
O futuro manipulado está nas mãos da biologia sintética, uma área da biologia que cresce cada vez mais, e utiliza conceitos básicos de biologia molecular e engenharia, principalmente, além de física e química para melhorar sistemas biológicos já existentes ou criar novos. Estes sistemas melhorados ou criados podem ser células de um organismo, fungos, bactérias, parasitas ou até mesmo plantas.

A professora María Eugenia Guazzaroni, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, explica que a biologia sintética “é como uma biologia molecular que começou com a tecnologia do DNA recombinante, onde se utilizavam ferramentas moleculares que permitiam a manipulação genética de organismos, algo muito mais simples. Na biologia sintética, visamos à modificação genética dos organismos utilizando ferramentas mais sofisticadas, modelos matemáticos dos sistemas biológicos e princípios de engenharia”.
Ela também diz que como a biologia sintética “é uma disciplina tão ampla, existem vários campos de atuação”. Uma dessas áreas é a construção de microrganismos que sejam capazes de cumprir funções diferentes. “Para isso, tentamos reduzir o genoma desses microrganismos ao mínimo, de tal forma que eles só façam suas funções essenciais.” A professora diz ainda que a ideia da biologia sintética também é, além do desenvolvimento de novos sistemas biológicos e a modificação ou a criação de microrganismos ou organismos existentes, “a busca de remediação ambiental, ou seja, a criação de microrganismos mais resistentes que os atuais, que consigam lidar com seus compostos recalcitrantes, sumamente tóxicos, para degradar áreas contaminadas”.
A professora María menciona ainda como áreas de atuação da biologia sintética a agricultura, biotecnologia, indústria farmacêutica e medicina personalizada “uma das funções que acho mais importantes hoje”. Ela explica que, na medicina personalizada, a biologia sintética “busca desenhar probióticos para prevenção e para tratamento de doenças humanas”. Entre as doenças citadas pela professora e que podem ser prevenidas ou tratadas pela biologia sintética estão obesidade, alergias, doenças crônicas como diabete, inflamações, câncer e infecções por microrganismos diferentes.
Regulamentação
Por ser uma área relativamente nova, com projetos “inovadores e desafiadores”, segundo María, existem medos e riscos em relação à biologia sintética e esses medos e riscos, segundo a professora, são o bioterrorismo, o desequilíbrio ecológico e a biopirataria. Ela explica que “temos, sim, uma forte legislação em relação à introdução de organismos geneticamente modificados, mas hoje em dia ainda existem poucos limites éticos para o uso da biologia sintética”.
Ela afirma ainda que, como toda nova tecnologia, os limites precisam ser bem pensados observando casos já existentes. A professora cita como caso a ser observado o genoma mínimo, criado por Craig Venter que, segundo ela, “foi basicamente a introdução de um genoma modificado, criado em laboratório, introduzido em um citoplasma, o que criou uma nova espécie bacteriana”.
Revolução
María afirma que a biologia sintética vai transformar a forma como a sociedade cultiva alimentos. “A biologia sintética transformará como cultivamos nossos alimentos, porque talvez não seja mais em grandes espaços de terra, mas em locais fechados, com muito mais eficiência, os chamados campos verticais.”
A professora ainda explica que a biologia sintética pode modificar a produção de carne, criando carnes sintéticas com sabor de carnes reais, “com características nutricionais semelhantes, porém totalmente diferente da verdadeira, uma vez que vai utilizar proteína de soja misturada à leghemoglobina, uma proteína que participa do processo de fixação de nitrogênio nas leguminosas para dar a coloração vermelha”.
Ela conclui dizendo que a biologia sintética “realmente vai transformar todas as áreas importantes para o ser humano, mas talvez nós não estejamos mais aqui quando isso acontecer”.
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Jr e Gabriel Soares