Independência ou Morte! Leituras de 2016

No 184º ano da Independência, Ciência USP convidou dois historiadores para visitar a colina do Ipiranga e falar sobre a separação do Brasil de Portugal, seus símbolos e seus efeitos. João Paulo Garrido Pimenta, da FFLCH, e Cecília Helena de Salles Oliveira, do Museu Paulista, refletem sobre as representações da Independência e seus impactos sobre o presente: a Casa do Grito, o quadro de Pedro Américo e outros elementos do “conjunto mítico” da independência do Brasil.

 06/09/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 18/10/2019 as 11:34
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No 184º ano da Independência, Ciência USP convidou dois historiadores para visitar a colina do Ipiranga, atual zona sul de São Paulo, e falar sobre a separação do Brasil de Portugal, seus efeitos e seus símbolos. Alguns desses símbolos são a Casa do Grito – construção situada no Parque da Independência – e o quadro “Independência ou Morte”, de Pedro Américo – pintura feita sob medida para ocupar a parede principal do salão nobre do palácio que abriga o Museu Paulista.

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“Quando D. Pedro passou pelos campos do Ipiranga em 1822, esta região era um arrabalde, um lugar ermo. Dificilmente os cavaleiros paravam aqui, porque eles faziam uma parada depois da subida da serra e uma outra mais adiante. Mas eles resolveram parar às margens do riacho”, conta Cecília Helena de Salles Oliveira, professora e ex-diretora do Museu Paulista. Estudiosa do trabalho de Pedro Américo e das representações da independência, ela explica que o pintor “buscou imortalizar uma cena que ninguém havia visto”.

Cecília Helena de Salles Oliveira estudou a fundo a representação do grito do Ipiranga produzida pelo pintor Pedro Américo (Reprodução)
Cecília Helena de Salles Oliveira estudou a fundo a representação do grito do Ipiranga produzida pelo pintor Pedro Américo (Reprodução)

“É bem provável que tenha havido mesmo o grito (da Independência) no dia 7 de setembro de 1822. A gente não tem uma prova absolutamente cabal, a gente não está totalmente seguro. E isso também não tem lá grande importância, porque, afinal de contas, esse grito do Ipiranga é um mito. E, como todo mito, ele serve a determinadas funções sociais. Ele dá coesão à narrativa histórica, ele ajuda na formação e no desenvolvimento de uma identidade nacional brasileira”, comenta João Paulo Garrido Pimenta, professor do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, para quem o riacho do Ipiranga, o Parque da Independência, a Casa do Grito e o Museu Paulista formam um conjunto mítico – o que são significa que ele seja mentiroso ou pura e simples distorção. “Os mitos estão aí justamente porque as pessoas precisam deles”, diz ele.

O palácio que abriga o Museu Paulista foi idealizado como um pavilhão destinado a homenagear a independência do Brasil (Arquivo do Estado de SP)
O palácio que abriga o Museu Paulista foi idealizado como um pavilhão destinado a homenagear a independência do Brasil (Arquivo do Estado de SP)

Ruptura ou continuidade?

Pimenta lembra que o projeto político que fundou o Brasil propunha uma ruptura parcial com Portugal: embora se procurasse romper administrativamente com a metrópole, as pessoas que fizeram a independência pensavam que era necessário que o novo país fosse uma espécie de herdeiro dos colonizadores, numa espécie de discurso de conciliação. Eles viam em Portugal um conteúdo de civilização e de superioridade. “O Brasil, quando nasce nesse projeto político, ele puxa de Portugal uma ideia eurocêntrica, uma ideia de formação de uma sociedade branca; de exclusão parcial de quem não se encaixava perfeitamente nesses padrões”, afirma o historiador.

João Paulo Garrido Pimenta pesquisa a relação entre os processos de independência do Brasil e da América espanhola (Reprodução)
João Paulo Garrido Pimenta pesquisa a relação entre os processos de independência do Brasil e da América espanhola (Reprodução)

“Mas há que se lembrar que no Brasil houve também guerra. Ela pode ter sido menos destrutivas do que em partes da América espanhola, mas houve guerra de independência. Sobretudo em províncias como Bahia, Pará, Maranhão, Piauí, Província Cisplatina – que depois se tornou independente e formou o Uruguai em 1828”, chama a atenção. Pimenta estuda a independência do Brasil a partir de um ponto de vista que a conecta com o resto da América Latina e recorda ainda que, assim como nos países de colonização espanhola, também no Brasil houve participação popular no processo de independência.

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