O sol de Tomie

Por Diana Gonçalves Vidal, professora titular de História da Educação da Faculdade de Educação (FE) e diretora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP

 19/08/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 30/08/2019 as 14:44
Diana Gonçalvez Vidal – Foto: Marcos Santos / USP Imagens

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Na edição de 12 a 18 de setembro de 1994, o Jornal da USP, ainda na sua versão impressa, anunciava a inauguração do mosaico em pastilhas vítreas Vidrotil, de autoria de Tomie Ohtake, em 31 de agosto daquele ano, na antiga sede do Instituto de Estudos Brasileiros. A obra, de dimensões arrojadas (2,38 m de altura por 2,635 m de largura), cobria praticamente toda a parede ao final do amplo corredor de entrada do IEB e se beneficiava de iluminação natural, o que fazia resplandecer a miríade de pequenas gotículas de vidro incrustadas na alvenaria. Talvez por isso, o título da matéria então veiculada era “O sol de Tomie ilumina os 60 anos da USP e 32 do IEB”.

A presença do reitor Flávio Fava de Moraes, da própria Tomie, de seu filho Ricardo e da então diretora do IEB, Marta Rossetti Batista, dava o tom da relevância ao evento. A doação era resultado de encomenda do antigo diretor da casa, José Sebastião Witter, que assim se expressara: “Eu fiquei surpreso e feliz com o entusiasmo com que ela recebeu o convite para expor sua arte na Universidade”. Alegria partilhada por Tomie que, de acordo com a mesma matéria de 1994, dizia-se “feliz e grata pela oportunidade de ter um trabalho na USP”.

Passados 25 anos, no dia 28 de agosto de 2019, às 17h, a obra será reinaugurada no novo endereço do IEB, com a presença do reitor Vahan Agopyan e de Ricardo Ohtake. A data não foi escolhida a propósito. Ao contrário, apenas nos apercebemos da efeméride quando foi feito o levantamento da documentação para a divulgação da iniciativa. Desta vez, comemoramos os 85 anos da USP e os 57 do IEB.
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O mosaico em pastilhas vítreas Vidrotil, de autoria de Tomie Ohtake, no IEB – Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

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Transladar o mosaico e a parede que lhe dá sustentação de um a outro espaço do instituto não foi tarefa fácil. A delicadeza da peça, por um lado, e seu peso de 1,5 tonelada, por outro, impunham o trabalho de especialistas e a organização de uma severa logística. Para tanto, foi fundamental contar com o apoio de órgãos da Universidade, dos servidores técnico-administrativos do IEB e da equipe da empresa Julio Moraes. A Procuradoria Geral e a Superintendência de Espaço Físico foram acionadas dando suporte técnico às ações. Todos os setores do IEB se mobilizaram, auxiliando na operação.

A transferência da obra exigia não só atenção à sua integridade, como condutas de conservação e restauro, todas elas acompanhadas pela empresa Júlio Moraes, que executou o serviço de modo exemplar. Um sistema de iluminação acoplado à base, que agora, com rodinhas, permite o deslocamento da obra no espaço interno do IEB, foi uma complementação importante que facilita sua fruição por parte do espectador e seu reaproveitamento no edifício por parte da instituição.

A Divisão de Apoio e Divulgação filmou as várias etapas do processo, que durou aproximadamente 20 dias. No Serviço de Arquivo, foram localizadas duas fitas em VHS que registraram a inauguração ocorrida em 1994, além de fotos da execução da obra. Na reinauguração, será projetado um vídeo em que as imagens de agora se entretecem aos takes feitos há 25 anos. Disponível na página do IEB, o vídeo é um testemunho do engajamento do IEB e da USP com a preservação do patrimônio cultural. Evidencia o cuidado com a guarda e a preservação do acervo colocado sob nossa responsabilidade e com sua extroversão por meio de mídias impressas e digitais ao longo de mais de duas décadas.

No entanto, é preciso dizer que se todo o processo de transporte e instalação da obra no novo endereço no IEB levou menos de um mês, a gestão para que isso se tornasse realidade retroage a 2013. Iniciou-se ainda quando Maria Angela Faggin Pereira Leite era diretora do IEB e se estendeu pelas administrações de Ana Lucia Duarte Lana e Sandra Nittrini. Todas, de diferentes maneiras, estiveram empenhadas em dar celeridade ao processo. Entretanto, os desafios de mudança de todo o instituto e de seu magnífico acervo para a nova sede sobrepujaram seus esforços.

Na matéria de 1994, o Jornal da USP denominava a obra de “O sol de Tomie”. Nem a própria artista assim a considerava. Para ela, “a obra é apenas o que você está sentindo”. Deixava aberta à interpretação. Assumir aqui o mesmo título da publicação feita há 25 anos é uma maneira de retramar a narrativa que une o IEB e a artista plástica, a Universidade e o universo que circunda a produção em artes e reiterar o compromisso da USP com a disseminação da cultura.

 

 

 


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