A ONU estabeleceu a Década dos Oceanos, por meio da Cátedra Unesco, de 2021 a 2030. O Brasil sediará esta década numa parceria entre o Instituto Oceanográfico (IO) e o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP. O objetivo é disseminar informações sobre a importância da conservação dos oceanos e repercutir a agenda da ONU no Brasil e no Atlântico Sul. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Alexander Turra, do Laboratório de Manejo, Ecologia e Conservação Marinha do Instituto Oceanográfico da USP, explicou a importância da Década dos Oceanos.
Na opinião do professor, o entendimento da importância dos oceanos ainda é muito pequeno no mundo. O oceano tem uma importância que transcende suas margens, ou seja, não é relevante apenas para quem vive na costa, trabalha com pesca ou turismo. Um bom exemplo de como os oceanos afetam todo o planeta é a sua participação no clima, como os furacões que atingem o Caribe e os EUA. Ele destaca o fato de o Brasil ser uma das potências mundiais em questão de pesquisa oceânica, sendo líder no Atlântico Sul. O País possui autonomia de equipamentos, como navios oceanográficos, tanto da Marinha quanto civis. O IO também tem participação central nos estudos, que estão sendo amplificados por diferentes institutos de pesquisa que estão surgindo ao longo da costa brasileira, desde o Rio Grande do Sul até o Amapá.
Ele explica a Cátedra Unesco, que é uma estratégia criada pelo órgão para repercutir sua agenda nos países ao longo do mundo e também para receber informações dessas regiões. A cátedra funciona como um catalisador de ações “linkadas” com essa agenda internacional e visa a promover uma amplificação dessas ações, primeiramente num nível local (USP e Estado de São Paulo), depois num nível nacional e, finalmente, internacional, abrangendo outros países da América do Sul. A Década dos Oceanos tem início oficial apenas em 2021, mas o planejamento para que as estratégias sejam estabelecidas já começou. Um comitê com representantes de vários países está sendo criado. Um dos objetivos é que exista a transferência de tecnologia, e o professor comenta que existe uma visão do “norte desenvolvido” e o sul como “não-desenvolvido”. “O que se busca com essa discussão da década é amplificar a relação sul-sul”, diz. De acordo com o especialista, há uma série de relações que podem ser fortalecidas com a América do Sul e com a África.