De longe nós percebemos que ao lado da piscina acontecia alguma coisa incomum. Visitantes se amontoavam junto às grades da piscina, e dois funcionários se ocupavam de algo incompreensível. Um deles, com um grande pano, fazia alguns movimentos com as mãos no sulco de irrigação, e o outro, usando uma vassoura, contra-atacava dois quero-quero pernaltas, frenéticos em seus ataques. Ele podia ser compreendido: um pássaro quero-quero sisudo, de tamanho maior que corvos, dava-lhe bicadas na cabeça ou na cara, não poucas, aparentemente.
Ao nos aproximarmos, descobrimos o que estava acontecendo. Resultava de um filhote de quero-quero ter caído no sulco e de lá não conseguir sair. Um dos funcionários tentou agarrá-lo, mas o pedaço de penugem, do tamanho aproximado de um ovo de ganso, com patas exorbitantemente grandes, espertamente corria de cá para lá no sulco, esquivando-se com inteligência de tal pessoa estranha. Enfim o funcionário descobriu como obstruir com panos o sulco dos dois lados do passarinho. Depois disso, foi capaz de agarrar o passarinho, que lutava ferozmente.
No começo, o homem pretendia levar nas mãos o passarinho até o ninho, que ficava na terra, a cerca de 40 metros do lugar dos eventos, além dos arbustos. Mas os pais tão ferozmente o atacaram que ele preferiu colocá-lo no chão, ao lado do sulco, e retirar-se rapidamente.
No mesmo instante, os pássaros adultos desviaram sua atenção dele e concentraram-se no passarinho. A seguir, aconteceria a complexa operação de restituir o filho pródigo ao ninho. Os pássaros adultos desceram à terra e abriram as asas à esquerda do bebê, a única direção em que ele podia se mover livremente, e, como somente o filhote havia se dirigido para lá, ali mesmo fecharam as asas e lhe concederam a liberdade. Claro, ele precisou se mexer para sair de lá, mas, como qualquer criança, tudo o interessava e distraía: insetos rastejantes sobre a grama, uma borboleta flutuante, o farfalhar da relva. Portanto, a trajetória do seu movimento foi muito complicada e confusa. Ao passo que lhe custou finalmente desviar-se, os pais cercaram-no com suas asas, trazendo-o de volta ao caminho correto.
Especialmente difícil e arriscada foi a parte do trajeto entre a alta e resistente relva, onde poderiam se ocultar vários perigos, mas os pais milagrosamente conseguiram guiar seu filho através desse terreno.
Finalmente, depois de cerca de meia hora, o passarinho viu seu lar natal e se apressou alegremente até lá. No decurso de todo esse tempo, os visitantes da piscina assistiam inseparáveis ao que se passava e, quando o passarinho finalmente se encontrou no ninho, houve um suspiro geral de alívio e aplausos.
Passaram-se mais de vinte anos, mas nós nos lembramos perfeitamente de todos os detalhes desse incidente e não deixamos de nos maravilhar com a paciência e a delicadeza com as quais os pássaros adultos conduziram seu filhote. Parece-nos que as pessoas fariam bem em tomar para si algumas lições para a educação das novas gerações.
* Com tradução do russo de Alessandra Perez, doutoranda da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP