IBGE registra queda da taxa de natalidade no Brasil

Para Fábio Betioli Contel, pode-se ressaltar dois pontos importantes no levantamento feito pelo instituto: a pandemia e a queda da taxa de fecundidade

 22/03/2023 - Publicado há 1 ano
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística registraram um recorde de mortes, o maior desde 1974, e queda de nascimentos, a maior desde 2003. “Ao contrário do que foi feito no último governo, é preciso levar a sério essas informações estatísticas que órgãos públicos brasileiros produzem. Elas são ouro para a gente implementar políticas públicas de maneira mais eficiente, de maneira mais ampla”, comenta o professor Fábio Betioli Contel, do Departamento de Geografia Humana da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. Para o profissional, pode-se ressaltar dois pontos importantes para esses processos: a pandemia e a queda da taxa de fecundidade.

A pandemia da covid-19 mudou o mundo e, consequentemente, o perfil demográfico. “Na história da geografia da população, pandemias são tidas como eventos de supermortalidade em populações. Então, historicamente, fomes, guerras e epidemias ou pandemias causam transtornos bastante importantes nesses padrões demográficos. No mundo inteiro, as estatísticas mostraram que algo em torno de 15 milhões de pessoas perderam a vida em consequência direta da pandemia e, no caso brasileiro, foram registrados quase 700 mil óbitos, é um número extremamente expressivo.

Fábio Contel – Foto: Arquivo Pessoal

Para alguns meses desse período mais difícil da pandemia, cerca de metade da população que morreu teve relação direta com a covid-19. Esse é um quadro geral, que ajuda a explicar porque aumentou tanto a quantidade de óbitos”, diz o professor. Felizmente, com a implementação de medidas sanitárias, como a quarentena e o uso obrigatório de máscaras, além da vacinação, os números diminuíram. “Soa um pouco paradoxal, porque ao mesmo tempo tem o aumento das mortes e a diminuição dos nascimentos. Acho que o principal fator para explicar essa diminuição da natalidade é a diminuição da taxa de fecundidade na população brasileira“, explica Contel.

Natalidade

A taxa de fecundidade corresponde ao número de filhos vivos nascidos por mulher na idade reprodutiva. “Na verdade, desde a década de 70, 80, vem diminuindo a taxa de fecundidade no território brasileiro de forma significativa. Na década de 60, por exemplo, essa taxa estava em torno de seis filhos por mulher; na década de 80, eram quatro filhos por mulher; no ano de 2000, essa taxa de fecundidade era de 2,2 e, em 2020, uma média de 1,65 filhos. Nós temos um comportamento demográfico hoje, principalmente nesse quesito de fecundidade, muito semelhante à maior parte dos países ricos. Essa taxa de fecundidade vinha diminuindo já por uma série de fatores estruturais, mas numa temporalidade diferente”, coloca Contel.

Fatores como o acesso ao sistema de saúde e à educação são fundamentais na promoção da transição demográfica e são, em parte, responsabilidade da urbanização. Por isso, é importante valorizar os dados do IBGE: “Ao invés destes últimos negacionismos, incluindo os negacionismos estatísticos que, infelizmente, foram moda no Brasil recentemente, a gente leva muito a sério esses dados. Eles são a condição básica, a condição fundamental para a gente implementar políticas de aposentadoria, de saúde, de educação, de moradia. São a condição fundamental para que a gente planeje tudo isso que é tão importante para o povo brasileiro”, pontua o professor.


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