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O Museu do Ipiranga

de volta para a sociedade

Por Rosaria Ono e Amâncio Jorge de Oliveira, diretora e vice-diretor do Museu Paulista

 02/09/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 06/09/2022 as 16:23

O Museu do Ipiranga estará, no próximo 7 de setembro, de volta para a sociedade brasileira. Será um momento de grande simbolismo uma vez que esta data marca o Bicentenário da Independência. Para além de uma efeméride importante, será um reencontro com a nossa história, a nossa trajetória e um momento de reflexão sobre a nossa identidade. É neste contexto que se dará a tão esperada reinauguração do Museu do Ipiranga.

Muitos estudos serão necessários para retratar bem a longa trajetória do Museu do Ipiranga desde seu fechamento, em 2013, até a sua reabertura em 2022. O processo compreendeu duas fases. A primeira, de 2013 a 2018, foi dedicada à preparação da restauração do edifício e à retirada do acervo para outras reservas técnicas, a fim de que pudesse ser adequadamente preservado. Tarefa nada fácil para um museu que detém mais de 450 mil itens em seu acervo. A segunda fase, de 2019 a 2022, foi dedicada propriamente à obra, constituída pela restauração do edifício-monumento e pela construção de uma nova área de acolhimento e exposição. 

Rosaria Ono e Amâncio Jorge de Oliveira, diretora e vice-diretor do Museu Paulista - Fotos: arquivo pessoal

O projeto contou com uma complexa estrutura sinérgica de colaboração institucional. Atuaram, em diferentes fases, entidades representativas da sociedade cível e das três esferas, municipal, estadual e federal. Para que fosse possível esta sinergia, o projeto contou com um complexo modelo de governança, liderado pela Universidade de São Paulo, com o firme apoio das três últimas gestões reitorais e em parceria com a Fundação de Apoio à Universidade de São Paulo (Fusp) para captação de recursos da iniciativa privada via leis de incentivo à cultura.

Para além de instituições, o projeto contou com a dedicação de muitos, iniciando-se pela dedicação incansável de um número pequeno de docentes do Museu Paulista, uma grande equipe de apoio da Universidade de São Paulo e incontáveis parceiros e colaboradores – tanto para as obras civis como para o desenvolvimento das exposições. 

A dedicação do corpo docente do museu, também curadores, possibilitou a estruturação de 12 novas exposições. A reabertura do museu contará, graças a esta dedicação, com 11 exposições de longa duração, de três a cinco anos. Contará também com uma exposição temporária, Memórias da Independência, a ser lançada em novembro deste ano e disponível ao público por quatro meses. Esta exposição contará, também por meio de parcerias institucionais, com o empréstimo de acervo de outras instituições museológicas. 

A exposição temporária acontecerá na área nova do museu e permitirá compreender de forma mais ampla todo o processo de Independência, a partir das dinâmicas ocorridas em outras regiões do Brasil que tiveram papel preponderante na Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Além do aspecto historiográfico dessa dinâmica, também a exposição permitirá acompanhar como ocorre a comemoração da Independência nesses lugares ao longo do tempo. É importante esta visão no espaço temporal porque esses lugares, não só interpretam o episódio histórico com lentes específicas, e ressignificam, ou reinterpretam, a Independência ao longo dos duzentos anos. 

Imagens do Museu do Ipiranga após a reforma e restauração - Fotos: Cecília Bastos/USP Imagens

As exposições serão amplamente amparadas por recursos tecnológicos, destinados a promover para o visitante uma experiência imersiva mais ampla e a fornecer recursos didáticos fundamentais para a formação de estudantes, pesquisadores e professores. A tecnologia nas exposições será, ainda, uma das muitas ferramentas utilizadas para fazer com que a acessibilidade se torne um padrão e não uma exceção na relação com o público. A premissa fundamental que norteou o projeto Novo Museu do Ipiranga foi a de que a acessibilidade deveria ser parte da própria constituição do projeto, em suas diferentes etapas e dimensões, e não como um elemento a ser adicionado ao fim dos processos. O museu terá, desta forma, um papel de fronteira na inclusão da acessibilidade como premissa fundamental de construção institucional. 

Igualmente digno de nota é o papel do Museu do Ipiranga para as relações internacionais da USP, do Estado de São Paulo e do País com um todo. Um estudante, pesquisador ou profissional que circula mundo afora sabe que a Universidade de São Paulo é um dos grandes ativos de poder brando (soft power) que o País tem. A instituição é associada a uma marca de excelência no campo do ensino, da pesquisa e da inovação. Como tal, a USP figura como um importante vetor de integração internacional do Estado e do País. A relevância deste ativo tende a aumentar na medida em que, como lembrou Marcos Troyjo, presidente do Banco do Brics, em recente palestra promovida pelo Instituto de Estudos Avançados da USP, a formação de talentos para o mundo profissional passa a figurar como fator-chave no jogo competitivo internacional. O fato do Museu do Ipiranga ser uma referência internacional no campo museológico faz com que seja, também, um vetor de internacionalização da USP. 

O papel dos museus nas relações internacionais, e mais especificamente no campo da diplomacia científica, é conhecido como Diplomacia dos Museus. A diplomacia dos museus será um dos tópicos de uma das Escolas São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) promovidas pela Fapesp. A Escola receberá pesquisadores brasileiros e estrangeiros para discutir as dimensões internacionais da Independência do Brasil, particularmente no que concerne ao processo de reconhecimento do País como nação independente. 

A USP tem quatro museus estatutários que desempenham papel fundamental na extroversão da Universidade para a sociedade. Servem, a um só tempo, para levar o conhecimento de pesquisa e ensino à sociedade e para atrair o interesse da sociedade para a Universidade. Com a sua reabertura, o Museu do Ipiranga volta a contribuir de forma decisiva para este processo de extroversão da Universidade. 

A reinauguração ajudará o museu a ser conhecido também dentro da própria Universidade. Não é de conhecimento de todos que o Museu do Ipiranga é parte da USP desde 1963. Junto com o Museu Republicano Convenção de Itu, o Museu do Ipiranga constitui o Museu Paulista da Universidade de São Paulo. A USP tem muito a se orgulhar do Museu do Ipiranga. E o museu tem muito a agradecer a tantos que dedicaram tempo e energia para que esta reabertura nas comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil fosse possível.


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