Com o isolamento social, por conta da pandemia, as campanhas eleitorais deverão optar por um formato que respeite as medidas de distanciamento. De acordo com a Emenda Constitucional 107, de 2020, os dois turnos das eleições serão realizados nos dias 15 e 29 de novembro. Já a propaganda eleitoral está liberada a partir de 27 de setembro e vai até 14 de novembro.
Segundo o professor Glauco Peres da Silva, do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, o desafio pedirá mais criatividade por parte dos candidatos para evitar aglomerações, como os comícios, por exemplo, já que são eventos que vão contra as medidas de distanciamento social: “Os políticos vão ter que ser criativos para atingir o eleitorado e isso vai depender muito dos recursos disponíveis para cada um deles e da estrutura das cidades, da maneira como a população está organizada e se distribui no território para imaginar uma maneira que o candidato tenha que atingir essas pessoas sem aglomerá-las.”
Na análise do professor Luis Alberto de Farias, do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, o cenário político mudou muito com o impulsionamento de informações na internet, diminuindo, assim, a importância que estes eventos públicos têm na corrida eleitoral: “A multiplicação das redes sociais, por meio inclusive de robôs e ciborgues, tem feito com que as pessoas passem muitas vezes a se informar sobre o processo eleitoral, sobre o projeto de campanha, sobre a plataforma de governo, no caso de alguns cargos ou mesmo na proposta de atuação em cargos como vereadores e deputados, por exemplo. Nós temos percebido que serão maximizados esses processos por conta da pandemia e do distanciamento social necessários”.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2018, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), uma em cada quatro pessoas no Brasil não tem acesso à internet. Segundo Peres, o uso de cabos eleitorais pode ser uma das estratégias para conquistar esse eleitorado: “A gente sabe que os cabos eleitorais vão ser e já são bastante utilizados nesta eleição. Talvez tenham um papel ainda maior, porque vão fazer uma intermediação que o político não vai conseguir fazer e que as aglomerações, por estarem impedidas, não vão facilitar esse contato todo aí, político com eleitor”.
Outro impacto da pandemia no processo eleitoral diz respeito ao voto de pessoas consideradas grupos de risco da covid-19. Para Peres, a desistência do voto desses eleitores pode impactar principalmente as eleições para vereador: “Principalmente se algum vereador, por exemplo, atuar especificamente no público mais idoso, eu imagino que tende a sofrer mais pelo fato desse eleitor poder não votar e ser grupo de risco, inclusive, então deve ter uma incidência maior de ausentes para essa faixa.”
Por outro lado, na visão do professor Freitas, a tradição do voto no Brasil condicionará as pessoas mais velhas a continuar indo às urnas, mesmo durante a pandemia: “Acredito que as pessoas estão mais ou menos condicionadas a participar desse processo, somos todos condicionados a entender que não há liberalidade de escolha, portanto, mesmo pessoas com mais idade, que tenham a liberdade de escolha ou não do voto, talvez possam continuar votando justamente por essa tradição, por esse condicionamento que nós tivemos por tanto tempo durante a ditadura e que a legislação eleitoral continua mantendo”.
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