O papel do Instituto Oceanográfico na construção das ciências do mar brasileira é indiscutivelmente relevante. “Embora os estudos oceanográficos no Brasil tenham sido iniciados com quase um século de atraso, em relação aos países do Hemisfério Norte, a criação do IPO, atualmente IO, como uma unidade de ensino e pesquisa, sem dúvida, é um dos autores da construção das ciências do mar com ensino de qualidade (graduação e pós-graduação) e pesquisa, reconhecido pela Capes e pelos trabalhos científicos de qualidade reconhecidos internacionalmente”, relata o professor Luiz Bruner de Miranda, do IO.
O atual diretor do instituto, Frederico Pereira Brandini, destaca os dois pontos principais da unidade: a capacitação humana, a fim de entender os processos oceanográficos e como manejar os recursos do mar, e a geração de dados que, de uma maneira ou de outra, interfiram na sociedade, como o petróleo e a maricultura.
“Depois da ciência astronômica, a oceanográfica é a mais cara, e nem todos os países têm condições em fazê-la. O Brasil tem, mas conhece só o seu território. Outros países, como Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, conhecem o mundo inteiro”, informa Brandini.
“A Fapesp tem um papel gigantesco no IO. Como a pesquisa oceanográfica é cara, há equipamentos de mais de US$ 500 mil, por exemplo. A maior parte disso é adquirida com recursos Fapesp e mantida com projetos da própria entidade”, enfatiza Mahiques, vice-diretor do IO.
Além da Fapesp, Brandini destaca outros principais órgãos que financiam a instituição, como o CNPq, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTI). Além de empresas como Fundação Boticário, Vale e Petrobras. Projetos maiores e internacionais também possuem outros financiamentos.
Visto que o mundo conhece apenas 2% dos oceanos, há muito que se estudar. “Frequentemente, identificamos novos fenômenos. Por exemplo, os recifes na foz do rio Amazonas. Trabalho que colaborei e foi publicado no início deste ano, indicando que é possível descobrir algo novo em lugares ‘conhecidos’. Ou seja, conhecemos os oceanos em linhas gerais, mas, no detalhe, não conhecemos”, relata Mahiques.
A importância de conhecer os oceanos vai muito além de estar próximo ao mar ou não. “Todos nós estamos influenciando e sendo influenciados pelos oceanos de alguma maneira. Não existe um ser humano que não sofra alguma influência do ambiente marinho”, categoriza o vice-diretor do IO.
“Os oceanos são responsáveis por metade do oxigênio que respiramos. O que deságua na foz do rio Amazonas pode interferir até no Caribe. Quase 10% do PIB do nosso país provavelmente tem a ver com o turismo costeiro. Mais de 1 milhão de pescadores dependem dos recursos marinhos. E como estão esses recursos? Quais suas capacidades de suporte? Quem vai avaliar isso?”, questiona Brandini. “São os cientistas. Eles coletam dados, entendem os fenômenos e oferecem respostas para tantos questionamentos.” É o que busca há 70 anos o Instituto Oceanográfico da USP, vislumbrar as ciências do mar e suas potencialidades.