Acompanhe a entrevista da repórter Sandra Capomaccio com a arquiteta Raquel Rolnik, professora da FAU-USP e colunista da Rádio USP:
Uma pesquisa sobre Mobilidade Urbana, divulgada pela Rede Nossa São Paulo, revela que quase metade dos paulistanos (49%) está utilizando o automóvel particular com menor frequência, se comparado aos últimos 12 meses. Outros 27% dizem que utilizam de forma igual e 22% ampliaram a frequência de uso. Realizado pelo Ibope Inteligência, o levantamento revela, ainda, que 92% dos entrevistados são favoráveis à construção e ampliação de corredores e faixas exclusivas de ônibus e que 88% apoiam a aplicação de multa para veículos que param em cima da faixa de pedestres.
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Ao comentar os resultados dessa pesquisa, em entrevista à repórter Sandra Capomaccio, a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik observa que deve ser levado em conta que esse tipo de estudo vem sendo realizado, sistematicamente, desde 2008, e que, consequentemente, os dados devem ser analisados sob um ponto de vista evolutivo. De acordo com a professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, nos últimos anos houve um aumento “no uso do carro” por uma série de fatores que estimularam o mercado, como, por exemplo, uma melhor distribuição de renda, o que possibilitou que classes economicamente ascendentes também passassem a se deslocar na Capital por meio do veículo. Em consequência, houve um aumento nos congestionamentos, o que alterou para pior a mobilidade urbana. Não se deve esquecer, por outro lado, que “o carro, historicamente, sempre foi privilegiado pelas políticas públicas em detrimento de um transporte público de qualidade”.
À medida em que a mobilidade urbana piorava, crescia a percepção de que o transporte coletivo devia ser uma prioridade e de que os veículos deveriam ser deixados na garagem. Em razão disso, de uns tempos para cá, os paulistanos – inclusive os de classe média – passaram a aderir ao transporte coletivo e até aos chamados modos ativos, ou seja, as formas não motorizadas de deslocamento, o que engloba deslocamentos a pé ou por bicicletas. Até porque, devido principalmente aos congestionamentos, “o tempo médio de deslocamento dos que andam de carro está próximo do tempo médio gasto pelos que andam de transporte coletivo”. A ampliação das faixas exclusivas de ônibus e a construção de ciclovias foi uma consequência natural desse processo, apontando para uma mudança na condução das políticas públicas municipais e em ações que estimulam os modos ativos, como o fechamento de ruas e avenidas para que as pessoas circulem livremente, sem o risco de serem atropeladas. São medidas, de acordo com a professora Raquel, que têm sido bem-aceitas pela população.
Ela observa, porém, que ainda há muito o que fazer. Se houve melhorias no transporte coletivo no quesito conforto e tempo de deslocamento na cidade, é igualmente verdade que persiste a relação perversa entre renda e mobilidade urbana. “Quanto menor a renda, maior o tempo de deslocamento, no carro ou no transporte coletivo, pois são maiores as distâncias a serem percorridas”, diz a professora, citando o caso das regiões periféricas da região metropolitana. Além disso, a melhora no transporte coletivo por ônibus precisa ser acompanhada por um maior investimento no sistema férreo (Metrôs e trens), porque é este que acaba dando maior capacidade de circulação aos usuários. Segundo a professora Raquel, “a rede de Metrô e trens urbanos deveria se expandir para as periferias e municípios da região metropolitana”. No entanto, ainda segundo ela, também faz-se necessário dar continuidade à política de ampliação das faixas exclusivas de ônibus, assim como deve-se garantir melhores condições e segurança para aqueles que optarem por se deslocar pela cidade a pé ou de bicicleta.