Gestão universitária e rankings das universidades

Por Fábio Augusto Reis Gomes, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto da USP

 Publicado: 11/09/2024 às 17:00
O professor Fábio Augusto Reis Gomes
Fábio Augusto Reis Gomes – Foto: Leonardo Rezende/FEARP-USP
A crescente facilidade de armazenar informações e organizá-las por meio de indicadores tem causado grande impacto nas organizações. Assim, a gestão nas organizações se apoia cada vez mais em indicadores institucionais. De fato, é preferível tomar decisões com base em indicadores do que a partir de nossas simples percepções ou impressões, já que podemos estar sujeitos a vieses que não percebemos. Claro, os indicadores não nos livram dos equívocos, mas podem minimizá-los.

A construção de uma série de indicadores serve a outro propósito importante: comunicar o que nós fazemos. Isso é especialmente importante para uma instituição como a USP, que é mantida pela sociedade por meio de uma fatia do ICMS. Devemos comunicar o que fazemos, inclusive porque muito tem sido feito ao longo da brilhante história da USP.

Há uma série de rankings que comparam instituições de ensino superior; talvez, um dos mais conhecidos é o QS World University Rankings, cujas últimas duas avaliações incluíram a USP entre as 100 melhores universidades mais bem avaliadas do mundo. As universidades interessadas em participar desse ranking devem fornecer uma série de informações pré-definidas que são usadas para medir sua performance em diferentes dimensões. No caso da versão de 2025 do QS World University Rankings, foram consideradas as seguintes dimensões (e pesos): Pesquisa e Descoberta (50%), Empregabilidade e Resultados (20%), Experiência de Aprendizagem (10%), Engajamento Global (15%) e Sustentabilidade (5%).

Como os indicadores não têm um fim em si mesmos e podem favorecer instituições com características específicas – como localização geográfica, missão institucional ou abrangência das áreas contempladas –, certos cuidados são necessários. No caso da gestão, devemos refletir com cuidado sobre quais indicadores devem ser calculados e como eles devem ser usados. Deve-se evitar que a construção dos indicadores drene toda nossa energia, nos impedindo de analisá-los e efetivamente usá-los para a gestão. Também, não podemos subestimar a importância dos indicadores que não são favoráveis e superestimar aqueles que são. Ainda, como gostamos de indicadores quantitativos, não devemos nos esquecer de importantes dimensões que são difíceis de serem mensuradas.

Idealmente, refletiríamos primeiro sobre as dimensões relevantes e depois buscaríamos formas apropriadas de mensurá-las. Se for o caso, utilizando abordagens qualitativas.

No que diz respeito à comunicação com a sociedade, devemos ser abrangentes, evitando assim o equívoco de focar em poucas dimensões. As demandas da sociedade são variadas e, embora sempre possamos melhorar, elas têm sido atendidas pela USP com sucesso. Cabe a nós então comunicar isso para que não reste dúvida. Formamos quadros de excelência nos nossos diversos cursos, que têm sido absorvidos pelo mercado de trabalho e empreendido novos negócios. Realizamos pesquisas com grande impacto. Inclusive, a pesquisa beneficia o ensino de qualidade que, por sua vez, beneficia a pesquisa, configurando um ciclo virtuoso. Contribuímos além muros com diversas ações extensionistas, inclusive de cunho cultural. Finalmente, destaco que somos frequentemente consultados por diversos atores da sociedade diante de novos problemas ou desafios, o que atesta a reputação da USP.

A sociedade tem valorizado a posição de destaque que a USP alcançou no QS World University Rankings, o que nos remete a uma questão extremamente importante: os rankings e suas metodologias mudam. Talvez eles se concentrem em dimensões que são capazes de medir e, por essa razão, não necessariamente esgotem todas aquelas que são relevantes. Portanto, devemos considerar os rankings, mas sempre nos mover com base em nossas convicções, direcionando as ações para não perder de vista a nossa missão institucional. Elas nos trouxeram até aqui, em posição de destaque nos rankings. Devemos ter clareza das nossas funções como instituição de ensino e pesquisa e nos mover de acordo com nossas convicções. Tomado esse cuidado, podemos sim empreender esforços que estejam alinhados com as métricas usadas pelos rankings com as quais concordamos. Isso significa usar tais rankings como termômetros, mas não como uma avaliação definitiva e final do nosso desempenho.

Em particular, nunca devemos deixar de medir o que pode ser medido e que reflete o que é verdadeiramente feito na USP. Não se pode inflar os indicadores, nem perder a oportunidade de reportar o que fazemos. No primeiro caso, comunica-se uma inverdade. No segundo caso, deixamos de comunicar a verdade. A busca pela verdade, própria da ciência, deveria nos impelir a comunicar da melhor forma o que fazemos e quais resultados alcançamos.

Portanto, nunca é tempo de nos perdermos na preocupação exagerada com a obtenção de posições de destaque nos rankings; no entanto, sempre é tempo de nos encontrarmos, reportando as realizações alcançadas, de modo que a USP seja, a todo tempo, vista em sua plenitude pela sociedade e pelas instituições que nos avaliam.

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