De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a ingestão de substâncias nocivas entre os adolescentes e adultos jovens é um desafio crescente na maioria dos países em todos os continentes. E no Brasil não é diferente. A promoção sistêmica de hábitos saudáveis na adolescência é imprescindível para a prevenção de doenças na idade adulta, bem como para as gerações futuras. Os efeitos nocivos do álcool, de outras drogas e anabolizantes esteroides exigem estratégias para lidar com essa situação tão presente na atualidade.
No organismo masculino em desenvolvimento, dos jovens de 11 a 16 anos, os problemas relacionados com a utilização dessas substâncias são inúmeros. O professor Jorge Hallak, urologista da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) e coordenador do Grupo de Estudos de Saúde Masculina do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade, aponta que os adolescentes brasileiros consomem mais álcool do que a média dos adultos e que os efeitos desse consumo têm consequências para a vida toda. “Tanto o cérebro quanto os órgãos sexuais estão em desenvolvimento neste momento. O que a gente percebe é que a utilização de qualquer substância tóxica nesta idade tem efeitos para a vida toda. E, muitas vezes, esses efeitos são imperceptíveis durante décadas. Porém, existe uma associação muito grande em, por exemplo, consumo de álcool e diabete no adulto, hipertensão no adulto, a falta de produção de hormônio e casos de depressão.”
E vale lembrar que aquela “bebidinha de final de semana” também é prejudicial, quando exagerada. Em muitos casos, segundo o doutor Hallak, os adolescentes bebem doses exorbitantes nos dois dias que equivalem ao mesmo risco de doses frequentes no cotidiano. “Ele vai fazer um esquenta, ele vai a uma balada e nesses dias bebe uma quantidade absurda. Têm pacientes que chegam a consumir 20 doses de gim, vodka, whisky — fora a cerveja — por final de semana. Essa pancada aguda tem efeitos deletérios a longo prazo.”
Mas o problema não se limita somente às bebidas alcoólicas nessa faixa etária. Existe uma forte preocupação com o consumo da maconha por conta das substâncias psicoativas presentes. “A maconha que se consome hoje não é a maconha de antigamente. Hoje, a parte que causa dependência vai de 9% a 17%, ela tem mais THC por grama de planta. Acontece que a associação de álcool com a maconha potencializa um ao outro para o lado ruim. No nosso entendimento como pesquisador, ela tem efeito no sistema nervosos central, como a esquizofrenia e a depressão.” E nos casos de uso de anabolizantes, os efeitos são diferentes daqueles produzidos biologicamente com a produção de testosterona. Quando introduzida no organismo de forma externa, o corpo começa a detectar que já existe muita testosterona e para de enviar estímulos de produção do hormônio aos testículos. Os problemas, então, surgem. “O indivíduo está ficando ‘fortinho’, mas está tendo um mecanismo de perda de função testicular e, com isso, há uma perda de volume no testículo, ele perde tamanho”, explica o urologista.