USP registra patente de técnica que pode substituir conservantes

Processo de encapsulação desenvolvido pelos pesquisadores preserva propriedades antimicrobianas do alecrim-pimenta

 21/08/2019 - Publicado há 5 anos
Propriedades do alecrim-pimenta (Lippia sidoides) já eram conhecidas na medicina popular, mas até então nenhuma forma de extração e manutenção dos princípios ativos da planta assegurava o rigor necessário para a garantia de resultados efetivos – Foto: Flickr-cc

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Tecnologia para a microencapsulação de compostos com atividade antimicrobiana extraídos do alecrim-pimenta (Lippia sidoides) acaba de receber registro de patente no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi). Já aprovados em diferentes testes laboratoriais, dois produtos gerados com a nova tecnologia também obtiveram patentes e estão prontos para se tornarem soluções nas indústrias farmacêutica, cosmética e de alimentos.

As conquistas, comemoradas no Laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento em Processos Farmacêuticos (Laprofar) da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP, são resultados de mais de 20 anos de atividades da equipe liderada pelo professor Wanderley Pereira de Oliveira. Integrante desse time, a farmacêutica Luciana Pinto Fernandes foi a responsável pelo desenvolvimento do método, agora patenteado, durante a realização de seu doutorado que apresentou ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da FCFRP em janeiro de 2009.

Professor Wanderley Pereira de Oliveira, líder da equipe que desenvolveu o estudo – Foto: Arquivo pessoal

Orientada pelo professor Oliveira, Luciana transformou em micropartículas tanto o óleo essencial quanto o extrato do alecrim-pimenta, através da técnica de secagem por atomização (spray drying). Segundo Oliveira, com o processo desenvolvido eles conseguiram extrair, padronizar e manter estáveis as substâncias com propriedades antimicrobianas do alecrim-pimenta, preservando os poderes da planta por um tempo superior aos obtidos por outros métodos.

Entre os diversos benefícios do processo de encapsulação, o professor Oliveira destaca o maior controle da liberação dos princípios ativos do alecrim-pimenta. Como a planta pode causar irritação de pele e mucosas quando em contato direto, o método proporciona segurança para esse tipo de uso. A técnica protege o óleo essencial da exposição ao oxigênio, luz e calor do meio ambiente, evitando a decomposição e a oxidação dos seus princípios ativos.

O alecrim-pimenta é abundante no Nordeste, mas também comum no Sudeste do Brasil. As características antimicrobianas e antifúngicas da planta são estudadas e a planta é popularmente usada, principalmente o chá de suas folhas. Porém, até então, nenhuma forma de extração e manutenção dos princípios ativos da planta asseguravam o rigor necessário para a garantia de resultados efetivos. Rigor este que a nova tecnologia agora anuncia, conforme garantem os pesquisadores do Laprofar.
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Uso na indústria

A obtenção da patente proporciona uma vasta gama de possibilidades para o uso dos compostos microencapsulados da planta em diferentes produtos das indústrias farmacêutica, alimentícia e cosmética. 

Considerada um poderoso antimicrobiano, a Lippia sidoides é vista com potencial para substituir vários conservantes em alimentos industrializados que, consumidos em excesso, podem causar problemas de saúde. 

O professor Oliveira acredita que o produto possa contribuir de forma efetiva na solução de sérios problemas de contaminação de carnes com as bactérias Salmonella e Listeria monocytogenes que nem sempre são solucionados com o uso de antibióticos (banidos nesta indústria em muitas nações) – vide a recente devolução de carne de frango pelo Reino Unido. O pesquisador lembra ainda que os antibióticos utilizados nas carnes causam resistência às bactérias e oferecem riscos à saúde, além de nem sempre resolverem a questão da contaminação.

Agência USP de Inovação

Para o processo de obtenção de patente os pesquisadores contaram com o trabalho e orientação da Agência USP de Inovação, o Núcleo de Inovação Tecnológica da USP responsável por gerir a política de inovação para promover a utilização do conhecimento científico, tecnológico e cultural produzido na Universidade.

Dentre as atividades realizadas, estão a proteção da propriedade intelectual, efetuando todos os procedimentos necessários para o registro de patentes, marcas, direitos autorais e software; apoio aos docentes, alunos e funcionários da USP na elaboração de convênios em parceria com empresas.

A Agência USP de Inovação também atua na transferência de tecnologias e trabalha por meio das incubadoras de empresas, parques tecnológicos e de treinamentos específicos a fim de promover o empreendedorismo, oferecendo suporte técnico, gerencial e formação complementar ao empreendedor.

Flávia Coltri e Rita Stella


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