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O espaço nas mídias digitais
É inescapável debater o espaço do jornalismo e da divulgação científica nas mídias digitais, que há um bom tempo predominam no universo da comunicação, com bons e maus efeitos no meio, segundo os analistas
“Ocupam cada vez mais espaço”
Wilson da Costa Bueno, professor sênior do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP e diretor da Comtexto Comunicação
Wilson da Costa Bueno - Foto: Marcos Santos/USP Imagens
As mídias digitais têm ocupado, cada vez mais, espaço na divulgação de informações de CT&I, especialmente se atentarmos para a circulação de informações nessas áreas pelas mídias sociais. Elas certamente também têm contribuído para o incremento do negacionismo, das fake news protagonizadas por aqueles que as produzem voluntariamente ou as compartilham sem qualquer espírito crítico ou compromisso com a apuração das informações. É preciso chamar a atenção também para a ação de lobbies, de interesses escusos, que constrangem a produção e a divulgação científicas em favor de interesses políticos, ideológicos e empresariais. Este fato tem propiciado a emergência de versões que não se apoiam nas evidências, como as que deram espaço à “eficácia da cloroquina e da ivermectina para o tratamento da covid-19”, à visão criacionista em oposição à teoria da evolução e mesmo ao terraplanismo, dentre outras perspectivas sem qualquer fundamento. Agrega-se a este movimento a interferência de fontes e perspectivas religiosas que optam por fazer leituras equivocadas do processo científico e das suas descobertas.
“A exclusão de mentiras ainda é pequena”
Renato Janine Ribeiro, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
Renato Janine Ribeiro - Foto: Reprodução/Vermelho
As mídias sociais têm um problema sério pelo uso dos algoritmos que favorecem o ódio. A exclusão de mentiras ainda é muito pequena comparada com o que assisti no caso do Trump. Ele mentiu durante quatro anos à vontade e só quando faltavam duas semanas para terminar seu mandato é que foram parar com elas nas redes sociais. Ainda hoje, as mídias tradicionais são mais confiáveis do que as mídias sociais, embora estas tenham um aspecto interessante: você não precisa de dinheiro, de capital, de uma empresa para montar uma mídia social. Isso levou vários divulgadores científicos a se destacarem, assim como várias pessoas que têm um papel importante na defesa da democracia e dos valores éticos.
“Todo artista tem de ir aonde o povo está”
Vanja Joice Bispo Santos, jornalista, Museu Paraense Emílio Goeldi
Vanja Joice Bispo Santos - Foto: Arquivo pessoal
As mídias sociais são um espaço que não pode ser ignorado para circular conteúdos de ciência e criar relações diretas com seus públicos. Não são o único, mas são um lugar para o exercício da linguagem jornalística. E apresentam novas possibilidades. Quando penso nas mídias sociais, sempre lembro de Milton Nascimento:
Com a roupa encharcada e a alma
Repleta de chão
Todo artista tem de ir aonde o povo está
Se foi assim, assim será
Cantando me desfaço, não me canso
De viver nem de cantar
Há público para conteúdos jornalísticos sobre ciência nas mídias sociais, mas o sucesso, como em qualquer espaço, depende de conhecer as regras do jogo e descobrir o que é essencial para divulgar. Nesse ponto, faz toda a diferença juntar um jornalista experiente em uma equipe multidisciplinar de comunicadores e gerações diferentes.
Creio que o bacana do jornalismo, e da comunicação social, é que há muitas
possibilidades para explorar, pois ele é múltiplo.
(Veja o próximo capítulo nesta quarta-feira, 22/6, que mostrará como fazer uma cobertura séria e informativa)
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