O projeto conta com cerca de 46 pesquisadores associados em uma rede multidisciplinar, incluindo professores, sociólogos, filósofos, engenheiros, advogados, entre outros especialistas que analisam as diferentes dimensões e dilemas da inteligência artificial. Dessa maneira, o UAI ocupa diversas frentes de atuação, sempre apresentando um olhar crítico em relação às notícias relacionadas ao desenvolvimento tecnológico da inteligência artificial. O UAI é dividido em sete frentes: Ética, Estado & Setor Público, Governança, Sociedade & Cultura, Saúde, Regulação e Educação, nas quais reflete os desafios e possibilidades do uso da inteligência artificial.
A frente de Ética é comandada por João Cortese, professor de Filosofia no Instituto de Biociências da USP, apoiado pelo doutorando em Engenharia de Sistemas Complexos pela Escola Politécnica da USP Enio Alterman Blay. No UAI, o grupo busca explorar perspectivas éticas que possam orientar a discussão sobre o desenvolvimento responsável da IA para o benefício da sociedade. “Foi uma experiência muito boa fazer parte dessa comunidade, discutindo ideias e compartilhando conhecimento”, afirma Enio Blay.
A frente de Setor Público & Estado é comandada por João Ricardo, doutorando em Sociologia na Universidade Federal do Ceará e membro do Núcleo de Estudos em Economia, Tecnologia e Sociedade (Nets). No UAI, essa frente discute políticas públicas e sociais sobre a IA, numa perspectiva brasileira. Além de refletir sobre as responsabilidades do Estado como coordenador, regulador e usuário da tecnologia de inteligência artificial, atentando-se à influência da IA no desenvolvimento nacional, na manutenção da democracia e na estrutura burocrática do Estado. “Desenvolvemos uma abordagem que vai além da parte técnica, isto é, uma abordagem que considera os aspectos sociais, e, sobretudo, políticos da inteligência artificial”, afirma João Ricardo.
O site conta também com a frente de Governança, comandada por Paola Cantarini, mestre e doutora em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), e pesquisadora do The Alan Turing Institute. Esta frente tem o objetivo de oferecer uma discussão interdisciplinar sobre a IA , assim como apontar caminhos para processos de democratização do desenvolvimento tecnológico.
A frente de Sociedade e Cultura é liderada pela professora Veridiana Cordeiro, coordenadora do UAI, e do grupo de pesquisa CNPq Sociologia Digital e Inteligência Artificial, além de ser pesquisadora do Núcleo de Estudos da Violência (NEV-USP) e pesquisadora do Center for Artificial Intelligence – C4AI. Esta frente se dedica a apresentar uma perspectiva sociológica sobre os impactos da inteligência artificial na sociedade, destacando a maneira como essa tecnologia molda novas correntes culturais e novas relações econômicas.
“No primeiro ano do UAI fizemos um esforço em conectar pesquisadores que têm ou tiveram relação com a USP e que estejam pesquisando inteligência artificial no campo das Humanidades. A iniciativa tem sido frutífera no sentido de divulgar textos críticos e reflexivos sobre diferentes temáticas, além de promover eventos que ampliam e renovam o debate” declara Veridiana
A frente de Regulação é coordenada pelo advogado Leonardo Barbosa, que também é doutorando do Institute for Global Law and Policy de Harvard, que, junto ao UAI, busca entender questões jurídico-regulatórias, analisando o papel das instituições jurídicas e as capacidades estatais de regulação da inteligência artificial. Dessa forma, esta frente busca explorar a interseção entre direito e tecnologia, a fim de compreender as necessidades de adequações jurídicas que surgem com o avanço da tecnologia de inteligência artificial, ademais de atentar para estratégias de regulação na garantia de direitos e valores constitucionais.
Já a frente de Educação é coordenada por Flora Ariza, mestranda da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, que estuda como os algoritmos de inteligência artificial são usados nas escolas brasileiras. Esta frente visa analisar as aplicações de IA no campo pedagógico, refletindo sobre questões éticas nos usos da IA nos diferentes níveis de ensino, e discutindo como os interesses públicos e as demandas sociais podem ser atendidas pelo desenvolvimento e aplicações de IA no sistema educacional.
Ao longo de seu primeiro ano, o UAI fez postagens semanais, tendo produzido 23 notas críticas, 22 entrevistas com pesquisadores renomados, e compartilhado 73 notícias nacionais e internacionais de relevância na área, totalizando 118 postagens. O site também possui repositórios, que contam com textos cuidadosamente selecionados de cada uma das sete frentes abordadas no UAI. Cada repositório possui fontes confiáveis que oferecem um panorama completo de todas as áreas, promovendo assim a democratização do acesso a artigos, estudos e pesquisas relevantes, permitindo que a comunidade acadêmica e o público em geral se mantenham informados sobre as questões mais atuais e pertinentes relacionadas à inteligência artificial. Dessa forma, o UAI se afirma como uma plataforma essencial para o debate e a reflexão crítica em torno da tecnologia.
Outro destaque são as entrevistas inéditas com especialistas de diferentes países sobre as questões relacionadas à IA, como a entrevista com Mark Coeckelbergh, professor titular de Filosofia da Mídia e Tecnologia no Departamento de Filosofia da Universidade de Viena, na Áustria, filósofo da tecnologia e especialista na relação ética e inteligência artificial. Outro entrevistado foi Jacob Appel, um dos funcionários da empresa Orca, entidade especialista na auditoria de algoritmos, na análise de algoritmos que possam estar infringindo a lei e que desenvolvem frameworks regulatórios para evitar descriminação resultante de conteúdos gerados por inteligência artificial. Outras figuras renomadas foram entrevistadas, como Luciano Floridi, diretor do Centro de Ética Digital da Universidade de Yale, e Ann Cavoukian, diretora executiva do Centro Global de Privacidade e Segurança do Design Center. Algumas dessas entrevistas estão disponíveis no canal do YouTube UAI – Understanding Artificial Intelligence.
O grupo também organizou cinco eventos para debater o futuro e regulamentações das aplicações de IA, sendo dois desses seminários em parceria com instituições de ensino da União Europeia.
Nesse contexto, a coordenadora da iniciativa e professora do Departamento de Sociologia da USP, Veridiana Cordeiro, será uma das keynote speakers da 3ª International Conference on the Ethics of Artificial Intelligence, o que demonstra a influência do UAI nas discussões sobre inteligência artificial que acontecem no cenário acadêmico mundial. Além disso, no dia 5 de dezembro de 2024, no IEA-USP, teremos a presença do professor Steven S. Gouveia, pesquisador da Universidade de Ottawa no Canadá e da Universidade do Porto na palestra Black-Box Medicine: an Ethical Analysis’, que irá realizar uma fala sobre o uso da inteligência artificial na medicina, mediado pelo professor João Cortese. As informações desses eventos estão disponíveis tanto no site do Understanding Artificial Intelligence, quanto no canal do IEA-SP/RP.
Embora o UAI tenha nascido dentro do ambiente acadêmico, seu principal objetivo é trazer informações e debates para a sociedade brasileira sobre a temática da Inteligência Artificial. Para isso, o UAI ocupa as redes sociais como Twitter (@uai_iea_usp) e LinkedIn, onde conta com mais de 800 de seguidores. O UAI contribui, assim, para a formação de cidadãos mais informados e críticos sobre as constantes atualizações das funções de inteligência artificial.
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