede uma caixinha preta fixada na parede de onde sai um fio.
Maria Lúcia Pontin Leipner – Foto: Vladimir Tasca USP/Imagens

O estudo reuniu pesquisadores de diferentes unidades, dentre eles: o químico Danilo Vitorino dos Santos, da Central de Gerenciamento de Resíduos da Prefeitura do Campus de Ribeirão Preto, o professor Leonardo de Andrade, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP), Daniela Cássia Sudan, da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP), e o enfermeiro Gabriel Pinheiro Machado da EERP, quem colaborou com as coletas de amostras. A pesquisa destacou que os programas de reforma agrária no Brasil frequentemente não incluem políticas de saneamento rural, tornando a potabilidade da água um desafio para os assentamentos rurais.

Para amenizar a situação, os pesquisadores recomendaram medidas como cloração e fervura da água, construção de sistemas de encanamento com vedação adequada e ações educativas para a população sobre segurança hídrica. Essas recomendações serviram de base para o desenvolvimento das ações do projeto de extensão, que estão sendo desenvolvidas até hoje no Assentamento, com o apoio da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária (PRCEU) da USP.

Ouça a entrevista com Carolina Sampaio Machado e Maria Lúcia Pontin Leipner no player abaixo:

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