Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Sequenciamento do genoma do vírus da varíola do macaco ajuda a compreender suas mutações

De acordo com Camila Malta Romano, o sequenciamento genético é pertinente para saber as origens e as formas de transmissão do vírus, entre outros aspectos

 13/06/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 14/06/2022 as 18:38

Autor: Redação

Arte: Guilherme Castro

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Pesquisadores do Centro Conjunto Brasil-Reino Unido para Descoberta, Diagnóstico, Genômica e Epidemiologia de Arbovírus (CADDE) concluíram em 18 horas o sequenciamento quase completo do genoma do vírus isolado do primeiro paciente com varíola dos macacos no Brasil. Camila Malta Romano, pesquisadora do Laboratório de Investigação Médica do Hospital das Clínicas (HC) da USP e do Instituto de Medicina Tropical (IMT), fala, em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, sobre o sequenciamento genético ser importante para entender de onde surgiu o vírus, suas mutações, meios de transmissão e se ele está bem adaptado às vacinas.  

“A gente já viu que esse vírus não é mais patogênico, porque o surto é extremamente maior. Já tem mais de 1.400 casos e nenhum óbito, então a gente já sabe que ele não é mais letal”, afirma a pesquisadora. “Mas mutações nos permitem identificar, por exemplo, se um vírus está mais bem-adaptado à transmissão humana. O vírus é pouco transmitido de humano para humano, então é possível que essas mutações tenham relação com aumento de capacidade do vírus se transmitir entre os humanos”, complementa. 

Transmissão e diagnóstico

Camila levanta também a hipótese de que o vírus deve desenvolver outras formas de transmissão. A varíola dos macacos é, em geral, transmitida pelo contato da pele, mas a transmissão respiratória também está sendo investigada. A Organização Mundial da Saúde (OMS) está recomendando o uso de máscaras para evitar o contágio, assim como é recomendado para diminuir as infecções pelo sars-cov-2, o vírus da covid-19.

“Quando a pessoa está com feridas, ela está naquela sintomatologia clássica, a gente sabe que ela está infectada e ninguém vai tocar nela”, comenta Camila. “[Agora] o paciente tem febre, mal-estar. Porém, a pessoa pode continuar ativa. De repente, ela foi trabalhar e tem contato com familiares, mesmo sem as feridas. Portanto, se houver transmissão pela saliva, ela pode estar transmitindo e nem desconfia.” 

Ela acrescenta que os sintomas podem ser parecidos com os da dengue, o que complica o diagnóstico correto pelo fato de que o Brasil está enfrentando um dos maiores surtos de dengue. Um fator que pode ajudar no diagnóstico da varíola é saber se o paciente viajou para a Europa, ou outros locais de alta circulação do vírus, ou teve contato com algum viajante.   

Camila Malta Romano – Foto: Reprodução/Portal Fiocruz

Camila Malta Romano – Foto: Reprodução/Portal Fiocruz

Contenção do vírus

Segundo a pesquisadora, a aplicação indiscriminada da vacina não é recomendada, pois não se sabe ainda os possíveis efeitos colaterais: “Essa vacina, na época, era tomada antes de você entrar em contato [com o vírus] e protegia 100%. Depois de você ter contato, vai ser uma proteção menor, mas que pode ter uma proteção muito boa contra o desenvolvimento das feridas das lesões. Então não é uma vacina que obrigatoriamente você tem que tomar muito antes do contato”. 


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