Em 2012, o Ministério da Educação (MEC) criou o Sistema de Seleção Unificada (Sisu). A proposta é que as instituições públicas de ensino superior ofereçam vagas nos seus cursos de graduação para estudantes que participam do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado anualmente pelo MEC.
O Sisu realiza duas seleções anuais de candidatos, pois há instituições de ensino superior que realizam dois vestibulares no ano. Como muitas delas adotam ações afirmativas para o ingresso dos alunos, o sistema oferece duas opções: reservar vagas ou adotar bônus na nota. Neste caso, a instituição de ensino superior atribui uma pontuação extra a ser acrescida à nota obtida no Enem pelo candidato. O candidato beneficiado com a bonificação concorre com todos os demais inscritos em ampla concorrência.
USP no Sisu
A participação das instituições no Sisu é voluntária. No caso da USP, o Conselho Universitário aprovou, em junho de 2015, a adesão da Universidade ao sistema em caráter experimental, que passou a valer para aquele mesmo ano, na seleção de ingressantes para 2016.
Um fato histórico, já que, desde 1976, o ingresso nos cursos de graduação da USP dependia exclusivamente de seleção realizada pela Fuvest. A Universidade decidiu adotar a reserva de vagas como política afirmativa, ao invés do bônus na nota.
Foi limitado em 30% o máximo de vagas em cada curso e turno para participar do Sisu e coube a cada unidade a opção de aderir ou não ao sistema. Assim, do total de 11.057 vagas nos cursos de graduação da USP em 2016, 1.489 foram destinadas ao Sisu (13,5%) e 9.568 para a seleção da Fuvest (86,5%).
Das 42 unidades de ensino e pesquisa da USP, 32 aderiram ao ingresso pelo Sisu, somando, ao todo, 105 cursos participantes, que representam 58% do total oferecido pela Universidade.
Entre as unidades da USP que não participaram do Sisu nesta primeira experiência estão: a Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), a Escola Politécnica (Poli), a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), o Instituto de Química de São Carlos (IQSC), o Instituto de Física (IF), a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e a Faculdade de Odontologia (FO).
Fora essas, a Escola de Comunicações e Artes (ECA), a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) e o Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos (IAU) decidiram não aderir ao Sisu por possuírem cursos que exigem provas de habilidade específica.
Tipos de vagas
Além de definir quantas vagas destinariam ao Sisu, as unidades também escolheram o tipo de concorrência. Das 1.489 vagas oferecidas via Sisu, 1.038 (70%) foram destinadas a estudantes que completaram integralmente o ensino médio em escola pública (EP), 328 (22%) para ampla concorrência (AC) e 123 (8%) para egressos do ensino médio público autodeclarados pretos, pardos ou indígenas (PPI).
Para compreender essas modalidades de vagas adotadas pelo Sisu, é preciso entender a portaria do MEC que regulamentou o sistema de seleção. De acordo com essa portaria, as instituições podem oferecer cinco tipos de vagas, chamadas de AC, L1, L2, L3 e L4:
A USP deu como opções para suas unidades de ensino oferecer vagas apenas em três dessas modalidades: AC, L3 e L4. Duas dessas categorias foram renomeadas na Universidade: L3 passou para EP (escola pública) e L4 foi denominada PPI (pretos, pardos e indígenas).
Segundo o pró-reitor de Graduação, Antonio Carlos Hernandes, a opção por não adotar o critério de renda se justifica porque esses alunos seriam contemplados dentro da cota que envolve a escola pública.
Gustavo Campos, 19 anos
Estudante de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH)
Após dois anos de cursinho, Gustavo Campos se tornou em 2016 um calouro do curso de História. Morador do Jardim João XXIII, bairro localizado no extremo oeste de São Paulo, o estudante ingressou na USP por meio do Sisu, ocupando uma das vagas destinadas a alunos de escolas públicas, onde estudou toda sua vida.
Além da prova do Enem, necessária para o ingresso pelo Sisu, Gustavo também prestou o vestibular da Fuvest, no qual se candidatou ao curso de Administração e foi aprovado. Utilizou a bonificação do Inclusp, mas, mesmo sem a pontuação extra, teria sido aprovado na primeira fase.
Para o futuro historiador, a USP já deveria ter implantado o sistema de cotas raciais. “A desigualdade social na Universidade é muito presente. Na minha sala de aula, em geral, tem um ou dois negros”, relata. “Sempre estudei em escola pública, fiz um cursinho popular, levei dois anos para entrar. E a maioria das pessoas que passa por essa dificuldade é preta e pobre.”
Foto: Alexandre Gennari / SCS