A causa de morte, por exemplo, pode ter diversos códigos. Um deles, a “senilidade”, seria trocada pelo termo “velhice” na nova edição de 2022, a 11ª feita pela OMS, para atestar que as pessoas morrem disso como causa oficial.
No entanto, houve muitas críticas por causa dessa mudança, pois a velhice passaria a ser tratada como uma doença. Yeda Duarte, que é professora da Escola de Enfermagem (EE) e da Faculdade de Saúde Pública (FSP), ambas da USP, e coordenadora do estudo Sabe – saúde, bem-estar e envelhecimento, da FSP, explicou os problemas decorrentes disso.
“Foi uma troca infeliz, porque senilidade é ruim, mas bem ou mal está associada a doenças relacionadas ao envelhecimento. Velhice não tem nada a ver com isso. Velhice é um processo de vida, é uma fase da vida. Só isso”, ressalta.
A professora prossegue explicando que, no momento que se cria ou se adota um novo código na CID, significa que isso será visto como um problema de saúde e necessitará de um tratamento. Quando não se atesta corretamente a causa de morte, fragiliza-se “as pesquisas sobre melhores tratamentos […] e o preparo dos profissionais para atuarem com as pessoas idosas”, pondera.
Depois da pressão da sociedade civil, a OMS recuou e trocou o código “velhice” por “declínio da capacidade intrínseca associado ao envelhecimento”. Porém, Yeda destaca que o processo de envelhecimento “é resultado não só do que acontece intrinsecamente, mas também do que acontece extrinsecamente — as condições de vida em que eu vivi, as condições sociais nas quais eu nasci”.
Logo, seriam necessárias mais discussões para encontrar o termo adequado. “As pessoas precisam entender do que você está falando, para que possa ser utilizado. […] Essas coisas são modificadas com o tempo. O site da Organização Mundial da Saúde permite que você faça sugestões”, completa.
Chegando à velhice com qualidade de vida
O envelhecimento saudável relaciona-se diretamente com os hábitos no decorrer da vida — o que descarta o preconceito de que a passagem do tempo relaciona-se a doenças. Mas esse peso não está apenas nas decisões individuais.
Como explica a professora, a cultura tem grande peso nos hábitos que influenciam a saúde no decorrer dos anos. A título de exemplo, as pessoas que hoje têm 60, 70, 80 anos viveram em uma época na qual fumar era algo socialmente valorizado. Como consequência, sofrem de problemas relacionados a esse hábito, não à idade. “Hoje vivemos a geração Fit. […] Veremos daqui a pouco o efeito dos esportes de alto impacto na sobrevida das pessoas mais velhas.”
Por fim, Yeda destaca que muitos centenários chegam a essa idade com qualidade de vida graças às redes de amizades. Mesmo que alguns se vão por qualquer que seja o motivo, é importante manter contato com pessoas. “Renove a sua rede. Isso vai te manter ligado à vida e com melhor qualidade.”
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