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Livro da Biblioteca Brasiliana Digital reúne textos de autores consagrados sobre o Carnaval
Em Antologia de Carnaval há a participação dos escritores Manuel Antônio de Almeida, Machado de Assis, Artur Azevedo, Olavo Bilac, Graça Aranha, Lima Barreto, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado, Rubem Braga, entre outros

“Moro
Num país tropical
Abençoado por Deus
E bonito por natureza, mas que beleza
Em fevereiro, em fevereiro
Tem carnaval, tem carnaval
Eu tenho um fusca e um violão
Sou Flamengo e tenho uma nega chamada Tereza”
Neste ano de 2025, o Carnaval será somente em março, mas mesmo assim o trecho acima da música País Tropical, de Jorge Ben Jor, não está errado. Porque no Brasil existe o pré-Carnaval e no qual há a contagem regressiva para a data festiva, seja para aproveitar nos blocos e nos sambódromos ou descansando em casa e em viagens. Pensando neste período, vamos resgatar uma obra do acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin (BBM) da USP que aborda o assunto e está digitalizada e disponível na BBM Digital: Antologia de Carnaval.
O livro foi organizado por Wilson Louzada e tem desenhos de Percy Deanne, publicado em fevereiro de 1945 –praticamente na folia, já que a terça-feira de Carnaval naquele ano foi em 13 de fevereiro. A edição que a BBM possui foi impressa em papel buffon e faz parte de uma tiragem de somente 253 exemplares de luxo –o da Biblioteca é o número 244–, que se destina aos bibliófilos e veio assinada por Frederico Chateaubriand, diretor da Seção de Livros da Empresa Gráfica O Cruzeiro.
Carnaval brasileiro
“Nas páginas desta antologia, procuramos selecionar e reunir o material mais expressivo, em literatura, sobre o carnaval brasileiro. O carnaval carioca predomina, evidentemente, mas a colaboração das províncias típicas não foi desprezada: Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Sul, São Paulo etc. Aspectos de ontem e aspectos de hoje. Entrudo e carnaval. Limão de cheiro e lança-perfume, confeti e serpentina. Samba e maracatu, frevo e marchinha”, destacou o organizador na introdução.
A antologia contém 34 textos curtos de autores da literatura brasileira como Manuel Antônio de Almeida, Machado de Assis, Artur Azevedo, Olavo Bilac, Graça Aranha, Lima Barreto, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Jorge Amado e Rubem Braga.
Antes da maioria dos textos é apresentada uma breve biografia do autor e explicado em qual contexto foi escrito, sendo que alguns deles não são diretamente sobre o Carnaval, mas tem a festa como pano de fundo na sua história.
No texto de Machado de Assis Crônica da Semana, 4 de fevereiro de 1894 –ano em que foram proibidos os festejos em fevereiro, devido aos riscos de epidemias de febre amarela e varíola– o escritor “aproveita-se do carnaval para revelar-se, ainda uma vez, o mesmo cético e humorista dos seus melhores romances”, ressaltou Louzada.
Artur Azevedo se mostra um bom folião com o texto Como eu me diverti. O estado de Alagoas marca presença nas histórias da antologia com Carnaval – 1910, de Graciliano Ramos. O escritor José Lins do Rego contribui com duas histórias: Carnaval de engenho e Carnaval de Recife. Uma é sobre os festejos da roça e do sertão, e a outra, como o nome sugere, aborda uma lembrança da folia na capital de Pernambuco.
Antes do trio
Duas escritoras participam da antologia: Adalgisa Néri e Raquel Crotman. O texto da primeira é Dois mascarados, no qual ela conta um diálogo entre duas pessoas mascaradas em pleno carnaval, em que procura dar um novo sentido a essa festa das multidões “onde o acaso imponderável pareça determinar remotas ligações entre criaturas desconhecidas no passado”. O bloco é o conto de Raquel, no qual ela apresenta uma cena de Carnaval, com vários personagens e certos “estragos” em seus relacionamentos provocados pela festa. “Revelando o Carnaval de uma família burguesa, demonstra excelentes qualidades de sátira e espírito”, pontuou o organizador.
E Jorge Amado fala dos festejos na Bahia, claro. No conto História de Carnaval o enredo é sobre Maria dos Reis, que é quase noiva de Teodoro e por isso não sabe se vai poder curtir o Carnaval, numa época em que não existiam os trios elétricos –não foi possível precisar a data em que o conto foi escrito, mas foi antes do surgimento do trio elétrico com Dodô e Osmar, a partir de 1951, já que a antologia foi publicada em 1945.
“Mas o Carnaval se aproximava. Fazia um ano ela saíra numa prancha “Felizes borboletas”, saíra linda, linda, era a mais linda na mais linda prancha. Fôra aí que começara o namoro com Teodoro, que fazia o corso num carro de estudantes. As “Felizes borboletas” eram uma criação da família Cordeiro, cinco moças alegres e uma mamãe mais alegre ainda. Naquele tempo o Carnaval da Bahia era feito principalmente pelas pranchas, bondes enfeitados de flores e papel, lotados de moças fantasiadas que corriam todos os itinerários dos trilhos, levando a alegria a tôdas as ruas e arrastando atrás de si os autos dos rapazes elegantes” (página 344 do livro)

O livro Antologia de Carnaval pode ser acessado e baixado na BBM Digital.
*Estagiária sob supervisão de Eliete Viana
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