Espetáculo no Teatro da USP debate enfrentamento da violência pelas mulheres

A peça que une tensão, cores fortes e “riot grrrl” dos anos 1990, traz três mulheres marcadas pelo passado de violência de gênero

 Publicado: 07/11/2024 às 17:59     Atualizado: 13/11/2024 às 11:57
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Cena do espetáculo Afeto – Uma história de amor (violenta e difusa) entre mulheres quebradas. Foto: Caio Ovieda
Cena do espetáculo Afeto – Uma história de amor (violenta e difusa) entre mulheres quebradas – Foto: Caio Ovieda

 

Selecionada no mais recente edital de ocupação do Teatro da USP (Tusp), Afeto – Uma história de amor (violenta e difusa) entre mulheres quebradas entra em cartaz hoje, 7 de novembro, e segue até 8 de dezembro, de quinta a sábado, às 21h, e domingos, às 19h, com entrada gratuita. Com suspense e humor, o thriller cômico dirigido por Carla Zanini e Angélica de Paula reúne dores e lutas que a maioria das mulheres encaram durante a vida.

O enredo acompanha a união improvável de três mulheres que juntas formam uma quadrilha de senhoras justiceiras, em que cada uma delas é marcada pelo seu passado de violência de gênero, seja ele qual for. Explorando as maneiras de lidar com o trauma, a peça mistura a raiva e a solidão de mulheres que buscam conquistar um espaço de existência após terem sido quebradas.

Carla Zanini, diretora do espetáculo Afeto. Foto: Caio Ovieda.
Carla Zanini, diretora do espetáculo Afeto – Foto: Caio Ovieda

Com trajetórias diferentes no enfrentamento da violência, foi no afeto que elas encontraram uma saída. “As personagens não são ‘vítimas’ passivas, elas resistem. A violência que cada uma sofreu inicialmente as aproxima, mas a urgência do afeto que as mantém juntas”, explica Carla.

A peça combina uma visão social feminista tal como o Riot Grrrl, um movimento punk e político da década de 1990 em que mulheres buscavam assumir protagonismo sem esconder o que já viveram na sociedade, mostrando que é possível resistir mesmo com feridas expostas.

“Tal como as músicas e as riot grrrls, Afeto é uma resposta direta a um ambiente de opressão, onde personagens femininas tentam sobreviver e encontrar força uma na outra”, comenta.

Por meio de textos impactantes, as protagonistas fogem da feminilidade estereotipada através da raiva, fervendo por dentro em busca de justiça.

Ao exibir protagonistas violentadas, a obra espelha a realidade da sociedade brasileira, onde crescem cada vez mais os casos de violência contra a mulher, conforme pesquisa realizada pelo DataSenado. “Para além de retratar no palco a violência que as mulheres sofrem e que já tanto vimos em produções artísticas e nosso dia a dia, queremos olhar para como elas se movem no mundo a partir de seus traumas e como decidem enfrentar esse cordão de violência que as rodeia” diz a diretora, sobre a importância de contar essas histórias no teatro.

O espetáculo faz parte da trilogia Afeto, Raiva e Coragem escrita por Carla para a DeSúbito Cia, grupo de atores egressos da Escola de Arte Dramática ECA-USP. Embora os textos sejam independentes, cada texto traz reflexões a partir de um tipo específico de violência. Para a diretora, a peça “marca o ponto de partida para uma jornada que busca entender como enfrentar as diferentes instâncias de violência que nos atravessam”.

Serviço

A temporada do espetáculo Afeto – Uma história de amor (violenta e difusa) entre mulheres quebradas, segue até 8 de dezembro, toda quinta, sexta e sábado, às 21h e domingo às 19h, no Teatro da USP (Rua Maria Antônia, 294 ). A entrada é grátis com retirada de ingressos com 1h de antecedência. A classificação indicativa é de 14 anos.

*Estagiária sob supervisão de Elcio Silva


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