A importância de José Reis na cobertura de Ciência no Brasil

Na sétima edição da reportagem da série sobre jornalismo científico, publicada originalmente pela newsletter Jornalistas&Cia, tratamos do papel e do pioneirismo de José Reis, nome indissociável da divulgação de ciência; não à toa Reis teve seu nome consagrado em prêmio do CNPq

 27/06/2022 - Publicado há 2 anos

Por Luiz Roberto Serrano

“Ele achava que a ciência deveria ser exibida à sociedade”

Bruno de Pierro - Foto: Arquivo pessoal​

O médico José Reis (1907-2002), cuja atuação na divulgação científica foi proeminente no jornal Folha de S. Paulo até o fim da vida, tinha um olhar sensível para a pesquisa científica. Ele via a ciência como algo bonito, “profundamente estética”, e que, por essas e outras, deveria ser exibida à sociedade. Reis era de uma geração de intelectuais da primeira metade do século 20 que ainda cultivavam traços de uma polimatia, dando vazão a seus múltiplos interesses. É daquelas pessoas difíceis de enquadrar numa só profissão. Ele conseguia aliar ciência, literatura, arte, política e isso moldou uma carreira multifacetada, permitindo a Reis atuar ativamente não só na divulgação da ciência, mas na política científica.

Vale dizer que seus textos de divulgação são primorosos, o que denota a preocupação que tinha com a qualidade literária e técnica do que escrevia. Além disso, Reis tinha uma verve quase de cronista, usando fatos do cotidiano para explicar tópicos da ciência. Não que hoje não se faça mais esse tipo de divulgação, mas se faz de maneiras diferentes. Atualmente, a divulgação científica tornou-se menos uma questão de “dom para a coisa” do que uma necessidade formal, diante da pressão para que instituições científicas sejam mais transparentes e prestem contas de como o dinheiro público direcionado à pesquisa básica e aplicada vem sendo gasto. 

“Ajudou a popularizar a divulgação científica”

Graça Caldas - Foto: Reprodução UEM

Cada tempo tem um jornalista, ou melhor, vários jornalistas científicos de qualidade. Alguns mais especializados em Saúde, Física, Biologia, Humanidades, Política Científica etc. José Reis, médico patologista e pesquisador, sem dúvida é um ícone do jornalismo científico não só porque ajudou a popularizar a divulgação científica, como também pela importância que teve no seu momento histórico, a partir da década de 1940 e como patrono do Prêmio José Reis de Jornalismo Científico do CNPq. Como ele, no Brasil, tivemos Manuel Calvo Hernando, na Espanha. Nessa época era muito comum cientistas divulgadores. Já os jornalistas científicos profissionais e autodidatas são mais frequentes, no Brasil, a partir da década de 1970, quando os veículos criam editorias específicas da área, que se ampliam e se reduzem o tempo todo. Hoje, com a oferta de disciplinas em Jornalismo Científico nos cursos de graduação em Jornalismo, os cursos de especialização lato sensu e stricto sensu, a formação dos profissionais que atuam na área melhorou muito. Acho importante destacar isso. Sim, ele, José Reis, é a expressão de um determinado momento e o Brasil deve muito a ele. Entretanto, podemos dizer que, hoje, são muitos os jornalistas científicos de qualidade. 


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